Reflexão para o domingo, 23 de outubro

Referente ao perícope do Apocalipse de João 19, 11-16

Todos nós temos, como o cavaleiro branco, um nome que somente nós conhecemos. Durante a nossa vida o reconhecemos e preenchemos pouco a pouco. Ele abarca nossas conquistas e derrotas, nossos acertos e erros. Ele está composto por nosso caminho de desenvolvimento no passado, no presente e no futuro. O nome abarca toda a nossa individualidade, aquilo que cada um denomina com a palavra “eu”.
O eu tem uma profunda ligação com o cavaleiro branco. Ele torna possível um caminho de desenvolvimento e o acompanha. Ele possibilita que cada um de nós se torne senhora e rainha, senhor e rei. Reis e rainhas que aprendem a reinar sobre si mesmos e que se guiam no seu caminho de vida. Que pouco a pouco tomam a vida nas próprias mãos. Que sabem haver um que é maior entre eles. Senhoras e senhores que em liberdade decidem seguir o rei dos reis, o senhor dos senhores, o Cristo.

Julian Rögge

Reflexão para o domingo, 16 de outubro

Referente ao perícope do Apocalipse de João 12, 1-17

Visão do apocalipse, capítulo 12. Século IX – arte moçárabe

No século VIII os habitantes do norte da África invadiram, depois da sua islamização, a península ibérica e a dominaram por alguns séculos. Esta invasão foi contida nos Pireneus, que formavam uma fortaleza natural ao norte. Assim não se espalharam pela Europa. Embora houvesse uma certa coexistência pacífica com os muçulmanos, as comunidades cristãs não podiam se desenvolver sem restrições. Por isso monges cristãos se retiraram para as fortalezas naturais ao norte da península em seus conventos, para não sucumbir à islamização e assim poder resistir. Dessa época provém a instituição dos caminhos de peregrinação para Compostela. Por sua vez, esses monges reclusos em seus conventos escreviam vários manuscritos do livro do apocalipse de João. As ilustrações desses textos, como no exemplo acima, revelam a força interior desenvolvida nessa época. O estilo dessas pinturas era uma mescla de influências dos visigodos, romanos e árabes. Esse estilo foi denominado de moçárabe.

O drama em que viviam os monges e a população reprimida entrava em ressonância com as imagens do apocalipse, imagens do drama da evolução da humanidade. Assim esses monges se fortaleciam para enfrentar a ameaça da expansão islâmica. Enfim conseguiram rechaçar os mouros a partir do século XI. Nessa região surgiram mais tarde os países Espanha e Portugal.

Na grandiosa imagem do apocalipse de João, capítulo 12, um terço das estrelas do céu e as legiões do dragão são lançadas à Terra. A virgem também foge para o deserto. A ordem cósmica dá lugar ao caos terreno, onde os espíritos adversos ganham força sobre a alma humana. Agora os seres humanos são os que devem combater essas legiões e reconquistar em liberdade a ordem cósmica divina. Com que apoio pode a humanidade contar nesse novo e imenso desafio? Ela necessariamente sucumbirá? Diante das atuais crises mundiais essa pergunta parece mais do que nunca urgente. Como Micael se coloca nessa situação?

Através da intervenção de Micael a criança cósmica é salva e está guardada perto do trono de Deus! A essência divina do ser humano, que nasce da alma individualizada, está preservada, guardada pelas hierarquias celestes. Lá esperará até o momento em que a alma individual esteja madura para realizar a união, o casamento místico com o espírito, com o Eu Sou divino.

A virgem, a pura alma cósmica, foge para a Terra, para o deserto. Ela se torna alma humana individualizada e é ameaçada pelas legiões do dragão. Esta é a imagem, que representa a nossa consciência atual. As legiões do dragão espalham aceleradamente o materialismo na técnica, no comércio, na visão científica da época atual. No entanto Micael, cujos pés são livres do peso terreno, confere à alma humana asas e ela pode se alçar aos âmbitos espirituais, conseguir uma relação com os seres divinos e com o Cristo. Portanto sabemos que, como os monges outrora ao norte da Espanha e Portugal se retiraram, se compenetraram de sua relação com o Cristo, conseguindo resistir à ameaçadora invasão, também hoje o ser humano poderá resistir às fortes invasões do materialismo e todos os âmbitos da cultura e da alma humana. Não é esta a invasão que percebemos hoje pelas tantas restrições e medidas exteriores impostas no campo da educação, da medicina, do pensar livre?

Cultivemos a interioridade da alma na oração individual, na oração comunitária, como no Ato de Consagração do Homem, na conquista de uma nova compreensão dos evangelhos e dos sacramentos! Assim, como João, nos tornaremos capazes de ver o Filho do Homem, o ressuscitado agindo no meio das suas comunidades, se manifestando na natureza, na humanidade. Como já vislumbrado no apocalipse de João, a alma transformada, espiritualizada descerá um dia como uma noiva e desse casamento místico surgirá um novo ser humano, uma nova Terra, onde não haverá mais lágrimas, nem sofrimentos. Não podemos perder a realidade da atuação do Redentor na Terra. Com Ele superaremos enormes desafios!

Helena Otterspeer

Reflexão para o domingo, 9 de outubro

Referente a carta de Paulo aos Efésios 6, 10-20

Na carta de Paulo aos Efésios, somos chamados a nos revestir com a armadura de Deus. De onde vem esse chamado? Não pode vir de fora, mas do interior de cada um de nós, para que esteja de acordo com o que é próprio para a nossa época. Aqui trata-se de traduzir o chamado que vem do mundo espiritual de um modo muito pessoal, pois trata-se em verdade de um auto-exame para verificar até que ponto estamos vulneráveis às investidas do maligno ou até que ponto estamos protegidos pelas forças espirituais benignas, mas, de todo modo, quem toma a decisão de proteger-se somos nós mesmos. Senão vejamos: Em que consiste esta armadura? Somos chamados, em primeiro lugar, a usar o cinturão da verdade. A verdade alcançamos pelo pensar espiritual, mas no caso aplicamos a verdade para perceber o que divide o ser humano entre sua parte superior e inferior, o discernimento da verdade nos permitirá dominar os impulsos inferiores, liberando nosso ser superior para o trabalho espiritual. Em segundo lugar somos chamados a usar a couraça da justiça. A couraça protege a região do peito, onde bate o coração. É este que tem a medida do justo no que tange às relações humanas. É preciso estar desperto para o sentir dessas relações. Em terceiro lugar precisamos calçar os pés como andarilhos que levam o Evangelho ao mundo. Somos enviados por Deus aos caminhos onde sempre teremos oportunidade de levar a palavra de Deus necessária a cada ocasião. Em quarto lugar, e como diz Paulo “sobretudo” usar o escudo da fé. A fé é aqui a proteção central. Saber que a maior proteção vem de nossa ligação consciente com o mundo espiritual. Uma ligação devotada e de veneração para com o divino. Em quinto lugar, temos o capacete da salvação. O capacete encobre a nossa cabeça, a que recebe do Espírito a luz do entendimento. Em sexto lugar empunhamos a espada que é a palavra de Deus. Forjamos essa espada para sermos guerreiros de Micael, com o pensar espiritual que reconhece a fonte divina transmitida pela palavra. E em sétimo lugar unimos todas essas forças na prática constante da oração. Nossa armadura é, portanto, composta de sete partes, mas que compõe um todo, pois formamos uma unidade que no trabalho espiritual se protege contra o mal, mas, ao proteger-se vai se realizando paulatinamente como ser humano.

Carlos Maranhão

Reflexão para o domingo, 2 de outubro

Referente ao perícope de Mateus 22, 1-14

Temos a possibilidade de festejarmos o casamento de nossa alma com o mundo do espírito. Todo ser humano é escolhido para tal, porém a condição de ser escolhido lateja dormente em nossas almas. É chegado o momento de despertarmos para o chamado enviado até nós por seres divinos através de nosso destino. Desperta! Levanta-te!
Estamos dispostos a ouvir e nos permitir sermos seres escolhidos?
Vivemos exatamente na fase da humanidade onde nos preocupamos tanto com o ter, tão afeiçoados à matéria que corremos o risco de deixarmos o ser (escolhido) para sempre dormente. Corremos o risco de recusarmos o chamado.
Quanto mais abusarmos do poder da matéria, mais nos afastaremos dos seres que nos convidam a despertar. É o que as forças adversas desejam: Seres humanos esquecidos de sua condição de seres escolhidos para o casamento.
Necessitamos um forte impulso para nos colocarmos a caminho do casamento. Até para chegarmos nas encruzilhadas da vida. Lá onde os caminhos se encontram e muitas vezes não sabemos como seguir, nos sentimos perdidos e desorientados.
Se tivermos coragem de silenciar e perceber o que ocorre à nossa volta nesses momentos, aprenderemos a reconhecer o chamado, o convite. Ele chega através das palavras de uma amiga, um amigo; da escuta ativa de alguém, da vivência de um por do sol, do brotar de uma planta e muito mais.
Nos reconhecermos como escolhidos, nos coloca no âmbito do Filho do Rei. Lá onde receberemos uma veste de proteção e forças para atuarmos em seu nome na Terra.
Nos dias de hoje, há uma legião de seres divinos atentos aos nossos próximos passos.
Há um arcanjo perante o Filho do Rei disposto a nos mostrar o caminho. Disposto a auxiliar-nos a superar tudo aquilo que ata nossas mãos e pés e nos prende à Terra. Nos prende ao ser que não permite nossa evolução.
Micael está presente na humanidade, ele luta por nós constantemente.
Cabe a nós fazermos nossa parte: Ouvir o chamado, aceitar o convite, receber as vestes e atuar com as forças crísticas na Terra.
Vivemos uma época trágica na humanidade onde seres humanos passaram a recusar o convite, o chamado. Haverá lamentos e ranger de dentes. Mas haverá também redenção.
Precisamos nos fortalecer para, em vidas futuras sermos aptos a desatar as amarras das mãos e dos pés dos nossos irmãos.

Viviane Trunkle

Reflexão para o domingo, 25 de setembro

Referente ao perícope de Lucas 7, 11-17

“Desperta, tu que dormes, e levanta-te dentre os mortos, e Cristo te iluminará.”

Efésios 5,14

No Evangelho de hoje, Cristo chama o jovem de Naim de volta à vida. Ele o prepara para uma nova tarefa na Terra.
Hoje em dia as palavras de Paulo acima podem nos orientar. Elas são muito atuais.
Diferente do jovem falecido que recebe a atuação direta de Cristo, nós precisamos dar os primeiros passos nessa atuação. Nosso desenvolvimento está em nossas próprias mãos. Precisamos despertar para o mundo espiritual e reconhecer seu atuar na Terra. Levantar e despertar nosso verdadeiro ser. Nosso ser eterno que não está submetido à morte. Desta forma nos preparamos para ouvir o chamado do Cristo a fim de nos erguermos como seres espirituais atuantes na Terra em sua luz: “Levanta-te”.

Julian Rögge

Reflexão para o domingo, 18 de setembro

Fra Angelico – Na Roda dos anjos vão entrando os seres humanos.

„Como as altas estrelas giram

Eternamente em harmonia,

Assim o curso das nossas vidas

Deve ser claro como elas.

No pequeno e no grande

Quer Deus se manifestar!“

Assim começa (traduzida livremente aqui) uma canção alemã… De fato, quão harmonioso se nos revelam os ritmos cósmicos do dia e da noite, das semanas e dos meses, das estações do ano! Como podemos sentir que a nossa vida é carregada por estes ritmos cósmicos, expressão da atuação grandiosa de seres divinos!

No entanto, cada criatura na natureza precisa de um corpo e assim precisa de dispor de algo deste imenso manancial do universo. Quanto mais complexo um ser vivo, mais ele precisa extrair algo do seu meio ambiente.

Uma criança quando nasce é ainda bem desprovida, nua não possui ainda nada, mas para crescer e se desenvolver precisa de recursos, de experiências e aprendizados. Ela precisa se enriquecer para vir a ser um ser humano, que poderá mais tarde agir com autonomia no mundo. Hoje se levanta com grande urgência a questão: Como a humanidade pode dispor dos recursos naturais sem destruir o equilíbrio de vida na Terra?

Na verdade, o que cada ser humano utiliza como se fosse sua propriedade é apenas um empréstimo que ele toma do universo, dos deuses, incluindo o seu próprio corpo. Temos uma grande dívida para com os Deuses, como expressamos no Pai Nosso.

De uma forma ideal, Eu empresto em reverência substância divina para a minha existência na Terra. Eu disponho dela para poder me elevar ao plano divino, para dotar a minha alma de sentidos superiores, para abarcar a sabedoria divina, para deixar fluir a minha gratidão para Deus, para dedicar todas as minhas ações para o prosseguimento da obra divina, para um futuro glorioso.

No entanto, diante do estado de calamidade em vários lugares da Terra e na humanidade realmente se deveria questionar: “São os recursos da natureza propriedade do ser humano? Pode ele os utilizar a seu bel prazer para acumular riquezas, produzir sempre vez mais, a procura somente de lucros? Qual o sentido de todo o esforço da humanidade na técnica e na ciência se não para trazer frutos para a continuação da obra divina de luz e vida?

Cultivemos, portanto, com empenho nossa relação com o mundo divino – a nossa pátria primordial – pois deveríamos tentar solucionar o grande enigma da nossa existência: Por que o mundo divino investiu tanto no ser humano, o tornou tão rico, lhe concedendo a consciência, a fala, a escrita, as artes, as ciências? O que ele como ser espiritual pode gerar de novo, retribuindo o que recebeu e acrescentando o seu elemento especificamente humano à obra divina?

Quando deixamos as nossa tarefas cotidianas e nos dirigimos ao Ato de Consagração do Homem, realizamos um ensaio do que pode ser a realização da meta espiritual da Humanidade. Ouvimos a palavra do evangelho, em veneração à revelação de Cristo. Um dia esta palavra será acolhida com bastante calor em nosso coração, ela queimará como uma brasa que nos levará a querer oferecer a nossa própria substância individual para a vida do mundo. Assim nos uniremos ao feito do Cristo, assim poderemos nos erguer no momento da comunhão e dirigir o nosso corpo ao âmbito do altar para participar, comungar com as forças divinas, que levam à evolução universal. Cada um que se aproxima do altar acrescenta o fruto do seu desenvolvimento individual à obra divina. E o círculo da vida, a roda da vida crescerá e se expandirá!

Helena Otterspeer

Reflexão para o domingo, 11 de setembro

Época de Trindade

Referente ao perícope de Lucas 17, 11-19

Os sentimentos do samaritano curado nos indicam o que é uma resposta legítima à benção recebida. Esses sentimentos nos mostram o que é uma experiência real da vivência do encontro com o Cristo. Ela começa com a consciência de sua cura. Ele volta e agradece efusivamente pelo benefício recebido, com gesto de adoração. Em Jesus notamos uma reação surpreendente, ao constatar que só um estranho retornou para agradecer. Sua fé funcionou como uma certificação da benção recebida. Para nós, humanos, a vida significa que somos desafiados de várias maneiras todos os dias a encontrar nosso caminho na vida cotidiana do mundo. Como cristãos, sabemos que nosso objetivo é a realização de nossa humanidade. Se seguirmos os sinais da cura e da fé em nossas vidas, não perderemos o caminho para essa realização. Esses sinais existem porque Cristo está vivo e nos acompanha ate o fim dos tempos. A presença de seu reino pode ser experimentada por nós, humanos, quando abrimos nosso coração e isso foi o que o samaritano fez. Sua fé o ajudou. E quanto aos outros nove curados, por que não retornaram para agradecer? Eles nos dizem algo sobre as oportunidades perdidas em nossas próprias vidas, sobre as curas que tomamos como garantidas, sem nos darmos conta dos milagres que cotidianamente ocorrem em nossas vidas. Eles nos dizem algo sobre a falta do cultivo da gratidão em nosso mundo. Eles nos dizem algo sobre dar e receber. Quantas vezes por dia a alegria e o agradecimento ocorrem no contexto de dar e receber? Quantas vezes abrimos nosso coração quando estamos lidando com outras pessoas? Sempre que encontramos cura em nossas vidas, podemos acreditar, que damos passos para o encontro com Cristo.

Carlos Maranhão

Reflexão para o domingo, 4 de setembro

Época da Trindade

Referente ao perícope de Lucas 10, 38-42

Ao observarmos arbustos e árvores percebemos dois gestos bem diferentes. Arbustos crescem com vários galhos e não criam um forte tronco central. Sua força se divide entre todos os galhos. Árvores tem um tronco mais visível e mais forte. Sua força é mais concentrada no tronco. Isso lhes dá força de se manterem nos ventos e tempestades.
Em Marta e Maria encontramos esses dois gestos da natureza. Marta faz muitas coisas ao mesmo tempo, dispersando suas forças em várias tarefas. Maria concentra suas forças e ouve as palavras do Cristo. As duas realizam gestos contrários.
Na nossa vida é importante não nos dispersarmos em nossas tarefas. Precisamos a força de nos concentrar para formar um ‘tronco’ forte. Isso é importante para qualquer tarefa.
Para a vida religiosa a concentração é indispensável. Precisamos dela para orar, para celebrar um sacramento em conjunto e para ouvir a palavra de Deus. Através da prática religiosa fortalecemos a nossa individualidade, o nosso ‘tronco’, que nos mantém eretos nas tempestades da vida.

Julian Rögge

Reflexão para o domingo, 28 de agosto

Época da Trindade
Referente ao perícope de Marcos 7, 31-37
No Evangelho de hoje há um gesto que não encontramos nem no reino mineral, nem no reino vegetal. Ele começa a se desenvolver no reino animal, mas só entre os seres humanos pode realmente mostrar seu valor. Isso é a livre ação em prol do outro, a ajuda para o outro. No Evangelho de hoje o pedido de ajuda possibilita o atuar do Cristo.
A ajuda para o outro ser humano é uma força que forma comunidades. No pedido de ajuda para o outro, como o encontramos no Evangelho, também atua essa força. A cultivamos nas pequenas e grandes ações do dia a dia. Quando ajudamos outra pessoa, quando percebemos uma necessidade em uma comunidade e a sanamos e quando pedimos em uma oração ajuda para alguém que a precisa.
Pouco a pouco formamos assim comunidades. Comunidades que formam um recipiente para as forças do Cristo. Através delas Ele pode atuar na Terra.
Julian Rögge

Reflexão para o domingo, 21 de agosto

Referente ao perícope de Lucas 18, 35-43

Heráclito, o antigo iniciado de Éfeso cunhou nas palavras: „tudo flui“ (Panta rei) uma profunda verdade. Tudo está em constante transformação, em constante devir. No fluxo da transitoriedade das coisas o ser humano pode sofrer muito nas crises do seu destino, sem poder ver o sentido dos acontecimentos, sem poder discernir a vontade divina, a meta espiritual no desenvolvimento da Terra. Ele então se encontra mendigando como o cego de Jericó à beira do caminho, que não percebe que está se manifestando diante de si uma força divina, eterna que já atua desde os primórdios dos tempos e está construindo o futuro. Ele se encontra deploravelmente à margem do caminho, à margem dos acontecimentos decisivos.
No entanto, o ser humano é questionador, ele quer romper as muralhas da transitoriedade para fundamentar sua existência no eterno, no espiritual. Assim o cego questiona sobre o movimento da multidão e fica sabendo que Jesus de Nazaré está passando! O cego eleva sua voz e chama por Jesus, filho de Davi. Nas suas palavras reside o sentido pela atuação do eterno no mundo sensível, transitório. Davi foi escolhido por Deus, desde sua infância, foi ungido por Samuel, se tornou o rei dos israelitas, apesar de muitas perseguições e perigos. Ele teve a visão do templo em Jerusalém, que então pode ser construído por seu filho Salomão. Enfim, apesar de todos os seus desvios e erros, ele conseguiu acolher em sua alma a força messiânica prometida para o povo israelita. Em seus salmos ouvimos palavras que mais tarde foram proferidas por Cristo, Ele mesmo!
Duas vezes se ouve o clamor alto do cego. Jesus Cristo para, resgatando aquele que se encontrava à beira do caminho e inserindo-o no fluxo dos acontecimentos. Jesus Cristo pergunta pela intenção do cego, sua pergunta é um estímulo para que este se torne consciente da sua natureza espiritual e aspire por fundamentar sua existência neste âmbito. O cego responde: “que Eu veja!“. No “Eu sou“ se manifesta o elemento espiritual eterno no fluxo da transitoriedade terrena. O cego, tendo ele mesmo despertado a força crística em si, faz a diagnose da sua “doença“ e prescreve a sua “cura“. Jesus Cristo apenas sela este processo com as palavras: “a tua fé te curou“. Com estas palavras os olhos do cego se abrem, como se caísse a muralha que o separa do espírito, como se ele tivesse encontrado a fonte de uma nova existência, a fé. Também a cidade de Jericó, considerada a mais antiga cidade do mundo, se formou como um oásis na região árida da Judeia, em torno de uma fonte. Outrora, quando o povo israelita, liberado do jugo egípcio, voltou à terra prometida e atravessou pela primeira vez o Jordão, Jericó foi a primeira cidade que “conquistou“. As poderosas muralhas caíram diante da força espiritual dos israelitas que, guiados por Joshua (outra forma do nome Jesus) e carregando a arca da Aliança com as tábuas da lei, circundaram por dias as muralhas da cidade de Jericó ao som das trombetas. Assim o povo israelita pôde conviver com os povos vizinhos exercendo sua missão espiritual.
O cego que se tornou vidente, vidente espiritual, segue o Cristo e manifesta a atuação divina em sua atuação. Agora ele mesmo será um portador do Espírito, um cristão e outros poderão conquistar a visão espiritual e louvar a Deus em pensamentos, sentimentos e ações.
Com o cego curado continuamos nosso caminho em várias etapas, até a festa de Micael. Queremos estar imbuídos pela força da fé. Queremos poder contribuir para o fluxo dos acontecimentos, que no momento muito nos abalam, no sentido de Cristo. O seu caminho o levou das profundezas de Jericó, situada a cerca de 300 m abaixo do nível do mar, às alturas do Gólgota em Jerusalém, quase 1000 metros mais elevada. Para os olhos exteriores se desenrolou o maior drama da Humanidade. Jesus Cristo sofreu a morte da Cruz! Para os olhos espirituais se iniciou a Ascensão da natureza terrena do ser humano para uma existência espiritual eterna!

Helena Otterspeer