Reflexão para o domingo, 15 de setembro de 2024

Referente à perícope do Evangelho de Mateus 6, 25-34

Não vos preocupeis com a vossa vida!

É possível não se preocupar com a própria vida?

Tal atitude não seria irresponsável?

No texto original grego, no lugar da palavra “preocupação”, há um termo cuja origem significa “dividir”, “separar uma parte da totalidade”.

Portanto poderíamos também dizer:

Não deixai que uma parte de vossa alma seja separada da totalidade do vosso ser. Permanecei inteiros, não deixeis que vossos pensamentos e vossas preocupações façam com que uma parte de vós se separe da totalidade da vida!

Nesta exortação, não se quer dizer que o ser humano não deva pensar em sua vida, ou que ele não busque ativamente fazer o que é necessário para suas necessidades.

Nesta exortação se trata de perceber que a inquietação, os medos ou os pensamentos que nos atormentam – que muitas vezes chamamos de preocupações – em geral não ajudam muito. Pelo contrário, em tais casos nossa consciência fica presa no problema e nas preocupações. Isso pode chegar a tal ponto que uma parte de nossa vida interior fica tão envolvida nos problemas e nas preocupações que tende a se separar do resto da vida. Tais preocupações e inquietações tendem a ganhar uma dinâmica própria. Elas sugam nossa atenção. Elas drenam nossas forças e nos fecham para a vida.

Cristo dirige o nosso olhar para a natureza!

Olhai os pássaros do céu!

Olhai os lírios do campo!

Não há ajuda quando nos deixarmos levar pelas preocupações.

É muito mais importante ampliar nossa visão, abril o olhar interessado para o mundo à nossa volta. O primeiro passo é liberar-nos da prisão das preocupações. Em seguida buscamos retornar à vida, à totalidade de nossas vidas, fazendo com que nossa consciência e nossos pensamentos não girem mais o tempo todo em torno de tais preocupações. Um olhar alegre e sereno para natureza pode ser de grande ajuda. Lá, na natureza, há algo que se ocupa de cada detalhe.

O Deus-Pai se ocupa de suas criaturas. Ele se preocupa por todas elas.

Também nós, seres humanos, podemos participar dessa força provedora e cuidadora. Mas isto só é possível se estivermos totalmente imersos na vida, se não permitirmos que nosso ser interior se divida por causa de medos e preocupações.

Todo ser vivo é uma totalidade em si mesmo e forma um organismo inteiro.

Somente assim – inteiro, sem se deixar dividir – ele faz parte da vida e as forças divinas lhe sustentam e lhe outorgam o que precisa para viver.

Renato Gomes – Berlim