Há muito tempo atrás numa aldeia, viviam três camponeses que eram muito bons amigos. Certo dia eles ouviram dizer que havia nascido o Menino-Deus, lá em Belém, num curral. Contaram também do milagre que aconteceu quando, por onde Maria havia pisado, nasceram pequenas florezinhas brancas e brilhantes que mais pareciam estrelinhas luminosas caídas do céu. Animados os três amigos disseram:
– Para lá também iremos!
Pegaram seus casacos, seus gorros – pois lá fora fazia muito frio – e já estavam quase saindo quando um deles disse: – Não levaremos nada para a criancinha? Dizem que seus pais são muito pobres.
– Ó sim, disse Knut, o mais velho. eu levarei uma garrafa de leite fresquinho.
– E eu levarei um pouco de açúcar e de semolina para que sua mãe lhe faça um mingau bem docinho – disse Holley, o do meio.
Hannes, o mais novo, ficou pensando no que levar. Foi quando viu em cima da mesa o cesto de ovos que acabara de colher no galinheiro e disse:
– Eu levarei uma cesta de ovos – e colocou entre eles feno bem cheiroso para que não se quebrassem no caminho.
Os três então partiram, levando consigo suas lanternas, pois já estava escurecendo. Iam caminhando com pressa pois não viam a hora de conhecer o Menino-Deus. Já tinham andado um bom trecho quando encontraram uma criança sentada num tronco de árvore, chorando.
– O que tens, porque choras? – perguntaram os camponeses ao menino.
– Está escuro e não consigo encontrar o caminho de volta para casa. Meus pés e minhas pernas estão doendo e estou tão cansado que nem consigo mais andar.
Hannes olhou bem para o menino e disse:
– Eu te conheço, você não é o filho do moleiro? Venha Holley, pegue minha lanterna e o cesto de ovos que eu carrego o menino para casa.
– Ah não – disse Knut – eu não vou com vocês, pois o moleiro mora muito longe daqui e eu quero ser o primeiro a ver o Menino-Deus.
– Espere um pouco – disse Hannes – andaremos rápido e logo estaremos de volta!
Mas Knut nem ouviu seus dois amigos e saiu correndo morro abaixo. Chegou numa encruzilhada e, como não sabia qual caminho tomar, uma rajada de vento apagou sua lanterna e, desorientado, ele só encontrou o caminho que o levou de volta para sua casa.
Hannes e Holley chegaram logo ao moinho e encontraram os pais do menino muito aflitos, procurando e chamando por ele. Aliviados, abraçaram o filho e agradeceram muito aos dois camponeses.
Os dois amigos retomaram então o seu caminho pela estrada, até que se embrenharam pela floresta. Já estava muito escuro e somente as estrelas cintilavam por entre as árvores. De repente Hannes segurou Holley e disse:
– Psiu, tem alguma coisa se mexendo por trás daquele arbusto!
Devagarinho, com cuidado, foram se aproximando quando viram um veadinho por trás das folhagens. O coitadinho parecia estar machucado, pois nem se movia. Parecia ter machucado uma perna, pois não conseguia se levantar.
Hannes ficou ali pensando em como ajudar o animalzinho. Holley, porém, foi logo dizendo:
– Vamos continuar nossa caminhada, não podemos perder mãos tempo, não quero ser o último a ver o Menino-Deus!
Como Hannes ficou parado, Holley foi embora sozinho atravessando a floresta. Chegando a uma clareira, soprava um vento tão forte que apagou a sua lanterna. Desorientado na escuridão, só encontrou o caminho que o levou de volta para casa.
Enquanto isto, Hannes pegou um graveto, rasgou um pedaço do seu lenço e com eles fez uma atadura para do bichinho. Depois carregou-o para uma pequena caverna, onde ficaria protegido do vento frio da noite. Pegou um pouco de água do seu cantil, colocou nas mãos e deu de beber ao veadinho que estava com muita cede. E pensou:
– O bichinho deve estar com fome… – e lembrou-se do feno que havia colocado entre os ovos; pegou com cuidado da cesta e deu de comer ao veadinho que comeu com vontade.
Tranquilo, pegou o cesto com os ovos, a lanterna e retomou a caminhada para levar seu presente ao Menino-Deus.
Quando Hannes saiu da floresta, viu que a luz da sua lanterna estava diminuindo e logo a chama se apagou. Temendo perder o caminho, ou mesmo tropeçar em alguma pedra, ou cair num buraco, foi andando bem devagarzinho olhando atentamente para o chão, quando viu um pouco adiante uma florzinha branca, brilhante como uma estrela. Ao acercar-se dela, notou que havia outra um pouco mais adiante e assim foi seguindo as florezinhas, percebendo, cheio de alegria, que as florezinhas foram as que nasceram aos pés de Maria e lhes indicariam o seu paradeiro.
Finalmente avistou o curral e já de longe ouviu o maravilhoso canto dos anjos. Com suas flautas, violinos e harpas tocavam melodias jubilosas, jamais ouvidas por ele.
Da manjedoura irradiava uma intensa luz, onde Maria deitara a Criança Divina. Maria acenou para que ele chegasse mais perto e Hannes aproximou-se devagarinho e, ao ver o lindo Menino, sentiu-se como um sedento a saciar a sede e como um faminto a saciar a fome.
Estava tão feliz e contente que não conseguia tirar os olhos do Menino Jesus, de tão lindo que Ele era!
Até que se lembrou que havia levado um presente para o menininho. Pegou a cesta de ovos e a entregou a Maria dizendo:
– Somente uns ovos eu trago para a criancinha, como gostaria de dar-lhe algo melhor e mais bonito! Então perguntou a Maria:
– O que será que o menino Jesus desejaria?
Maria sorriu e lhe disse:
– Os homens tem muitos desejos, mas o Menino Jesus tem um só: que todos os homens da Terra, pequenos e grandes, se amem e se entendam.
Depois, olhando para a lanterna de Hannes, disse:
– A luz da sua lanterna se apagou. Aqui tens uma vela para reacende-la e regressar à sua casa.
Hannes agradeceu a Maria, inclinou-se diante do Menino Jesus e, radiante de alegria, com o coração cheio de luz, saiu do curral. Porém, olhando para a velinha que Maria lhe havia dado, pensou:
– Com esse toquinho de vela não conseguirei ir muito longe…
Entretanto, depois de ter caminhado por longo tempo sobre os vales e montanhas, percebeu com admiração que o toquinho de vela não tinha se apagado, apesar do vendo e da tempestade balançarem a lanterna para lá e para cá.
Chegou em casa muito feliz e agradecido por tudo que havia vivenciado. Sua esposa, contente lhe disse:
– Graças à Deus que estás em casa pois, com essa tempestade, temi que a sua luz se apagasse e não encontrásseis o caminho de volta.
Então ela ajudou-o a tirar o casaco, o gorro, e serviu-lhe um chá quentinho enquanto ele se aquecia ao lado da lareira. Hannes contou-lhe tudo sobre o Menino Jesus, sobre o maravilhoso canto dos anjos, sobre as florezinhas brancas e brilhantes que lhes indicaram o caminho e também sobre a vela que havia ganhado de Maria e que não apagara nem com a tempestade.
Quando finalmente foram dormir, tentaram apagar a vela da lanterna, mas esta não queria se apagar, e não se apagou, e continuou brilhando no dia seguinte, e no outro, e no outro, e assim por muito tempo.
Certo dia, porém, quando a mulher foi à cozinha para preparar o café da manhã, reparou que a vela da lanterna estava apagada. Então foi acordar o seu esposo e viu que ele tinha se posto a caminho, a seu último caminho, levando a luz consigo, de volta para o céu.
Conto: Rosa Huettner
Tradução: Jacy Mendonça
Adaptação: Karin Stach e Viviane Aranha