Reflexão sobre o Evangelho de João, 7 de maio

“Depois disso, Jesus percorria a Galileia; não queria andar pela Judeia, porque os judeus procuravam matá-lo. Estava próxima a festa dos judeus: A Festa das Tendas. Os irmãos de Jesus disseram-lhe:‘Sai daqui e vai para a Judeia, para que também os teus discípulos vejam as obras que fazes. Ninguém faz algo em segredo quando procura ser publicamente conhecido. Já que fazes essas coisas, manifesta-te ao mundo’. Pois nem os seus irmãos acreditavam nele.
Jesus, então, disse a eles: ‘Ainda não chegou o tempo certo para mim. Para vós, ao contrário, é sempre o tempo certo. A vós, o mundo não pode odiar, mas a mim odeia, porque eu dou testemunho dele, mostrando que suas obras são más. Vós podeis subir para a festa. Eu não subo para esta festa, porque meu tempo ainda não se cumpriu’. Dito isso, permaneceu na Galileia. Depois que seus irmãos subiram para a festa, Jesus subiu também, não publicamente, mas em segredo. Os judeus, no entanto, o procuravam na festa e perguntavam: ‘Onde está ele?’ Muito se murmurava a seu respeito no meio do povo. Uns diziam: ‘Ele é bom!’, outros: ‘Não, ele engana a multidão!’ Ninguém, entretanto, falava dele publicamente, por medo dos judeus.”

João 7, 1-13

Como um mosaico espiritual se nos apresenta o evangelho de João. Cada peça, colocada com precisão no lugar que só a ela pertence, forma uma magnífica composição de cores e formas. Nada está ali por acaso. Observar e compreender este mosaico espiritual, requer algumas vezes, olhar para o todo da obra, outras para os detalhes. Abrindo o capítulo, temos: “Estava próxima a festa dos judeus: A Festa das Tendas”. O que nos diz essa peça do mosaico?

סוכות. Sukkōt. Festa das Tendas. Tabernáculo
Em seus primórdios era um festejo realizado no início do outono para agradecer a Deus a colheita do ano e pedir o envio das águas para o próximo cultivo. Durante o período da colheita, as cabanas eram erguidas nos campos. Elas protegiam do sol do meio dia, serviam para festejos e também para o pernoite.
Com a fuga do Egito e os quarenta anos de peregrinação no deserto, a Festa das Tendas é acrescida de significado. Recordar e vivenciar a época onde o povo judeu viveu como nômade em tendas simples e recebia alimento e água enviados por Deus. Eram (e são) erguidas tendas ao ar livre constituídas de palha ou folhagem, que possibilitavam ver o céu. Por sete dias o povo vivia nas cabanas construídas. Pela manhã fluía uma imensa multidão para a piscina de Siloé. Sacerdotes enchiam um grande jarro de ouro com as águas da piscina e seguiam em procissão atravessando o vale do Quidrom até o átrio do templo, onde se reuniam na grande esplanada. Lá chegando, todos soltavam gritos de alegria e o sacerdote realizava a oblação. Para finalizar, ele despejava a água da piscina de Siloé em uma vasilha com furos. A água saltava dos diversos furos e molhava o local próximo. Depois, ele vertia vinho em uma vasilha de prata e assim como deixava, de certa forma, a fonte de água borbulhar para o oeste; ele deixava fluir o vinho da vasilha de prata para o leste, aspergindo o povo com esta bebida do sacrifício.
Esta é uma pequena pedrinha do mosaico.
Para esse imenso festejo os irmão de Jesus queriam que ele se dirigisse. Queriam que ele se mostrasse como o Messias em sua majestosidade. Eles ainda aguardavam o dia onde ele se revelaria como o Salvador do povo judeu. Ainda não haviam percebido que a missão do Messias era (é) a salvação da humanidade.
Ele sabiamente responde: “Ainda não chegou o tempo certo para mim”, e pouco depois – “Meu tempo ainda não se cumpriu.”
Assim como os grãos de trigo precisam amadurecer em suas hastes douradas, precisam ser colhidos, malhados, moídos para serem transformados em farinha, em pão; aquele que veio a ser o Pão da vida necessitou seu período de amadurecimento. Encarnou seu Ser Solar no corpo físico de Jesus, para somente depois passar pelo martírio, morte e ressurreição. Aparecer abertamente como Ser Solar no festejo do Sukkot, seria como um Domingo de Ramos prematuro. E sabemos que o caminho de Jesus de Nazaré é o oposto almejado por muitos que não o compreendiam. Em lugar das riquezas físicas, a pobreza, em lugar do culto ao ego, o equilíbrio do eu superior, em lugar de ser um rei na Terra, um servo do Deus Pai.
Este Ser permeia a festa do Sukkot de maneira invisível.
Uma bela imagem para nós, seres humanos modernos: As cabanas construídas não tem compartimentos e são bem pequenas, ela obriga quem ali habita (por sete dias) a se aproximar física e afetivamente. As cabanas são construídas de maneira que se possa ver as estrelas. Entra chuva e vento, mas também a luz do sol. Ela é simples, sem luxo algum e perene, efêmera.
Podemos formar cabanas com nossos familiares, grupos de amigos, nossos próximos. Elas nos unem em fraternidade e calor humano. No teto translúcido, sob nossas cabeças, as estrelas, o mundo divino espiritual será evocado em orações de gratidão, pedidos de proteção e esperançar pela redenção de todos nós. Ao raiar o dia o Ser Solar, agora sim visível e perceptível, virá, e preencherá nossos corações com centelhas de amor.

Viviane Trunkle