“Murmuravam, pois, dele os judeus, porque dissera: ‘Eu sou o pão que desceu do céu.’
E diziam: ’Não é este Jesus, o filho de José, cujo pai e mãe nós conhecemos? Como, pois, diz ele: Desci do céu?’
Respondeu, pois, Jesus, e disse-lhes: ‘Não murmureis entre vós. Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou o não trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia.
Está escrito nos profetas: E serão todos ensinados por Deus. Portanto, todo aquele que do Pai ouviu e aprendeu vem a mim. Não que alguém visse ao Pai, a não ser aquele que é de Deus; este tem visto ao Pai. Na verdade, na verdade vos digo que aquele que crê em mim tem a vida eterna. Eu sou o pão da vida. Vossos pais comeram o maná no deserto, e morreram. Este é o pão que desce do céu, para que o que dele comer não morra. Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém comer deste pão, viverá para sempre; e o pão que eu der é a minha carne, que eu darei pela vida do mundo.’
Disputavam, pois, os judeus entre si, dizendo: ‘Como nos pode dar este a sua carne a comer?’
Jesus, pois, lhes disse: ‘Na verdade, na verdade vos digo que, se não comerdes a carne do Filho do homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós mesmos. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia. Porque a minha carne verdadeiramente é comida, e o meu sangue verdadeiramente é bebida. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele. Assim como o Pai, que vive, me enviou, e eu vivo pelo Pai, assim, quem de mim se alimenta, também viverá por mim. Este é o pão que desceu do céu; não é o caso de vossos pais, que comeram o maná e morreram; quem comer este pão viverá para sempre.’”
João 6, 41-58
“Eu Sou o pão da vida” é a primeira das sete afirmações “Eu Sou” do Evangelho de João. Por ela adentramos no mistério do “Eu” divino e do “Eu” humano. Vemos que aqui não se trata do pão num sentido comum, mas da própria carne do Cristo, na qual o pão da Eucaristia se transubstancia e que tomamos parte na Comunhão. Nesse momento central da celebração do Ato cúltico, adentramos na profundidade do Mistério, mas isso não significa que não possamos vivenciá-lo a cada momento em que carregamos na consciência nossa ligação com o Cristo. O mistério de alimentar-se do Eu divino é o mesmo que nos torna conscientes de que nosso ser não é terreno, mas celeste, que somos filhos de Deus e que alcançar o “não eu, mas o Cristo em mim” equivale a tomar consciência de que a verdadeira vida não tem fim, mas é eterna. “vida eterna” tem aqui duas acepções. Uma é a ideia de um tempo infinito que se estende desde a criação e ultrapassa o limite da morte física. O outro é o de poder vivenciar a vida eterna no momento em que estamos intimamente ligados ao Cristo como fonte de vida. Assim, quando comemos do pão da vida, obtemos esperança, propósito e direção. Quando comemos do pão da vida, crescemos em paz, justiça e sabedoria. Quando comemos do pão da vida, sentimos conforto na angústia e vencemos o medo. Quando comemos o pão da vida, seguimos o exemplo de Cristo e desenvolvemos a capacidade de compaixão, a capacidade de amar. Essa relação fortalece nossa fé e fornece apoio e significado à vida, força perante as adversidades e crises.
Na crise atual, continuamos celebrando o Ato de Consagração do Homem, embora sem a presença física da Comunidade. No momento da Comunhão, o sacerdote permanece por um tempo em silêncio, distribuindo o pão e o vinho, imaginativamente para a Comunidade. Se os membros estão sintonizados e interiorizados nesse momento, recebem o pão da vida da mesma maneira como se estivessem presentes e tomassem parte na Comunhão. Tal é a força de Cristo, que não se limita às leis comuns do tempo e do espaço.
Carlos Maranhão