Reflexão sobre o Evangelho de João, 30 de maio

“E em Jerusalém havia a festa da dedicação, e era inverno. E Jesus andava passeando no templo, no alpendre de Salomão. Rodearam-no, pois, os judeus, e disseram-lhe: ‘Até quando terás a nossa alma suspensa? Se tu és o Cristo, dize no-lo abertamente.’ Respondeu-lhes Jesus: ‘Já vo-lo tenho dito, e não o credes. As obras que eu faço, em nome de meu Pai, essas testificam de mim. Mas vós não credes porque não sois das minhas ovelhas, como já vo-lo tenho dito. As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu conheço-as, e elas me seguem; e dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará da minha mão. Meu Pai, que mas deu, é maior do que todos; e ninguém pode arrebatá-las da mão de meu Pai. Eu e o Pai somos um.’”

João 10, 22-30

“As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu conheço-as, e elas me seguem”. O ponto crucial é ouvir a voz de Cristo, e ouvindo-a ser conduzido. Se não ouvimos sua voz, somos como ovelhas dispersas, que ouvem muitas vozes e não conseguem distinguir, entre essas vozes, a voz do pastor, e portanto, estão perdidas sem saber em que direção ir, estão desnorteadas, sem rumo. Muitos temem a ideia de ouvir uma voz externa e ser conduzidos por ela numa direção alheia à sua vontade. Sobretudo em nossa época, quando cada vez mais, a vontade própria quer soberania, liberdade de escolha. Ninguém quer ser doutrinado, aliciado, convencido. Mas muitos seguirão vozes estranhas, crendo que de fato correspondem a sua verdadeira consciência. Mas a voz de Cristo é a voz do Espírito Santo e ouvi-la significa ouvir a voz do pensar superior, a voz do Logos. Só essa é a voz da própria consciência. Só ela pode conduzir cada um de nós em seu verdadeiro destino, só ela conduz à liberdade. Liberdade, palavra cara e, no entanto, tantas vezes malograda, pois permanecemos acorrentados a tantos enganos. Não digo apenas aos desejos incontrolados, pois não é difícil perceber que cabe a cada um reconhecer suas amarras para poder se libertar delas num trabalho disciplinado de autoconhecimento. Mas sobre valores, convicções e discernimento do caminho a seguir, há tantos enganos, que se procedemos a ouvir alguma voz sedutora que nos promete o paraíso, sem antes ter feito um trabalho de ouvir, no interior da alma, à verdadeira voz da consciência que não se distingue da voz do Cristo, podemos nos enganar e ser conduzidos não ao paraíso, mas ao abismo. Em Pentecostes, os primeiros discípulos de Cristo receberam o Espírito Santo, na forma de línguas de fogo sobre cada uma de suas cabeças. Isso permitiu que compreendessem qual era sua verdadeira missão de apóstolos e se puseram a cumprir sua missão. Essa vinda do Espírito Santo não foi exclusivamente para os discípulos imediatos, mas para os discípulos de todos os tempos que se colocam no caminho de Cristo. Também a esses está, e sempre estará, disponível a voz do Cristo. Seres humanos queiram ouvi-la!

Carlos Maranhão