Reflexão para o domingo, 30 de março de 2025

Cristo Ressuscitado, de Rembrandt (1606-1669)

Referente à perícope do Evangelho de João 8, 1-11

Uma das maiores forças da alma humana contemporânea é a sua intelectualidade, a capacidade de descrever, diferenciar, analisar e formar juízos e julgamentos. No povo israelita, essa capacidade foi exercitada pelo desafio de compreender e cumprir as leis divinas para o comportamento humano na sociedade.

Hoje, essa capacidade é indispensável para o desenvolvimento das ciências naturais, da técnica e suas aplicações na indústria e comércio. Podemos, por um lado, celebrar e intensificar essa qualidade na prática mas, por outro lado, podemos perceber que ela encerra em si grandes perigos: a análise fria, o calculismo para interesses de poder sobre outros e a falta de qualquer envolvimento emotivo e de promoção do desenvolvimento humano.

Enfim, a tendência de diferenciar, separar e analisar para obter um resultado, quando projetada no contexto social e nas relações entre os povos, pode gerar muitos conflitos, sem que essas forças e métodos possibilitem encontrar soluções pautadas na harmonia, na confiança e na compreensão entre diferentes partidos. Isso corresponde à paisagem das guerras atuais em diferentes locais do mundo e à falta de perspectivas para a paz.

A imagem dessa crise da alma humana é a da mulher adúltera no meio do círculo formado pelos fariseus e escribas para condená-la. Sim, a alma humana havia se separado da vida, do calor e da luz divinas, traíra sua ligação existencial com o espírito. Ela estava ameaçada pelas forças da morte. Nessa configuração, não haveria qualquer outra perspectiva além de sua condenação à morte. No entanto, antes mesmo de ela ser apresentada a Jesus Cristo, Ele, ao raiar do dia, havia se dirigido ao templo, onde as pessoas se reuniram ao seu redor para ouvir suas palavras. Suas palavras são vida, luz e espírito.

Sim, não há somente uma enorme tendência do intelectualismo dominar a maneira de pensar e atuar da humanidade hoje! Também existe um enorme anseio da alma, do coração humano pelas forças constitutivas e formadoras da vida e da paz, que no momento crucial e crítico da humanidade foram trazidas à Terra por Jesus Cristo.

Nenhuma das graves consequências do comportamento humano são apagadas da memória divina. Jesus escreve na Terra os efeitos negativos do comportamento humano. Mas, ao mesmo tempo, Ele acredita na humanidade, se confessa a ela e a estimula a traçar o seu caminho para o futuro, rumo a uma nova ligação com o mundo divino e a uma nova maneira de pensar, capaz de superar as crises e transformá-las em grandes oportunidades de desenvolvimento.

A vida religiosa, a oração, a celebração dos sacramentos é um mergulhar nesse novo âmbito do pensar vivo, da vida e da luz de Cristo, que vão nos conduzir ao raiar de um novo dia! O dia em que do centro da alma humana não mais vai predominar a tendência de crítica e julgamento de outros, mas vai irradiar a devota força crística do amor e da fraternidade, criando novos mundos!

Helena Otterspeer

Reflexão para o domingo, 23 de março de 2025

Referente à perícope do Evangelho de João 6, 1-15

 

A multiplicação dos pães não é apenas uma demonstração do poder divino, mas uma revelação profunda sobre a verdadeira natureza da abundância e sobre como Deus deseja que vivamos nossa relação com os bens deste mundo e com as outras pessoas. A economia tradicional é fundada sobre o princípio da escassez. Desde os primórdios, aprendemos que há recursos limitados e que, para sobreviver, precisamos administrar, competir e acumular. Quem tem o poder de distribuir muitas vezes preserva a abundância para si e deixa apenas as migalhas aos outros. Quem vive na escassez, por sua vez, teme perder o pouco que tem e almeja sempre aquilo que lhe é negado. Essa lógica domina o mundo, mas não o Reino de Deus. No deserto, onde cinco mil homens, além de mulheres e crianças, se reuniram para ouvir Jesus, havia fome e pouca provisão. Mas ali, o Senhor quis nos ensinar um princípio superior. Diante da multidão faminta, Jesus não se deixou dominar pelo medo da escassez. Tomou os poucos pães e peixes que lhe foram oferecidos, deu graças e começou a distribuí-los. E à medida que partia e repartia, a comida se multiplicava. O milagre não aconteceu antes da partilha, mas durante a partilha. Cristo não multiplicou os pães para que cada um acumulasse para si, mas para que todos recebessem o necessário.

Se confiarmos apenas no que vemos e tocamos, viveremos reféns da lógica da falta. Mas se nos abrirmos à realidade espiritual, compreenderemos que Cristo é o verdadeiro administrador da abundância. Ele não apenas reparte o pão material, mas nos dá o Pão da vida. Isso significa que, ligados a Ele, não precisamos temer o futuro, nem cobiçar o que o outro tem. Pois a riqueza que vem de Deus não se mede por bens acumulados, mas pela paz do coração, pela generosidade de espírito e pela confiança de que nunca nos faltará o necessário, quando do coração emana o espírito da verdadeira fraternidade.

 

Carlos Maranhão

Reflexão para Domingo 16 de março de 2025

 

Referente à perícope do Evangelho de Lucas 11, 29-36

Nunca é fácil reconhecer os sinais dos céus, seja o de Jonas em sua época, seja o de Cristo mais tarde. Tínhamos, e temos cada vez mais, a tarefa de desenvolver nossa liberdade e reconhecer, em liberdade, os sinais dos céus.

Não haverá um sinal glorioso ou muito visível. Encontraremos nos céus os sinais mais sutis: em uma vivência no Ato de Consagração do Homem, em uma oração ou no encontro com um ser humano, em uma providência do destino ou depois de passamos por uma crise. Alguns sinais só perceberemos na retrospectiva.

Depende de nós estarmos atentos e reconhecemos os sinais dos céus. O Cristo quer despertar essa atenção em nós. Assim, ele pode se revelar através desses sinais.

Julian Rögge

Reflexão para Domingo, 9 de março

Referente à perícope de Lucas 11, 14-26

“Todo reino dividido, será devastado. Toda casa dividida, cairá!”

A primeira divisão que vivenciamos ao encarnarmos consista na separação: mundo interior x mundo exterior.

Ainda no ventre, também âmbito corpóreo, existe uma íntima conexão entre nosso corpo físico e o organismo materno.

No nascimento esta ligação é cortada. Começamos a nos separar do mundo que nos circunda. Este processo de separação se intensifica durante toda a nossa existência terrena. Estabelece-se cada vez com maior intensidade tal divisão: meu mundo interno x o mundo lá fora. Também poderíamos chamar: “minha casa ou meu reino” x “os reinos deste mundo”.

Numa perspectiva teológica, este fato é consequência da chamado Pecado Original, ou da “saída do Paraíso”.

Na vida pré-natal nossa consciência (ainda que profundamente adormecida), vive em íntima conexão com o Mundo do Espiritual ou com a Casa do Pai.

Para que possamos desenvolver nossa individualidade, precisamos nos separar, nos tornar independentes e autônomos. Disto decorre a divisão, a que Cristo se refere. As forças adversárias se aproveitam desta “brecha” e ampliam cada vez mais tal divisão.

Diante desta situação, o ser humano vivencia um processo de isolamento em relação ao mundo espiritual. Em grego se usava a mesma palavra para significar “deserto” e “isolamento/solidão”.

Quando se diz que todo reino dividido será devastado, numa tradução literal poder-se-ia dizer que “todo reino que se divide, será desertificado, se tornará um deserto”.

Ou seja, a consequência desta divisão primordial, intensificada pelas forças adversárias, conduz o ser humano ao deserto da alma, a desertificação em sua própria casa terrena, em seu próprio reino, no qual ele se percebe solitário e perde a capacidade de se comunicar com o mundo espiritual. No deserto da alma o ser humano emudece em relação ao Espírito!

Quem pode redimir esta divisão, esta separação?

Somente a força que vive no nosso “Eu”.

Apenas nosso “Eu”, o cerne de nossa individualidade, consegue unir estes reinos, transitar entre a nossa casa terrena e a casa do Pai, em comunhão com todos os demais reinos do universo.

No Ato de Consagração do Homem, no início da Comunhão, escutamos as palavras de Cristo, que diz estar em “plena paz com o mundo”. Aqui a “paz com o mundo” aponta para a capacidade de superar esta divisão arquetípica da condição humana. Ser capaz de unir de novo o que foi separada. Vencer o isolamento e a solidão do deserto da alma, para nos conectarmos de novo com o Reino do Espírito, mesmo que continuemos a viver encarnados aqui na Terra. A paz é a condição anímico-espiritual onde as divisões e as divergências são superadas. (Aqui também se abre uma perspectiva interessante, frente às tantas guerras e divisões que observamos na atualidade!)

Esta mesma passagem do Ato de Consagração reforça que é a partir da força do ”Eu”, que se estabelece a paz com o mundo. Cristo nos estimula a encontrarmos em nós esta força, a confiar nela e desenvolvê-la, no sentido das palavras do Evangelho de João (16,33):

“No mundo tendes aflição, conflito, divisão. Tende coragem! “Eu” venci o mundo!”

No “Eu” humano vive a força que vence toda divisão, toda separação, e que nos une de novo ao Espírito.

Renato Gomes

Reflexão para o domingo, 2 de março

Referente à perícope do Evangelho de Mateus 17, 1-9

No mundo terreno, a luz do sol, que tudo ilumina, permite-nos ver o que antes estava envolto em escuridão. Essa imagem é uma metáfora perfeita para o nosso processo de cognição: a luz do espírito ilumina nossa alma, permitindo-nos enxergar o que antes não víamos e compreender o que antes não compreendíamos.
No Evangelho de Mateus, no alto de uma montanha, Pedro, Tiago e João veem algo que até então lhes estava oculto: Cristo transfigurado, seu rosto brilhando como o sol, suas vestes resplandecendo como a luz. Eles já caminhavam com Jesus, já haviam ouvido suas palavras e testemunhado seus milagres, mas ainda não haviam enxergado plenamente quem Ele era. Quando veem Moisés e Elias ao seu lado, Pedro sugere erguer tendas para os três, como se fossem iguais em estatura espiritual. É então que a voz de Deus ressoa, assim como no batismo: “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo; a Ele ouvi!” A visão desaparece, e resta apenas Jesus. Essa experiência não foi uma mera visão gloriosa, mas uma correção da percepção dos discípulos. Moisés e Elias foram servos de Deus, precursores de Jesus Cristo, mas este é a própria plenitude da revelação divina. O que os discípulos viram no monte não era um Jesus diferente, mas o mesmo que já conheciam, agora iluminado pela luz da verdade.
E aqui nos perguntamos: será que também precisamos dessa correção? Vivemos em um tempo onde a fé se dilui entre tantas vozes, onde Cristo é muitas vezes colocado ao lado de outros grandes mestres, como se fosse apenas mais um entre tantos. Pode ser que não o comparemos com Moisés ou Elias, mas talvez o tratemos como um sábio moralista, um líder inspirador, um símbolo entre outros. A transfiguração nos chama a perguntar: vemos Cristo como Ele é, ou apenas como gostaríamos que fosse? No alto da montanha, a luz revelou a verdade. No vale da vida cotidiana, essa revelação precisa transformar nossa visão. Não basta admirar Cristo ou reconhecê-lo como um grande mestre; é preciso ouvi-lo, segui-lo e deixar que sua luz nos ilumine. Pois, no fim, quando todas as outras vozes se dissipam, não vemos mais ninguém, senão Jesus.

Carlos Maranhão

Reflexão para o domingo, 23 de fevereiro

Referente à perícope do Evangelho de Mateus 4, 1-11

Quanto maior a graça, maior a responsabilidade da humanidade em relação ao mundo espiritual. Quanta substância, força e sabedoria o ser humano em sua existência recebeu do mundo espiritual para que se tornasse um ser livre. Muitos ciclos de desenvolvimento, muito tempo se passou até que, na virada dos tempos, a força divina despertou na alma humana.
Nem tudo foi bom nesse desenvolvimento, porque, para se tornar livre, o ser humano teve que separar a sua vida da vida cósmica divina. Foi assim que ele abriu os portões para a atuação do mal, dos seres adversos.
Enfim chegou a hora em que a humanidade deveria tomar o curso do desenvolvimento em suas próprias mãos, a hora de assumir sua própria responsabilidade para o futuro. Para isso, ela teria que enfrentar e superar as forças do mal que até então haviam atuado sobretudo em sua corporalidade, em sua natureza terrena. Em sua alma e espírito o ser humano poderia se tornar livre para superar o mal. Sua natureza anímico-espiritual recém desperta teria que se tornar mais forte do que as exigências puramente físicas, corporais. Mas ela ainda estava muito frágil por dentro.
Foi quando o Pai enviou o Filho ao mundo. O Filho de Deus só conseguiu encontrar uma morada em um ser humano muito especial, para isso preparado. Em Jesus o Filho de Deus encontrou uma morada. O batismo no Jordão pode ser visto como a concepção de um novo ser espiritual, o Filho do Homem, que surgiu pela atuação do Filho de Deus em Jesus, transformando e superando assim sua natureza terrena e transitória.
Depois do batismo, Jesus Cristo foi enviado pelo Espírito para os lugares e situações em que se manifesta o mal. O Filho de Deus pôde superar as tentações, primeiro se confessando a Deus e enfim pelo seu próprio sacrifício na Cruz.
Toda a humanidade pode agora, desde batismo até a ressurreição, testemunhar a transformação da natureza mortal de Jesus, a vitória definitiva sobre o mal e a morte. Assim um germe do espírito foi colocado em cada coração humano, para que seja iluminado pela consciência espiritual individual, para que cresça e evolva. Desde a criação, nenhuma graça maior foi concedida à humanidade!
Essa consciência espiritual vai se formando e se intensificando quando em devoção, na época da Paixão, podemos consumar com Jesus seu ato de sacrifício e amor. A vontade de nos juntarmos a Ele vai crescendo em nós. Nosso coração vai se permeando cada vez mais com sua vida, sua luz e amor. Assim cresce em nós o germe espiritual, a força para, como Ele, aceitar e superar os enormes desafios de nosso tempo. Cresce em nós a disposição para nos confrontarmos com o mal, com os mais profundos e escuros abismos da alma humana para poder levar para lá a luz e a vida da ressureição.

Helena Otterspeer

Reflexão para o domingo, 16 de fevereiro

Referente à perícope do Evangelho de Lucas 18, 18-34

“Ninguém é bom senão Deus”

Cristo rejeita ser chamado “bom Mestre”. Ele não se considera bom. Só Deus é totalmente bom.

Faz parte da vida humana na Terra estar entre as forças do bem e do mal. Precisamos nos equilibrar entre as potências do mal para podermos fazer o bem. Essas forças são necessárias para o nosso desenvolvimento. Elas servem também para o desenvolvimento do mundo.

Cristo caminha à nossa frente nesse estreito caminho entre as forças adversas. Ele nos guia e nos acompanha a cada passo dado nesse caminho. Ao final dessa trilha, encontraremos a vida eterna.

Julian Rögge

Reflexão para o domingo, 9 de fevereiro

Referente à perícope do Evangelho de Mateus 20, 1-16 

 No desenvolvimento embrionário humano, o coração é praticamente o primeiro órgão que começa a funcionar, logo que se forma. As células do músculo cardíaco (o chamado miocárdio), já no 21º dia após a fecundação, começam a se contrair ininterruptamente – na conhecida alternância entre sístole e diástole – e prosseguem, sem pausa, até o último dia de nossas vidas!
Nosso sistema nervoso se forma também relativamente cedo. Contudo suas funções vão amadurecendo bem gradativamente, mesmo após o nascimento, necessitando tempo para chegar ao total desenvolvimento. Sabemos que a capacidade cognitiva mais elevada só se alcança no final da infância e início da vida adulta.
Sabemos também que com o passar dos anos, o sistema nervoso envelhece gradativamente e, em muitos casos, aparecem nítidos sinais de declínio intelectual, esquecimentos e redução da capacidades para aprender coisas novas.
Algo similar ocorre também com o sistema reprodutor. Nascemos com órgãos e glândulas formados, mas não estão maduros para sua função. Eles só desabrocharão na puberdade e permanecerão ativos apenas por um período limitado da vida, pois é natural que o ser humano perca suas capacidades reprodutivas nas fases mais avançadas da vida.
Tanto o sistema nervoso, quanto o reprodutor encontram-se nas extremidades: no polo consciente da cabeça, que coroa a coluna vertebral de um lado, e no polo metabólico do outro, na parte mais inferior deste mesmo eixo de sustentação do organismo.
Temos aqui dois sistemas orgânicos que estão nos pontos extremos, na “periferia” do corpo.
O coração, ao contrário, é um órgão central, encontra-se no “meio” de nosso organismo.
Talvez pudéssemos dizer que quanto mais próximo ao “meio” um sistema ou órgão se encontre, tanto mais sua função, seu trabalho, se inicia precocemente e se estende por mais tempo durante a vida (pulmões, rins, fígado etc.).
Ao contrário, órgãos que estão mais “periféricos” começam a desempenhar sua função, seu trabalho, mais tarde e tendem a encerrá-lo mais cedo.
Órgãos do “meio” trabalham por toda a jornada da vida. Órgãos da “periferia” são convocados para trabalhar somente mais tarde e para uma jornada mais curta.
Mas todos servem a um único organismo. Não há como valorizar mais uma função do que outra. Para a unidade do organismo o que importa é o trabalho conjunto, que promove a saúde.
Aqui vale: os que começam a “trabalhar” por último, serão os primeiros a encerrar sua atividade; os que iniciaram seu “trabalho” primeiro, serão os últimos a cessar!
Mas o foco é o organismo como um todo.
Também nesta parábola do Evangelho de Mateus, Cristo nos aponta esta unidade, através da imagem do denário, que correspondia à medida para uma jornada diária de trabalho na vinha, que aqui se torna imagem para a vida.
Nossa vida nos é dada como a oportunidade para trabalhar em nossa vinha (nossa biografia). Haverá situações em que temos que nos esforçar diariamente, o tempo todo, sem interrupção, pois delas depende nossa própria existência.
Haverá outras, entretanto, que realizaremos por um período menor ou até mesmo por um breve lapso de tempo.
Tudo isto, contudo, contribui para nossa vida, para a unidade de nosso ser: um denário!
A questão que se apresenta, portanto, é: como aprendemos a discernir (e também a escolher) o que pertence mais ao “meio”, que carrega nossa existência do início ao fim, e o que pode ser deslocado para a “periferia”. O que não significa que tais coisas não seja importantes, mas que tem um tempo limitado em nossa biografia.
Do ponto de vista orgânico não é difícil fazer este discernimento: precisamos comer, dormir, realizar atividades com nosso corpo e outras coisas mais. Por outro lado, podemos escolher se neste ou naquele momento queremos nos dedicar a uma vivência artística ou de lazer, ou se intensificamos nosso esforço por um tempo para aprender alguma nova habilidade.
Como é então com o cultivo da vida interior? Pertence ao âmbito do “meio” ou à “periferia”?
Orar, meditar, refletir são atividades que pertencem a um breve período da vida ou podem ser, cada vez mais, deslocadas para o “meio”, para o que é essencial e duradouro em nossa existência?
Talvez pudéssemos tomar esta parábola como ajuda para refletir neste ponto!

Renato Gomes

Reflexão para o domingo, 2 de fevereiro

Referente à perícope do Evangelho de João 5, 1-16 

Em um lago calmo, as águas parecem paradas. A superfície reflete o céu como um espelho, sem nenhuma alteração. Mas, no fundo, tudo está estagnado: as folhas caídas se decompõem lentamente, e a água, sem movimento, fica turva. Somente quando o vento sopra ou a chuva cai, a água é agitada e renovada.
É assim que fica a nossa alma quando a deixamos na passividade. Acostumamo-nos à inércia, às nossas feridas, à rotina das nossas limitações.
No Evangelho de João, Jesus encontra um homem doente perto de um lago. Durante 38 anos ele esperou por um milagre, mas nunca deu o passo decisivo. Então Jesus lhe perguntou: “Você quer ser curado?” A questão é intrigante. Quem não gostaria de ser curado? Mas Jesus não fala apenas do seu corpo, mas do seu coração.
Existem duas condições para a cura: primeiro, reconhecer que estamos doentes. Às vezes, preferimos permanecer no que é conhecido, mesmo que isso nos machuque. Segundo, confiar na força de Cristo para nos levantar. Jesus não lhe dá longas explicações, apenas lhe diz: “Levanta-te, pega o teu leito e anda.” E o homem, sem hesitar, obedece. O milagre começa quando ele ousa acreditar. Antes que ele se mova fisicamente, seu interior já mudou.
Hoje, Jesus nos pergunta a mesma coisa: “Você quer ser curado?” E nos convida a sair da nossa passividade, a deixar de ser como água estagnada. Sua palavra é como o vento que nos desperta e nos move. Ele nos diz: “Levante-se e ande.” A decisão é nossa.

 Carlos Maranhão

Reflexão para o domingo, 12 de janeiro

Referente à perícope do Evangelho de Mateus 2, 1-12

Os reis são guiados pela estrela até o menino Jesus que se torna o Cristo. Eles têm a sabedoria de reconhecer esse sinal dos céus e de segui-lo. Depois de encontrar Jesus e a sua família, eles o adoraram e lhe ofereceram as suas dádivas.
Em cada um de nós também há uma estrela guia. Precisamos aprender a reconhecê-la e segui-la. Assim, ela nos guia para as metas e encontros da nossa vida.
A nossa estrela também indica o caminho para nosso encontro com o Cristo. Como chegaremos perante ele? Teríamos presentes para oferecer, como os reis? Durante a vida, temos a possibilidade de preparar essas dádivas. As qualidades do ouro, do incenso e da mirra nos indicam o caminho para a preparação dos presentes para o encontro com o Cristo.

Julian Rögge