Reflexão sobre o Evangelho de João, 21 de abril

“Nisto chegaram os discípulos e ficaram admirados ao ver Jesus conversando com uma mulher. Mas ninguém perguntou: ‘Que procuras?’, nem: ‘Por que conversas com ela?’.
A mulher deixou a sua bilha e foi à cidade, dizendo às pessoas: ‘Vinde ver um homem que me disse tudo o que eu fiz. Não será ele o Cristo?’ Saíram da cidade ao encontro de Jesus.
Enquanto isso, os discípulos insistiam com Jesus: ‘Rabi, come!’ Mas ele lhes disse: ‘Eu tenho um alimento para comer, que vós não conheceis’. Os discípulos comentavam entre si: ‘Será que alguém lhe trouxe alguma coisa para comer?’
Jesus lhes disse: ‘O meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e levar a termo a sua obra. Não dizeis vós: ‘Ainda quatro meses, e aí vem a colheita!’? Pois eu vos digo: levantai os olhos e vede os campos, como estão dourados, prontos para a colheita! Aquele que colhe já recebe o salário; ele ajunta fruto para a vida eterna. Assim, o que semeia se alegra junto com o que colhe. Pois nisto está certo o provérbio ‘Um é o que semeia e outro é o que colhe’: eu vos enviei para colher o que não é fruto do vosso cansaço; outros se cansaram e vós entrastes no que lhes custou tanto cansaço’.
Muitos samaritanos daquela cidade acreditaram em Jesus por causa da palavra da mulher que testemunhava: ‘Ele me disse tudo o que eu fiz’.
Os samaritanos foram a ele e pediram que permanecesse com eles; e ele permaneceu lá dois dias. Muitos outros ainda creram por causa da palavra dele, e até disseram à mulher: ‘Já não é por causa daquilo que contaste que cremos, pois nós mesmos ouvimos e sabemos que este é verdadeiramente o Salvador do mundo’”.
João 4, 27 a 42

“O presente capítulo contém uma preciosidade única, que encontramos tão só no Evangelho de João: o extraordinário diálogo de Jesus com a Samaritana.”
Frederico Lourenço

Nos primeiros versículos do capítulo quatro, encontramos várias referências dignas de uma leitura à parte para enriquecer o panorama no qual João insere este encontro/diálogo. Jacó: Gênesis 25, 19 a 50. E em João 4,10, ‘água viva’: Zacarias 14, 8; Jeremias 2, 13 e Ezequiel 47, 9.
Historicamente, temos um Jesus no início de sua atuação como Cristo na Terra. E imediatamente ele nos mostra à que veio e por meio de quem veio.
O diálogo com a Samaritana, ganha em majestosidade por indicar claramente a transição dos tempos. Aqui está o Filho do Homem, revelando através da alma da Samaritana: ‘Deus é espírito!’ Desde então o ser humano pode encontrá-lo em espírito e verdade. Ela reconhece o Messias e ele pronuncia pela primeira vez (exatamente no centro do quarto capítulo), o que poderíamos traduzir como: Eu sou o Eu sou.
A mulher samaritana anunciará ao seu povo a chegada do Messias. E muitos reconhecerão, por esforço próprio, o Ser que se apresenta à sua frente.
Os discípulos retornam. Agora os 12 são conduzidos através do diálogo com o Cristo a perceberem os mistérios do espírito.
Eles ‘elevam’ o olhar. Não significa que olhavam para o chão e agora erguiam a cabeça. E, sim, muito mais um indicativo do erguer o olhar para uma realidade espiritual. Qual realidade?
Com a samaritana o tema inicia na sede, água, água viva e estende um arco até a renovação dos tempos: Deus é espírito.
Com os discípulos o tema parte da fome, alimento, fazer a vontade de Deus e conduzir sua obra à meta. O arco que aqui se estende leva à elevação em espírito para a percepção da realidade espiritual.
‘Elevem seus olhos e observem os campos; eles já estão plenos de luz (tradução próxima ao texto em grego: brancos) para a colheita’.
Um campo foi semeado, as sementes germinaram, cresceram e deram frutos. Agora estão maduros para a colheita. Serão cortados. Passarão pelo processo da morte. Isto é oque veem nossos olhos físicos. Somos estimulados a olhar com nossos olhos da alma o que ocorre no espírito. A fronteira da morte encontra-se próxima à fronteira da vida. No espaço ‘entre’, pulsa o grande mistério divino: O momento da morte é o momento da vida…

“Em realidade trata-se da parte invisível do ser que se revela quando a parte visível atual decompõe-se. Se nos é revelado oque no momento é estado germinativo e invisível.”

Gérard Klockenbring

Tomamos parte no que foi semeado pelo Semeador espiritual para o ser humano. Podemos elevar nosso olhar para o espírito e nos transformarmos em trabalhadores da colheita de luz. Os processos de morte em nossa biografia, são germens de uma nova vida. A luz que colhemos do espírito, podemos semear por toda a humanidade.
O Semeador se alegra em conjunto com o trabalhador da colheita, mesmo sabendo que o campo semeado morrerá. Ambos conhecem o mistério da nova semente!

Viviane Trunkle