Reflexão para o domingo, 30 de agosto

Referente ao perícope de Marcos 7, 31-36

“E ele, tornando a sair dos termos de Tiro e de Sidom, foi até ao mar da Galiléia, pelos confins de Decápolis. E trouxeram-lhe um surdo, que falava dificilmente; e rogaram-lhe que pusesse a mão sobre ele. E, tirando-o à parte, de entre a multidão, pôs-lhe os dedos nos ouvidos; e, cuspindo, tocou-lhe na língua. E, levantando os olhos ao céu, suspirou e disse: Efatá; isto é, Abre-te. E logo se abriram os seus ouvidos, e a prisão da língua se desfez, e falava perfeitamente.
E ordenou-lhes que a ninguém o dissessem; mas, quanto mais lhos proibia, tanto mais o divulgavam.”

Marcos 7, 31-36

A audição e a fala são dons que temos e estão intimamente relacionados um com o outro. Quando falamos, nos escutamos a nós mesmos. E quando escutamos alguém falando, nossas cordas vocais vibram simultaneamente. Na realidade, quando ouvimos uma outra pessoa falando, não apenas as nossas cordas vocais vibram: nosso corpo inteiro vibra muito suavemente também. Fisiologicamente não existe um ‘falar sem ouvir’, tampouco um ‘ouvir sem falar’. Falar e ouvir são como dois lados de um todo. Vemos na fisiologia, assim como em tantas outras situações, que recebemos inconscientemente uma sabedoria do nosso corpo, tal como uma orientação para aquilo que temos de desenvolver conscientemente em nossa alma: a audição e a fala necessitam estar intimamente relacionadas, uma com a outra.
Aquilo que não é possível fisiologicamente, pode se tornar o normal animicamente. Que, quando escutamos o outro falar, não estamos realmente ‘vibrando’, no íntimo, com aquilo que ele está nos dizendo. Quantas vezes, enquanto escutamos o outro, estamos pensando os nossos pensamentos, sentindo os nossos sentimentos. Estamos com a boca cerrada, mas ao mesmo tempo falando em nosso íntimo e não estamos, realmente, escutando o outro. Nos admiramos, então, que não compreendemos o outro.
Quando falamos para o outro, quantas vezes não estamos, na verdade, escutando aquilo que estamos dizendo, ou seja, não estamos ponderando o significado que a nossa fala terá para o outro, não estamos sentindo as consequências que as nossas palavras terão para o relacionamento. Nos admiramos, então, que o outro não nos compreenda.
Podemos ouvir e falar no âmbito do nosso corpo, mas corremos o risco de sermos surdos e mudos no âmbito das nossas almas.
O que nos pode ajudar nessa situação é aquilo que o Cristo Jesus falou para o surdo e mudo, quando o curou: “Efatá, isto é, Abre-te.”
Não são os nossos ouvidos que têm de se abrir para que possamos ouvir. Não é a nossa boca que tem de se abrir para que possamos falar. O que tem de se abrir é o nosso coração. Com os ouvidos podemos ouvir o que o outro está nos dizendo. Com o coração podemos compreender o que o outro está querendo nos dizer. Com a boca podemos falar o que queremos dizer. Com o coração podemos ponderar como nós devemos dizer, para que o outro possa nos compreender.
Assim podemos sentir o Cristo Jesus falando para nós: Efatá, isto é, abre o teu coração, quando estiver ouvindo; abre o teu coração quando estiver falando.

João F. Torunsky