Reflexão para o domingo, 2 de junho de 2024

Referente à perícope do Evangelho de João 3, conversa com Nicodemos

Todos conhecemos recintos ou ambientes que nos agradam. Por exemplo, um lugar onde regularmente nos encontramos com pessoas amigas, cuja companhia e as conversas nos agradam. Ou mesmo uma sala de aula ou de reunião, onde durante longo tempo ouvimos e aprendemos coisas que foram significativas para nós. Ou ainda um lugar de recolhimento e meditação coletivo, onde nos sentimos resguardados e serenos para orar ou
simplesmente mergulhar no silêncio. 

E de repente algo muda. Talvez um único aspecto, mas logo notamos que o ambiente se modificou: As cortinas foram retiradas, por exemplo, ou as paredes estão com outra cor, ou a qualidade da luz no recinto se modificou…

Como lidamos com tais mudanças? Sentimos a falta deste ou daquele elemento como uma perda? A mudança disto ou daquilo me incomoda?

Toda mudança potencialmente traz consigo um incômodo, mas traz também algo desafiador. Cada mudança em um ambiente familiar e protegido pode ser muito perturbadora, porque novos elementos desconhecidos
aparecem de repente ou alguns daqueles com os quais estávamos acostumados, já não estão mais lá. A questão decisiva, no entanto, é: O essencial mudou? Até que ponto posso aprender algo novo através de uma
mudança?

Voltando ao exemplo: Talvez, com as novas condições de iluminação no recinto, eu veja as cores e os objetos numa nova luz… Talvez eu perceba que, justamente por causa da mudança, preciso concentrar mais minha atenção no foco que me levou àquele lugar e não me deixar distrair demais por detalhes do ambiente.

A mudança pode então ser um elemento desafiador e ao mesmo tempo estimulante, para que eu aprenda ou desenvolva algo novo. Mudanças trazem consigo rupturas, mas também criam oportunidades para novas aprendizagens.

Este é um ponto essencial da conversa de Nicodemos com Cristo. Como pode uma pessoa, sendo velha, nascer de novo?

Envelhecer muitas vezes significa ater-se demasiado a coisas que se conhece bem, com as quais se está familiarizado. Nascer de novo significa estar pronto para deixar o antigo – mesmo que só um pouquinho. Abrir mão dele, soltá-lo. E assim estar disponível para se envolver com a novidade trazida pelas mudanças. Ao mesmo tempo levantar a pergunta: O que posso aprender com isso?

Nicodemos conhecia a antiga e sólida lei mosaica, bem como sua forma tradicional de interpretação. Cristo não rejeita a essência espiritual da lei, mas ele espera que Nicodemos perceba que existem outros caminhos para acessar este conteúdo, além daquele que lhe é conhecido e confiável. Mas para tanto é preciso renascer. É preciso certa flexibilidade interna, boa dose de alegria diante do desconhecido e acima de tudo boa vontade em querer aprender algo novo. A isto, Cristo chama “aqueles que nascem do Espírito”.

“O vento sopra onde quer, tu não sabes de onde vem nem para onde vai.” Tais ventos sopram fortemente no mundo de hoje. Se nos ventos das mudanças sentimos tão somente incômodos, corremos o risco de nos apegarmos somente ao que nos é conhecido. Se notarmos, porém, que há nestes ventos certos desafios para ver e entender algumas coisas de maneira nova, damos então a nós mesmos a oportunidade de aprender algo. Damos ao Espírito a chance, que ele prepare em nós o novo nascimento.

Renato Gomes