Reflexão para o domingo, 9 de junho de 2024

Referente à perícope do Evangelho de João 3 – A samaritana no poço

A alma humana foi concebida por Deus, foi escolhida e predestinada para ser a noiva, um dia ornada para o seu matrimônio com o Espírito, para a sua união mística com o divino. Essa foi realmente a imagem vislumbrada por João Evangelista em Patmos na sua visão do Apocalipse. A nova Terra descia do céu, a Nova Jerusalém chegava como uma noiva enfeitada. Justamente a noiva estava ornada, pois sua corporalidade não estava restrita à sua natureza terrena e transitória, mas estava vestida com vestes espirituais, vestes tecidas pela luz do Cristo. Como Paulo falava: devemos nos vestir com o Cristo. De fato, os primeiros cristãos batizados se vestiam de branco para celebrar a eucaristia.

Esse vestido de noiva é tecido pelo Eu Sou em Cristo, na medida em que supera a estrita natureza transitória da alma e fundamenta sua existência no espírito. Com essa veste de luz a noiva estará apta para celebrar a união mística com o Cristo, conquistando a vida eterna. Essa veste brilhará pelas qualidades do amor, da fé e da esperança.

Para que isso aconteça e se torne uma realidade, Cristo se dirige várias vezes a cada um de nós no caminho da vida, pedindo de beber. Essa bebida que oferecemos ao Cristo é a nossa “confissão” – nosso reconhecimento de sua natureza divina e nossa disposição para segui-lo. E na medida em que oferecemos essa bebida, recebemos nós mesmos do Cristo o cálice com o seu sangue, o vinho transfigurado, a água da vida eterna.

A samaritana é a representante da alma humana, que ainda está muito apegada à sua condição terrena, mas por outro lado, tem um sentido inato para o sagrado, para o divino. Jesus Cristo é o representante do Eu Sou, o noivo místico.

Geralmente a noiva se prepara bem cedo para o casamento. Também a alma humana, desde que despertou no íntimo do ser humano, vem se preparando, desde as antigas culturas pré-cristãs, para o matrimônio com o espírito. Nessas culturas, essa união se dá pela orientação e guia dos mundos espirituais, até que essas vão se esgotando e o laço com o mundo divino fica ameaçado de se romper. Em compensação, a consciência individual desperta e com isso a chance do verdadeiro e eterno casamento místico. Ele se dá na luz do autoconhecimento, na luz que revela as origens e também as metas espirituais da humanidade. Essa luz se revela no encontro da alma individual com o Cristo, como o encontro da samaritana com Jesus Cristo, que se dá no coração da Palestina, na Samaria, entre o polo de vida da Galileia (o mar da Galileia) e o polo de morte da Judeia (o mar Morto). O encontro se dá no momento presente, entre o legado do passado e o apelo do futuro.

O encontro não se dá num determinado ponto geográfico, mesmo que sagrado. Ele acontece interiormente, num espaço livre de preconceitos e metas predeterminadas, no encontro com a verdade. É assim que a samaritana começa a se ligar com o Cristo e imediatamente se torna sua seguidora. Ela anuncia o caminho para cada ser humano: estar sempre atento às perguntas e tarefas apresentadas pelo destino, cultivar o sentido para o espiritual, aprender a se guiar pela meta espiritual do futuro, que começa agora, viver com uma pergunta latente com confiança na providência divina. Anunciar a chegada do noivo!

Nós sabemos o caminho, basta agora nos colocar a caminho!             

Helena Otterspeer