Reflexão sobre o Evangelho de João, 12 de maio

“E no último dia, o grande dia da festa, Jesus pôs-se em pé, e clamou, dizendo: ‘Se alguém tem sede, venha a mim, e beba. Quem crê em mim, como diz a Escritura, rios de água viva correrão do seu interior.’
E isto disse ele do Espírito que haviam de receber os que nele cressem; porque o Espírito Santo ainda não fora dado, por ainda Jesus não ter sido glorificado. Então muitos da multidão, ouvindo esta palavra, diziam: ‘Verdadeiramente este é o Profeta.’ Outros diziam: ‘Este é o Cristo’; mas diziam outros: ‘Vem, pois, o Cristo da Galileia? Não diz a Escritura que o Cristo vem da descendência de Davi, e de Belém, da aldeia de onde era Davi?’
Assim entre o povo havia dissensão por causa dele. E alguns deles queriam prendê-lo, mas ninguém lançou mão dele. E os servidores foram ter com os principais dos sacerdotes e fariseus; e eles lhes perguntaram: ‘Por que não o trouxestes?’
Responderam os servidores: ‘Nunca homem algum falou assim como este homem.’
Responderam-lhes, pois, os fariseus: ‘Também vós fostes enganados? Creu nele porventura algum dos principais ou dos fariseus? Mas esta multidão, que não sabe a lei, é maldita.’
Nicodemos, que era um deles (o que de noite fora ter com Jesus), disse-lhes:
‘Porventura condena a nossa lei um homem sem primeiro o ouvir e ter conhecimento do que faz?’
Responderam eles, e disseram-lhe: ‘És tu também da Galileia? Examina, e verás que da Galileia nenhum profeta surgiu.’”

João 7, 37-52

Todos nós experimentamos de uma sede que a água comum não pode saciar. Podemos tentar sublimar essa sede, podemos tentar substituir por paliativos que nos possam distrair por algum tempo, mas permanece o anseio por uma relação verdadeira com o divino. Mas o Cristo não quer apenas satisfazer essa sede, pois ele considera cada um de nós em nossa particularidade, não apenas para que sejamos saciados, mas que rios de água viva fluam de nosso interior, não apenas uma felicidade difusa, mas o verdadeiro entusiasmo pela vida e pelo que podemos fazer a partir disso, para que a partir de nós flua para o mundo, por meio de nós, o que Cristo quer trazer para o mundo. Ele não vê nossa mera satisfação, mas o potencial de nossa obra a partir do sentimento de união com ele. A água viva é o Espírito Santo que fluía dele enquanto ainda não partira, mas que depois enviou para os discípulos em Pentecostes, e nos envia desde então. O vazio que sentimos na vida, só pode ser preenchido por uma relação genuína e significativa com Deus. A controvérsia que se segue de uns o reconhecerem como profeta e outros como impostor, se dá apenas pelo fato de aqueles que se fixam em leis do passado, estarem cegos pelo que não se permitem experimentar. É mais fácil ter respostas prontas do passado, leis, dogmas com fórmulas preestabelecidas. Mas essas nos cegam, pois não nos permitem vivenciar a relação com o próprio Cristo. Como diz Nicodemos: “Vamos condená-lo, sem nem ao menos ouvi-lo e ter conhecimento do que faz?”. Nicodemos sabia do que estava falando, pois já o experimentara em seu encontro noturno com o Cristo (João 3,1-2). Assim, não necessitamos acreditar em relatos externos, mas estar abertos para vivenciar e, a partir daí, saber por nós mesmos a verdade.

Carlos Maranhão