Referente ao Evangelho de Lucas 9:1-17
O chamado primeiro envio dos doze discípulos se refere aos companheiros escolhidos de Jesus. Conhecidos como os Doze, eles formaram um círculo especial em torno de Jesus, semelhante aos doze filhos de Jacó, os antepassados das doze tribos de Israel. O número doze carregava um significado profundo, representando conclusão, restauração, completude. Era como se a própria história contivesse uma promessa de redenção, um símbolo de um novo começo para o povo de Israel, uma promessa que ressoa através dos tempos. Esses Doze, escolhidos por Jesus, receberam um dom único: o poder de expulsar demônios e curar os enfermos. Foi uma revelação surpreendente que o que Jesus podia fazer, seus discípulos também podiam fazer. A mensagem era clara – não se tratava apenas de esperar milagres de Jesus; seus seguidores também detinham o poder de trazer mudanças ao mundo. A missão colocada diante dos discípulos era grande – proclamar o reino de Deus e curar os enfermos. Esse reino, enfatizou Jesus, não era um reino distante nos céus; era aqui e agora, dentro do nosso mundo e dentro das nossas vidas. Foi o reconhecimento do divino em cada pessoa, uma ideia revolucionária que estabeleceu novos padrões de compaixão e empatia. Quando os discípulos embarcaram nessa missão, Jesus os exortou a não levar nada consigo – nem pão, nem dinheiro. Foi um chamado para ser livre, para confiar não nas posses materiais, mas no poder da caridade e da união. O reino de Deus, ele proclamou, era um novo tipo de abertura, um lugar onde todos seriam aceitos e cuidados. Os discípulos viajavam de aldeia em aldeia, pregando as boas novas e curando os enfermos. Essa cura se estendeu além das doenças físicas; tocou o sentido mais amplo da doença, as atitudes e comportamentos distorcidos que atormentavam a humanidade. As boas novas do reino de Deus elevam, encorajam e trazem alívio ao desânimo e ao cansaço.
Nós também chegamos nus a esse mundo e somos colocados pelo destino e pelas circunstâncias em nossas famílias, no nosso círculo de amizades, na nossa comunidade, na nossa sociedade, no nosso mundo. Assim somos enviados ao mundo.
Qual é a atitude que nos recomenda Jesus em todos os tempos com relação a esse envio? A ficar onde estamos, servir para atender as necessidades dos que estão ao nosso redor, em suma curar.
Também com relação à multiplicação dos pães, segue a história com os discípulos. Com apenas cinco pães e dois peixes, eles perceberam que não era suficiente para alimentar a multidão. A tentação de comprar comida estava lá, mas Jesus tinha uma mensagem diferente. Não se tratava apenas de sustento físico; era sobre o pão da vida, uma sensação de saciedade que não se pode comprar nem vender. Com a multiplicação dos pães temos uma nova comunhão com Deus e uma nova comunidade entre as pessoas surge através do ato de partir e repartir o pão. Para a surpresa de todos, todos foram alimentados, e sobraram doze cestos cheios. O número doze voltou a aparecer, completando o círculo da história. Os discípulos cumpriram a missão, e foi suficiente para todos. Foi um poderoso lembrete de que o reino de Deus, a mensagem de amor e compaixão, sempre seria suficiente.
Como os discípulos, todos nós, hoje e sempre, somos herdeiros de uma sexta cheia de pães. Somos convidados a participar desta grande partilha, desta difusão do reino de Deus. Não se trata de escassez ou falta; é sobre a abundância de amor, que, assim como uma refeição farta, deixa todos satisfeitos. Para nossos tempos ressoa a história de fortalecimento, cura e compartilhamento, uma história que nos lembra que, assim como os discípulos, nós também podemos contribuir para tornar o mundo um lugar melhor. O amor, de fato, passa pelo estômago, enchendo não apenas nossas barrigas, mas também nossos corações e almas, deixando-nos verdadeiramente satisfeitos.
Carlos Maranhão