Quando cristãos se reúnem em memória do feito de amor de Jesus Cristo em prol de toda a humanidade ou, em outras palavras, para tornar a sua presença e atuação reais, então as sete velas no altar são acesas e a consciência espiritual na comunidade está desperta. Nesse espaço anímico-espiritual formado pela consciência humana, Cristo, o ressuscitado, pode agir entre nós e conosco na celebração do Ato de Consagração do Homem e dos outros sacramentos. Assim, transforma trevas em luz, forças de morte em forças de vida. A partir desse centro espiritual, no altar, Cristo acompanha cada um nos seus desafios diários curando, consolando e transformando a civilização e a cultura.
João, o evangelista estava só numa pequena caverna na ilha de Patmos em exílio decretado pelo imperador romano, porque se negara a adorar outros deuses romanos. Com 99 anos estava nesta crise em sua vida, quando no domingo, no dia do Senhor, o dia da ressurreição, ele ouviu uma voz como de trombetas atrás de si e se virou para trás. Virou para o âmbito onde normalmente nada vê e a ele se abriu o véu que normalmente cobre o mundo espiritual. Então, ele vislumbrou o Filho do Homem, vindo das nuvens, como prometido pelo ressuscitado na sua ascensão aos céus. Que consolo poder vivenciar, que apesar de todas as perseguições e influências negativas da época no Império Romano e na humanidade, o Filho do Homem atua nas sete comunidades representadas pelos candelabros acesos. Qualquer outra comunidade cristã estaria representada por uma das sete, segundo as sete fases de desenvolvimento possíveis. Na sua mão estão as sete estrelas, que são os sete anjos das sete comunidades. Os anjos que se ligam a uma comunidade, onde um sacerdote e uma comunidade se dispõem a servir o Cristo na celebração dos sacramentos. Cristo, os anjos e os seres humanos passam a atuar juntos para possibilitar o desenvolvimento do futuro. O futuro depende do ser humano e da sua ligação com o feito de Cristo! Cristo sabe lidar com a espada de dois gumes, que representa o desafio do ser humano de se tornar um ser provido de um eu espiritual, a serviço da obra divina e não dominado pelas forças do egoísmo. Os dois gumes da espada são, por um lado, uma individualidade que serve o espírito com o constante perigo de, por outro lado, ser subjugada pelas forças do egoísmo.
Essa é a anunciada segunda vinda de Cristo, que é vivenciada por cada um individualmente no momento certo da sua jornada na Terra e que vem se multiplicando em vários casos individuais desde o começo do século passado. O apocalipse prepara e fortalece cada um para esse significativo momento, pois “todos os olhos o verão, mesmo os olhos dos que o perfuraram” (Ap.1-7).
O apocalipse é um caminho de iniciação do ser humano. Cada um de nós será chamado numa certa hora a percorrer esse caminho. Haverá, nesse caminho, momentos de extrema graça, consolo e esperança, acompanhados ao mesmo tempo de um profundo abalo em todos os níveis da existência humana, pois a vivência da iniciação é um acordar para uma responsabilidade do ser humano diante do futuro da Terra, de toda a humanidade e da obra dos seres divinos. Nesse caminho está previsto o desafiante confronto com as forças do mal e a sua superação. João cai como morto aos pés do Cristo, diante da grandiosidade do mundo divino e diante das demandas que isso implica para si mesmo.
A visão do Filho do Homem acontece no momento em que João atinge uma consciência espiritual da sua própria natureza humana, da sua origem divina e da sua meta espiritual. Essa consciência está intimamente ligada ao ser divino do Cristo, do Verbo divino, que na sua visão abrange, como ser humano, desde o Sol até as incandescentes profundezas da Terra, desde a face até os pés do Filho do Homem. A sua veste podendo ser vivenciada como tudo que podemos perceber no mundo sensorial, todos os reinos da natureza, toda a obra divina, como a veste do criador. Toda essa obra em perfeita harmonia e unidade cingida com o cinto de ouro do espírito, que pode conferir a cada momento o sentido superior da pluralidade e variedade da grande obra divina!
Conhecer quem é o ser divino do Cristo e com isso alcançar também uma consciência da própria natureza humana é um grande desafio hoje, pois na maioria das vezes só conseguimos perceber fragmentos da grandiosidade desse ser. João tenta descrever o que vivência com vários conceitos, vários nomes, com os quais podemos apelar pelo Senhor, que também assim se refere a si mesmo! Estes são:
O Filho do Homem
Eu sou o Alpha e o Ômega, o Princípio e o Fim!
O que é, o que era e que há de vir!
O Todo-poderoso.
O Senhor.
Esses nomes não são somente substantivos, mas verbos e também adjetivos! Abarcam espaço e tempo, onde podem se revelar e atuar diferentemente em várias fases da evolução. Seja numa época anterior à criação e ao surgimento do espaço e tempo, como Logos divino – o Logos, a unidade primordial de tudo que posteriormente foi criado! Seja também no princípio da criação e também na meta da evolução, como Filho do Homem. Em Jesus Cristo já se realizou essa meta e ele nos acompanha na aspiração individual, assegurando potencialmente o alcance dessa finalidade. O homem, a sua criação, a sua evolução e o seu futuro estão intimamente ligados ao Senhor, ao Cristo. Portanto esse ser permanece atuante em cada fase da evolução, é nesse sentido Todo-poderoso, porque assegura em si a possibilidade do futuro e da meta espiritual do homem. Podemos a cada ano deixar ecoar esses nomes na nossa alma e assim ir crescendo em Cristo!
Helena Otterspeer