“No dia seguinte João viu a Jesus, que vinha para ele, e disse: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo. Este é aquele do qual eu disse: Após mim vem um homem que é antes de mim, porque foi primeiro do que eu. E eu não o conhecia; mas, para que ele fosse manifestado a Israel, vim eu, por isso, batizando com água. E João testificou, dizendo: Eu vi o Espírito descer do céu como pomba, e repousar sobre ele. E eu não o conhecia, mas o que me mandou a batizar com água, esse me disse: Sobre aquele que vires descer o Espírito, e sobre ele repousar, esse é o que batiza com o Espírito Santo. E eu vi, e tenho testificado que este é o Filho de Deus.”
João 1, 29-34
„O Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo“ são palavras do Evangelho que ganharam um significado muito grande no cristianismo, tanto que se tornaram parte da missa católica. Mas estas palavras correm risco de serem mal-entendidas. Normalmente se pronuncia essas palavras com o desejo de que o Cristo tire nossos pecados, o pedido de receber a absolvição, para que nós fiquemos livres do pecado. Assim é em geral entendido, apesar das palavras do Evangelho dizerem claramente que o Cristo, o Cordeiro de Deus, tira o pecado do mundo, não de nós.
Para ter uma possibilidade de compreender o profundo significado dessas palavras, podemos ter a ajuda da Antroposofia. Rudolf Steiner reconheceu a atuação dupla dos erros que cometemos, se usamos o termo religioso, do pecado. Tudo o que fazemos tem um lado objetivo e um lado subjetivo.
O lado objetivo é o significado para o mundo: pelas nossas ações mudamos o mundo. Na atualidade temos uma consciência mais aguçada para este fato em relação ao meio ambiente. Mas também em um âmbito moral, o mundo é impregnado pelo que fazemos. Se jogamos uma pedra contra uma janela e o vidro se quebra, fica óbvio que mudamos o mundo. Mas, por exemplo, uma mentira também se impregna no mundo e o transforma. A mudança do mundo pelas nossas ações é o lado objetivo do pecado.
O lado subjetivo é a responsabilidade que temos por tudo o que fazemos. Enquanto crianças, não temos a possibilidade de assumir a responsabilidade por tudo o que fazemos. É a tarefa dos pais assumir a responsabilidade pelos erros dos filhos. Mas isto não pode ser assim uma vida inteira. Passo a passo, a criança deve aprender a assumir a responsabilidade por aquilo que faz. Um jovem tem de ter muito mais responsabilidade do que uma criança, e um adulto que não assume responsabilidade pelos seus atos não atingiu a maturidade.
Para nos conscientizarmos dos nossos erros, dos nossos pecados, é necessário distinguir entre o lado subjetivo e o lado objetivo.
Temos que assumir a responsabilidade por nossos atos, se queremos ser individualidades livres. E aquilo que não é possível assumir em uma vida, esperamos poder assumir numa próxima. Para isto nos acompanha a sabedoria dos guias espirituais, nos ajudando a formar o nosso carma.
Não nos é possível assumir a responsabilidade pelo ferimento que provocamos no mundo por meio dos nossos atos, notadamente em relação às consequências morais das nossas imperfeições. Para este lado objetivo das consequências do pecado, e só para este lado, precisamos da ajuda divina e podemos pedir ajuda ao Cristo, como „Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo“.
João F. Torunsky