Havia uma vez uma aldeia na África situada em um lindo vale ao pé de uma alta montanha, cujo pico sempre estava coberto de neve. A aldeia era liderada por um homem chamado Mbongo. Mbongo havia sido escolhido, muito jovem ainda, como o líder daquela aldeia por sua força. Não apenas sua força física, mas por sua força do coração. Ele era um homem generoso, preocupado com as necessidades de todas as famílias e sempre pensava no bem-estar das pessoas que viviam na aldeia. A vida era simples, as famílias plantavam suas verduras e seus grãos em hortas e campos comunitários e obtinham sempre o suficiente para se alimentar. A vida transcorreu deste modo durante muitos anos. Aconteceu, porém, que de repente as chuvas cessaram, a terra começou a ficar seca, as plantações definharam e as pessoas já não conseguiam retirar da terra o alimento necessário. Inclusive as florestas e as matas em volta da aldeia começaram a diminuir de tamanho, os animais foram embora e a água foi escasseando. O povo da aldeia permanecia naquele lugar porque da alta montanha descia um riachinho, provindo da neve que se derretia no alto. A neve derretida, transformada em água, corria pelo riacho próximo à aldeia. Com a seca prolongada, a água também diminuiu de quantidade. Todos na aldeia se perguntavam: “Quanto tempo mais conseguiremos sobreviver neste lugar? Se a terra está ressecando, se não conseguirmos mais produzir alimento suficiente e se a água começar a faltar, será impossível viver aqui!”.
Quem mais se preocupava com tudo isso era Mbongo. Por ser o líder da aldeia, a ele cabia tomar a difícil decisão: Abandonar tudo, montar a aldeia em outro lugar ou permanecer ali. Essa preocupação era muito grande para Mbongo. Ele conversava com as famílias e percebia o sofrimento de todos. Era o desejo de todos poder permanecer ali porque amavam aquela terra, o vale era bonito, tinham a linda vista da grande montanha, que era algo maravilhoso, portanto não queriam partir, esperavam que as chuvas voltassem logo. Os dias e as semanas iam passando e a chuva não retornava.
Às noites, Mbongo se sentava à entrada da sua cabana e olhava longamente para o alto da montanha. Às vezes via uma estrela cadente passar bem próxima ao pico. Dava a impressão que talvez caísse lá por cima. Foi assim que ele se lembrou de algumas histórias que ouviu quando criança. Diziam os antigos que naquela montanha caiam muitas estrelas cadentes. Quando se deseja muito que uma coisa se realize, deve-se pedi-la a uma estrela cadente. Naquele instante, Mbongo pensou: “Vou subir a montanha, talvez consiga fazer um pedido a uma estrela cadente.” No dia seguinte, conversou com todos na aldeia, alguns riram um pouco, outros não acreditaram, só as crianças disseram para Mbongo: “Isso mesmo, chefe Mbongo, vá até lá e pede para as estrelas cadentes coisas boas para nós, pede chuva, pede outras coisas também!” Mbongo decidiu então que subiria a montanha.
Começou a escalada, de início o caminho era suave, mas à medida que subia, a montanha se tornava cada vez mais íngreme, mais inclinada e os caminhos mais difíceis. Mbongo decidiu fazer a escalada seguindo o curso do riacho que levava água à sua aldeia. Havia partido cedo e andara o dia inteiro, caminhara bastante e estava entardecendo. Mbongo sabia que não chegaria ao pico da montanha naquele dia, teria que passar a noite ali. Já estava ficando escuro quando ele encontrou um lugar para pernoitar, era uma plataforma de rocha bem escura. O riachinho passava ao lado. Mbongo juntou uns poucos gravetos, acendeu uma fogueira para se aquecer durante a noite e se proteger do vento frio do alto da montanha. Sentou-se ao lado do fogo e ficou olhando o céu. Viu várias estrelas cadentes caírem no pico da montanha. Ficou alegre e pensou: “Tomara que eu encontre alguma delas lá em cima, vou pedir para que a chuva volte e que não precisemos abandonar nossa terra.”
Enquanto olhava as estrelas caírem, não percebeu que havia alguém ao seu lado; levou um grande susto quando viu uma figura de pé ao seu lado. Era um homem muito velho, tão velho que não era possível imaginar sua idade. Estava vestido com uma túnica clara, resplandecente, que brilhava na escuridão da noite como se tivesse luz própria. A pele daquele homem era escura, escura como a rocha da montanha; seus cabelos e sua barba eram brancos como suas vestes, brancos como a neve que cobria o alto da montanha. Mbongo quando o viu ficou um pouco assustado e perguntou: -“Quem é você? De onde você vem?”
-“Este lugar é minha casa, disse o ancião, eu sou o guardião da montanha. O que você está fazendo aqui em cima? Raramente alguém sobe até aqui! ”
Mbongo contou que era o líder daquela aldeia no vale e que havia subido porque estavam ficando sem água pela falta das chuvas. Ele queria fazer um desejo às estrelas cadentes que caíam no alto da montanha. O velho o ouviu com atenção e disse: – “Para fazer um desejo, você precisa agarrar uma estrela cadente e pedir para ela as sementes da esperança.”
– “Sementes da esperança?” – exclamou Mbongo – “eu nunca ouvi falar sobre isso!”
– “Cada estrela cadente traz à Terra milhares de sementes da esperança, primeiro você precisa agarrá-la, somente então elas entregam as sementes.”
– “Como eu faço isso?”
– “Isto é possível somente no alto da montanha.” – disse o ancião e acrescentou: “Não sei, porém, se você será capaz de fazê-lo. Eu me lembro que os antigos chefes de aldeias, em tempos passados, conseguiam. Sozinhos, seguravam uma estrela cadente e obtinham dela as sementes da esperança, mas já faz muito tempo que os homens deixaram de acreditar nisto e pararam de subir a montanha.” – comentou o ancião com certa tristeza.
– “Eu não tenho medo, meu povo diz que sou forte, eu vou conseguir.”
– “Muito bem, Mbongo” – misteriosamente o ancião sabia como ele se chamava! – “Suba até o pico e fique esperando que passe uma estrela cadente, levante bem os braços quando ela estiver passando e tente segurá-la. Talvez você consiga as sementes da esperança.”
Mbongo ficou muito contente com aquela notícia. Pretendia, no dia seguinte, subir ao pico e aguardar lá de cima a passagem de uma estrela, para tentar segurá-la e pedir-lhe as sementes da esperança. Ele estava seguro que com tais sementes, seu povo teria o que precisava: a esperança de não ter que deixar aquela terra.
Renato Gomes