Reflexão para o domingo, 21 de novembro

Época de Trindade

Referente ao perícope de Apocalipse 21


Quando no inverno severo a vida já se retirou da atmosfera e as folhas caíram e pereceram no chão, os botões de muitas árvores já estão prestes a anunciar o futuro e novo ciclo de vida! Como é tão diferente quando o ser humano olha hoje para a extensão da destruição da natureza em vários locais da Terra, bem como para a miséria de tantas pessoas com fome e em fuga, e para os abismos sombrios da alma humana! Será que nestas situações ainda se pode reconhecer algo que poderia inaugurar uma nova fase de vida?

Estará a humanidade à beira da decadência total, da destruição total? Será que o nosso legado para as próximas gerações será apenas a falta de esperança e perspectiva?

Ao escrever o Apocalipse, João se encontrava numa profunda crise de vida. Tinha sido banido para sempre para o exílio na natureza inóspita e selvagem da ilha de Patmos, para a solidão. Além disso, a perseguição impiedosa dos cristãos estava se espalhando por todo o Império Romano.

No entanto, não tinha João estado ao lado de Jesus Cristo na Última Ceia? Também como testemunha ao pé da cruz, não foi ele que ouviu então as palavras de Cristo? Não foi ele que viu o sangue vivo fluir do Seu coração após o Seu último suspiro? Não encontrou ele o Redentor, o Novo Homem, que muito lhe ensinou nos 40 dias da Páscoa? Assim, naquele domingo em Patmos, o véu, que geralmente encobre o mundo espiritual, se desvendou para João, para o discípulo amado!

Das nuvens escuras surgiu para João a figura reluzente do Filho do Homem, como um botão, um rebento de uma nova humanidade, de uma nova Terra. O Filho do Homem, que foi, que é, que virá a ser. Ele abarca todos os ciclos dos tempos em Si mesmo, passado, presente e futuro, o começo e o fim! Ele é, ao mesmo tempo, evolução e superação. Ele sustenta o ser humano na morte, nas trevas e na destruição, para levá-lo para a vida, para a luz e para um novo amanhecer! O Filho do Homem, o Redentor, passou a ser, para João, a verdadeira realidade em que a humanidade vive. Esta realidade só pode ser percebida com os olhos interiores da alma humana. Desde então, pode-se dizer que foi inaugurada a descida do que virá a ser a Nova Jerusalém e a nova humanidade. Através DELE poderemos contribuir para a continuação do sacrifício de amor no Gólgota, para a salvação, ou seja, para a transformação e espiritualização da Terra e da Humanidade.

Podemos imaginar que João se fortaleceu na contemplação da majestade do Filho do Homem, como descrito no começo do Apocalipse. No entanto, não lhe foi poupado vislumbrar quais os desafios que necessariamente aparecerão no futuro para o ser humano e para os mundos espirituais. Vislumbrar, sobretudo, os desafios do ser humano ao se deparar com os seres espirituais adversos, que atuam para o mal, querendo impedir que a humanidade alcance sua meta espiritual. Estes seres espirituais são muito mais poderosos do que o ser humano! Eles atuam cada vez mais destrutivamente na civilização humana, sobretudo através da técnica, do comércio e da indústria. Sim, estes são os âmbitos da atividade humana em que penetramos mais profundamente nas cadeias da matéria e esquecemos o espiritual. Pode-se dizer que a característica principal da nossa civilização se encontra nesta atuação destrutiva dos seres adversos, que antes da época cristã ainda se encontravam controlados por outras entidades divinas do bem.

João teve que ir se fortalecendo para enfrentar e aceitar todos os desafios manifestos pelo Apocalipse. Ele mesmo foi chamado no Apocalipse a digerir o Evangelho, para que este se tornasse uma parte de sua própria natureza. Nós também podemos nos fortalecer contemplando o Apocalipse na última época do ano cristão, antes que o novo ano cristão se inicie com a celebração do Advento. Temos que aceitar este fato de que o ser humano irá cada vez mais se deparar com as forças do mal. Isto significa que ele também sucumbirá ao mal, mas que terá com o Cristo a oportunidade de vir a conhecer a natureza das forças adversas, para que possa superá-las e, assim, construir a partir do espírito, ou seja, de cima para baixo, a Nova Terra, a Nova Jerusalém. Um grande esforço será exigido do ser humano a partir de agora. Sempre elevar os seus pensamentos, sempre estar alerta para os avanços constantes do mal, alerta para decidir pelo bem, como um seguidor de Cristo. Neste esforço, a alma humana irá se transformando e vestindo a sua natureza cósmica de noiva do espírito. Somente com Cristo poderemos enfrentar os desafios do futuro e construir a nova existência a partir do espírito.

Jesus Cristo disse: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida”. Quem se tornar Seu seguidor, quem procura a verdade, quem quer dar a sua vida pela Sua obra, poderá vê-lo, mesmo quando tudo se encontra num processo de decadência e de morte. Com e por Ele, surge no interior da alma humana o novo, a vida eterna. O velho mundo, a velha Terra, lá fora, não existirá mais, mas sim o ser humano em comunhão com Deus e com todos os seres divinos. Esta é a Nova Jerusalém, no meio da qual brota a fonte da água da vida.

Helena Otterspeer

As duas imagens são de manuscritos do Apocalipse dos séculos X e XI, com comentários de monges cristãos que se retiraram para conventos nas fortalezas rochosas ao norte da Espanha para resistir à invasão árabe e sua predominância religiosa na península ibérica. São testemunhos de uma tradição artística inédita, estilo denominado de moçarábico, ou seja, de influência visigoda e ao mesmo tempo árabe, mas com conteúdos cristãos. Esta resistência levou ao êxito da ”reconquista” e expulsão dos árabes da península ibérica. Nesta época estes monges inauguraram o caminho de Compostela para que os fiéis se fortalecessem na sua fé.

Figura 1: O Filho do Homem com os sete candelabros acima, e as sete estrelas ao lado, tocando João para que ele não se aterrorizasse. Na parte de baixo, João leva as cartas para as sete comunidades.


Figura 2: Apocalipse 12: A virgem cósmica pronta a dar à luz, ameaçada pelo dragão de sete cabeças e a luta da legião de Micael contra a legião do dragão. A legião do dragão sendo arremessada para a Terra.