Referente ao Evangelho de João 10, 1-18
Nas cidades do mundo, nas megalópoles de nosso mundo superpopuloso, há inúmeras pessoas que andam por aí, cada uma com seus próprios objetivos e desejos, muitos deles contraditórios, pois na maioria das vezes são como que arrastados pelos valores exclusivos deste mundo materialista em que vivemos. Porém, em meio ao caos, há um grupo de ovelhas perdidas vagando sem rumo em busca de um sentido para a vida. Há porém uma porta para esse sentido e ela conduz ao bom Pastor. A parábola de Jesus como sendo a porta e O Bom Pastor é uma imagem arquetípica do ser humano. Ela está dentro de nós, íntima no coração de cada um antes mesmo de termos consciência disso. “Eu sou a porta do curral das ovelhas”, “Eu sou o bom pastor”. Esta autoafirmação de Jesus está de acordo com as outras sete afirmações com a forma “Eu sou” do Evangelho de João: “Eu sou o pão da vida”, “Eu sou a luz do mundo”, etc. O Bom Pastor é aquele que tudo faz, e, em última instância, dá a própria vida, para que vivam aqueles por quem veio salvar. “Eu sou o bom pastor” – esta é uma mensagem que vai contra tudo o que se opõe à verdadeira vida: contra o egoísmo implacável que nos isola de todos, contra o anonimato dos fracos e oprimidos, contra a indiferença face ao sofrimento dos outros, contra a arrogância com que se gostaria de determinar o que é bom para o outro. Mas essa afirmação de Jesus ser a porta e o bom Pastor das ovelhas, não traz a conotação antipática para muitos, segundo a qual poderia trazer a ideia de ovelhas passivas e submissas; ao contrário: trata-se aqui daquele que nos conduz ao que mais intimamente e essencialmente somos, portanto à nossa real liberdade, pois, de outro modo, estaríamos sujeitos aos ladrões e salteadores deste mundo, ou seja, a tudo o que nos afasta de nós mesmos, inclusive o que determina uma visão de que aqui na Terra vivemos o único lugar de existência. Jesus fala que há outras ovelhas, de outro estábulo – elas também podem ouvir a voz do Bom Pastor. Isso é o que importa: não importa se pertencemos a uma determinada igreja, ou seita ou outra religião não cristã. O que importa é se tenho ouvido para ouvir o chamado de tudo que Cristo significa, e sentir intimamente que o que ele significa nos conduz ao nosso ser mais íntimo. Finalmente, essa afirmação conduz à imagem que abarca todos os seres humanos num único rebanho, no qual há único pastor, e ele é bom.
Carlos Maranhão