Reflexão para o domingo, 21 de novembro

Época de Trindade

Referente ao perícope de Apocalipse 21


Quando no inverno severo a vida já se retirou da atmosfera e as folhas caíram e pereceram no chão, os botões de muitas árvores já estão prestes a anunciar o futuro e novo ciclo de vida! Como é tão diferente quando o ser humano olha hoje para a extensão da destruição da natureza em vários locais da Terra, bem como para a miséria de tantas pessoas com fome e em fuga, e para os abismos sombrios da alma humana! Será que nestas situações ainda se pode reconhecer algo que poderia inaugurar uma nova fase de vida?

Estará a humanidade à beira da decadência total, da destruição total? Será que o nosso legado para as próximas gerações será apenas a falta de esperança e perspectiva?

Ao escrever o Apocalipse, João se encontrava numa profunda crise de vida. Tinha sido banido para sempre para o exílio na natureza inóspita e selvagem da ilha de Patmos, para a solidão. Além disso, a perseguição impiedosa dos cristãos estava se espalhando por todo o Império Romano.

No entanto, não tinha João estado ao lado de Jesus Cristo na Última Ceia? Também como testemunha ao pé da cruz, não foi ele que ouviu então as palavras de Cristo? Não foi ele que viu o sangue vivo fluir do Seu coração após o Seu último suspiro? Não encontrou ele o Redentor, o Novo Homem, que muito lhe ensinou nos 40 dias da Páscoa? Assim, naquele domingo em Patmos, o véu, que geralmente encobre o mundo espiritual, se desvendou para João, para o discípulo amado!

Das nuvens escuras surgiu para João a figura reluzente do Filho do Homem, como um botão, um rebento de uma nova humanidade, de uma nova Terra. O Filho do Homem, que foi, que é, que virá a ser. Ele abarca todos os ciclos dos tempos em Si mesmo, passado, presente e futuro, o começo e o fim! Ele é, ao mesmo tempo, evolução e superação. Ele sustenta o ser humano na morte, nas trevas e na destruição, para levá-lo para a vida, para a luz e para um novo amanhecer! O Filho do Homem, o Redentor, passou a ser, para João, a verdadeira realidade em que a humanidade vive. Esta realidade só pode ser percebida com os olhos interiores da alma humana. Desde então, pode-se dizer que foi inaugurada a descida do que virá a ser a Nova Jerusalém e a nova humanidade. Através DELE poderemos contribuir para a continuação do sacrifício de amor no Gólgota, para a salvação, ou seja, para a transformação e espiritualização da Terra e da Humanidade.

Podemos imaginar que João se fortaleceu na contemplação da majestade do Filho do Homem, como descrito no começo do Apocalipse. No entanto, não lhe foi poupado vislumbrar quais os desafios que necessariamente aparecerão no futuro para o ser humano e para os mundos espirituais. Vislumbrar, sobretudo, os desafios do ser humano ao se deparar com os seres espirituais adversos, que atuam para o mal, querendo impedir que a humanidade alcance sua meta espiritual. Estes seres espirituais são muito mais poderosos do que o ser humano! Eles atuam cada vez mais destrutivamente na civilização humana, sobretudo através da técnica, do comércio e da indústria. Sim, estes são os âmbitos da atividade humana em que penetramos mais profundamente nas cadeias da matéria e esquecemos o espiritual. Pode-se dizer que a característica principal da nossa civilização se encontra nesta atuação destrutiva dos seres adversos, que antes da época cristã ainda se encontravam controlados por outras entidades divinas do bem.

João teve que ir se fortalecendo para enfrentar e aceitar todos os desafios manifestos pelo Apocalipse. Ele mesmo foi chamado no Apocalipse a digerir o Evangelho, para que este se tornasse uma parte de sua própria natureza. Nós também podemos nos fortalecer contemplando o Apocalipse na última época do ano cristão, antes que o novo ano cristão se inicie com a celebração do Advento. Temos que aceitar este fato de que o ser humano irá cada vez mais se deparar com as forças do mal. Isto significa que ele também sucumbirá ao mal, mas que terá com o Cristo a oportunidade de vir a conhecer a natureza das forças adversas, para que possa superá-las e, assim, construir a partir do espírito, ou seja, de cima para baixo, a Nova Terra, a Nova Jerusalém. Um grande esforço será exigido do ser humano a partir de agora. Sempre elevar os seus pensamentos, sempre estar alerta para os avanços constantes do mal, alerta para decidir pelo bem, como um seguidor de Cristo. Neste esforço, a alma humana irá se transformando e vestindo a sua natureza cósmica de noiva do espírito. Somente com Cristo poderemos enfrentar os desafios do futuro e construir a nova existência a partir do espírito.

Jesus Cristo disse: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida”. Quem se tornar Seu seguidor, quem procura a verdade, quem quer dar a sua vida pela Sua obra, poderá vê-lo, mesmo quando tudo se encontra num processo de decadência e de morte. Com e por Ele, surge no interior da alma humana o novo, a vida eterna. O velho mundo, a velha Terra, lá fora, não existirá mais, mas sim o ser humano em comunhão com Deus e com todos os seres divinos. Esta é a Nova Jerusalém, no meio da qual brota a fonte da água da vida.

Helena Otterspeer

As duas imagens são de manuscritos do Apocalipse dos séculos X e XI, com comentários de monges cristãos que se retiraram para conventos nas fortalezas rochosas ao norte da Espanha para resistir à invasão árabe e sua predominância religiosa na península ibérica. São testemunhos de uma tradição artística inédita, estilo denominado de moçarábico, ou seja, de influência visigoda e ao mesmo tempo árabe, mas com conteúdos cristãos. Esta resistência levou ao êxito da ”reconquista” e expulsão dos árabes da península ibérica. Nesta época estes monges inauguraram o caminho de Compostela para que os fiéis se fortalecessem na sua fé.

Figura 1: O Filho do Homem com os sete candelabros acima, e as sete estrelas ao lado, tocando João para que ele não se aterrorizasse. Na parte de baixo, João leva as cartas para as sete comunidades.


Figura 2: Apocalipse 12: A virgem cósmica pronta a dar à luz, ameaçada pelo dragão de sete cabeças e a luta da legião de Micael contra a legião do dragão. A legião do dragão sendo arremessada para a Terra.

Reflexão para domingo, 14 de novembro

Época de Trindade

Referente ao perícope de Apocalipse de João 7, 9-17

Antigamente as roupas eram lavadas à mão e depois colocadas ao sol. O sol as branqueava e secava.

Precisamos também lavar e branquear as roupas do nosso ser, da nossa alma e do espírito. Esse processo requer um intenso trabalho. Durante a vida passamos por muitos momentos difíceis, por tentações e muitos erros. Isso faz parte do caminho da vida e de nosso desenvolvimento. Aprendemos através dos nossos erros e, no processo de aprendizagem, pouco a pouco lavamos as nossas roupas. Assim nós nos preparamos para o encontro com o Cristo. Ele, como ser solar, nos acompanha e guia para prepararmos e vestirmos nossas roupas brancas. Diferente das roupas colocadas ao sol, nós precisamos ser ativos em todo esse processo. Pouco a pouco vestiremos as roupas brancas e serviremos cada vez mais ao Cristo.

Julian Rögge

Reflexão para o domingo, 7 de novembro

Época de Trindade

Referente ao perícope de Apocalipse de João 3

As sete estrelas são as estrelas pelas quais entendemos o que o homem é hoje e o que ele deverá se tornar no futuro. Sardes corresponde à nossa época, a quinta igreja, a quinta época pós-atlântica, a época da alma da consciência. E isso significa saber que em nosso tempo, quando se desceu mais profundamente na matéria, trata-se agora de elevarmo-nos à vida espiritual. As sete estrelas nos guiam nesse caminho espiritual. É importante para nós que justamente em nossa época, possamos nos conscientizar do perigo de entregar-se à morte em vida. A visão materialista de mundo não é outra coisa, a não ser essa pulsão de morte.
Vivemos numa época extremamente rica, pois ela marca justamente a transição para o despertar do espírito. Queremos, no futuro, fazer parte desse grupo dos que foram capazes de purificar suas almas para poder vestir as vestes brancas e poder ter o seu nome escrito no livro da vida. Essa é a meta de perfeição à qual nos aponta a mensagem apocalíptica. Ela não indica o fim dos tempos, mas o início dos novos tempos em que o ser humano se encaminha, com a forca de Cristo, à superação da morte, à celebração da vida.

Carlos Maranhão

Reflexão para o domingo, 31 de outubro

Época de Trindade

Referente ao perícope do Apocalipse de João 1, 9-20

Desde o nascimento estamos em um caminho de desenvolvimento. Aprendemos a andar, a falar e a pensar. Em um ambiente saudável esses processos acontecem naturalmente. Os recebemos como uma semente que cresce em nós. No percorrer da vida precisamos tomar o nosso desenvolvimento cada vez mais nas próprias mãos.

Hoje lemos sobre a grandiosa imagem do filho da humanidade. Nele aparece a meta do desenvolvimento humano. Desde o mistério do Gólgota temos a semente para esse desenvolvimento em nós. A semente das forças crísticas. Diferente do começo da nossa vida, ela não vai se desenvolver naturalmente. Para chegar a meta de desenvolver as forças crísticas em nós, são necessários todo nosso esforço e toda a nossa perseverança. Com momentos de silêncio, orações e com os sacramentos, fortalecemos a semente. Pouco a pouco ela crescerá e nós nos desenvolveremos para o futuro da humanidade.

Julian Rögge

Reflexão para o domingo, 24 de outubro

Época de Micael

Referente ao perícope da Carta de Paulo aos Efésios 6

Longino — Mosaico da igreja do convento de Nea na ilha grega de Chios – século XI

Já no momento da morte de Jesus na cruz surge pela atuação do soldado romano, conhecido na coletânea de lendas medievais e no apócrifo de Nicodemus, como Longino, a figura do cavaleiro a serviço de Deus, que mais tarde se tornará o cavaleiro do Graal, a serviço da obra de fortalecimento da Terra e da natureza humana pelo sangue de Cristo. Esta figura também inspirou os templários entre os séculos XII e XIV, que eram ao mesmo tempo monges e cavaleiros e que se designavam como pobres cavaleiros de Cristo. O sangue do Graal, recolhido por José de Arimateia no cálice da Última Ceia, não é o sangue que correu dos seus flagelos e das feridas nas mãos e pés pelos cravos da Cruz, mas especificamente daquela ferida causada pela lança de Longino logo após o último suspiro, da morte de Jesus na cruz. A lança de Longino transpassa o corpo de Jesus pelo lado direito até o coração e abre as comportas para o fluxo desta nova substância viva, que agora deve jorrar por toda a Terra, o sangue de Cristo, a matéria completamente transformada pela força divina, a substância que supera as forças da morte e das trevas, a substância de vida primordial e da vida eterna. Longino, descrito na lenda como cego, passa a enxergar e se torna um cristão. No evangelho de João se descreve sucintamente este momento tão enigmático, em João 19,33-37. Os soldados romanos estavam prestes a quebrar as pernas de Jesus na cruz, segundo as normas romanas da crucificação. No entanto, a profecia dizia que seus ossos não seriam quebrados, como assim também, há séculos na celebração da Páscoa judaica, não eram quebrados os ossos do cordeiro Pascal. De uma maneira enigmática parece que a ressurreição dependia da integridade dos ossos no corpo do Messias. Sabemos realmente que dentro da substância morta dos ossos,  na medula, se forma a substância viva do sangue. Neste momento decisivo, como por uma inspiração divina, como retrata o olhar de Longino no mosaico acima, ele impele a sua lança, que transpassa o coração de Jesus, impedindo assim a ameaça da quebra dos ossos. Da ferida do cadáver flui inesperadamente sangue e água. Isto de um corpo morto inerte, de maneira tão surpreendente que, segundo as palavras do evangelho, quem vê reconhece a verdade e com isto encontra a fé. Segundo as visões de Catharina Emmerich, que sofria as dores da Paixão de Cristo pela sua estigmatização e podia com isto testemunhar, como um contemporâneo daquela época, os acontecimentos do Calvário, o sangue que saiu desta ferida jorrou com toda pureza e transparência, como de uma fonte de água viva, tendo sido acolhido por uma rocha ao pé da cruz, onde pôde ser coletado pelas mulheres, testemunhas do martírio, e mais tarde da ressurreição. O sangue divino foi liberado dos limites estreitos do corpo mortal de um ser humano, podendo ser integrado nos amplos círculos climáticos da Terra, na circulação da água de rios e mares com a atmosfera e as nuvens da Terra. Este sangue está completamento curado das forças do egoísmo e pode servir às forças divinas e cósmicas do amor. A Terra acolhe este sangue que flui do coração de Jesus, mas também mais tarde, na hora da descida do corpo de Jesus da cruz, José de Arimateia também o fará, se tornando assim um portador do Graal, da força transformadora do sangue de Cristo, do seu Eu divino. O ser humano que serve o Cristo se torna um portador do Graal, um cavaleiro do Graal. A lenda conta que José de Arimateia, por sua vez também seguindo uma inspiração divina, vai levar o Graal, o sangue de Cristo, para o Ocidente, espalhando gotas no solo desde o sul da França até as regiões mais ao norte da Irlanda. Com isto ele prepara o solo da Europa, mas também seus povos e aqueles que para lá migram, para que possam acolher mais tarde a palavra do evangelho, a palavra viva do Redentor. Posteriormente não se tem mais notícias do Graal, ele desaparece, pois agora não se encontra mais como uma substância viva no exterior, mas sim uma substância viva no interior, na alma do ser humano, no coração do cavaleiro do Graal.
Esta imagem de um cavaleiro a serviço de Deus tem sua origem nos mundos divinos, onde Micael dirige seus exércitos para lutar com as forças do dragão. Ele vence a batalha e joga o dragão e seu exército para a Terra. Como assim? Que enorme desafio Micael e seu exército jogam e deixam para a humanidade e para Terra! Isto é incompreensível, talvez até mesmo inaceitável vindo da parte dos seres divinos! No entanto, os atos dos exércitos celestes que não são tão compreensíveis para a lógica humana, refletem sempre uma necessidade, uma justiça dentro do mundo divino e cósmico. Assim chega a época no desenvolvimento da Terra e da humanidade em que as forças dos seres adversos, dos seres do mal não podem mais ser contidas pela regência divina, mas são um desafio para a alma humana, para o Eu Sou, que foi instituído por Cristo e poderá compartilhar das suas forças da ressurreição com a alma humana. Devemos às forças adversas o fato de podermos nascer como seres humanos, como cidadãos da Terra, abandonando a existência pré-natal em comunhão com o espírito. Na Terra, no entanto, poderemos encontrar o Cristo e servir à sua obra divina. Também devemos a estes seres do mal o fato de morrermos, o que por outro lado nos permite uma vivência do mundo pós-morte e, com a ajuda de Cristo, a formação de um novo carma para a próxima encarnação, ou seja, uma chance de desenvolvimento futuro. O processo exterior que acontece no corpo de maneira inconsciente entre o nascimento e a morte deverá no futuro acontecer de maneira consciente no interior da alma humana, ou seja, conduzir as forças do mal para que o bem possa persistir. Portanto, o desafio do futuro será que o ser humano se depare com as forças do mal, aprenda a reconhecê-las e a superá-las com as forças da ressurreição, com o Eu do Cristo. Cristo realizou seu ato de amor para permitir ao ser humano enfrentar este desafio no futuro.
As forças do mal não estão mais, como antes do advento do Cristo, controladas e compensadas por forças divinas para servir o bem. Elas foram liberadas e estão agora nas mãos da humanidade, predominando na ciência, na técnica, na industrialização e no comércio*. Todas as descobertas que envolvem eletricidade, magnetismo e radioatividade, ou seja, de origem técnica, estão a serviço das forças adversas. Isto traz consigo uma destruição do organismo vivo da Terra, um enfraquecimento da existência física do ser humano. Isto é inevitável, pois não poderá ser revertido por nenhuma atitude de retorno a uma existência „natural“. Devemos portanto estar preparados para aguentar uma época em que não será mais possível voltar ou recuperar a integridade exterior da vida original terrena. A integridade deve ser procurada numa relação interior da alma humana com o Cristo, para que, num plano superior, uma nova Terra e uma nova humanidade sejam possíveis no futuro. O ser humano do futuro será um cavaleiro a serviço do Cristo, do seu Eu superior e a sua armadura, a sua espada, o seu escudo e elmo serão qualidades da sua alma, que vai se espiritualizando pela atuação do Eu do Cristo, se iluminando, se purificando, se fortalecendo para enfrentar as forças exteriores de declínio cultural! Os templários tinham o costume de assistir à missa como cavaleiros, montados em seus cavalos. Nós também podemos aprender a vestir a armadura de cavaleiro, a nos preparar para lutar com o escudo e a espada de Cristo, celebrando o Ato de Consagração do Homem, recebendo o pão e o vinho como corpo e sangue de Cristo.

Helena Otterspeer

*conferências de R. Steiner da GA 177 dos dias 6 e 7/10/1917 em Dornach

Alexandre, o Grande de Rembrandt

Reflexão para o domingo, 17 de outubro

Época de Micael

Referente ao perícope de Apocalipse 19, 11-16

“O que há em um nome? Aquilo que chamamos de rosa por qualquer outro nome teria um aroma igualmente doce. ” Shakespeare. E, no entanto, somos distintos das rosas e o nome nos indica uma identidade, dirige-se a alguém muito particular e individual, ainda que outras pessoas possam ter o mesmo nome, no meio em que vivemos somos chamados por esse nome com o qual nos identificamos. Mas essa ainda é uma identidade provisória, exterior, não ainda condizente com o nosso verdadeiro ser. O fato é que cada indivíduo é como uma espécie em si. O nome que só pode ser chamado por aquele que se refere a si mesmo é “Eu”. E isso indica uma autoconsciência à qual o ser humano chegou não faz muito tempo e que, no entanto, ainda não está plenamente desenvolvida. O cavaleiro que vem montado num cavalo branco, tal como está descrito no Apocalipse 19, apresenta vários nomes: “Fiel e Verdadeiro”, o “nome que ninguém sabia, senão ele mesmo”, ou seja o “Eu sou”, “Palavra de Deus”, ou seja o Logos, e finalmente “Rei dos Reis e Senhor dos Senhores”. O nome da rosa pode ser arbitrário, mas o nome de cada indivíduo humano que se escreverá nas estrelas, este é próprio de cada um e só será escrito quando este “Eu” alcançar a plena consciência de ser filho de Deus. Para isso veio o Cristo ao mundo para reger com a espada de fogo que sai de sua boca, ou seja a palavra de Deus. O nosso vínculo com ele é o meio pelo qual aprendemos a reconhecer pouco a pouco quem realmente somos, ou seja o nosso verdadeiro nome.

Carlos Maranhão

Reflexão para o domingo, 10 de outubro

Época de Micael

Referente ao perícope de Apocalipse 12

Após a luta nos céus, o dragão caiu na Terra. Agora ele atua em nós e entre nós, nas relações sociais. Ele luta contra os seres humanos. Estamos sozinhos nesta luta?

Durante a batalha nos céus o dragão derrubou um terço das estrelas. Podemos imaginar que elas também caíram na Terra e que são forças celestiais. O arcanjo Micael conduz essas forças. Micael faz um sinal para os seres humanos segui-lo Ele quer nos levar a uma ligação cada vez mais profunda com as forças do Cristo. Através delas é possível vencermos as forças do dragão.

O mundo espiritual precisa de nós como parceiros nessa luta. Depende de nós darmos o primeiro passo e nos juntarmos às forças celestiais.

Julian Rögge

Reflexão para o domingo, 3 de outubro

Época de Micael

Referente ao perícope de Mateus 22, 1-14

O portal para a Época de Micael se abre com um convite:
“Tudo está pronto. Vinde pois, para o casamento.”
O convite é lançado a cada ser humano; aceitar ou não está em nossa liberdade.
Manter-se desperto para ouvir os chamados como: “Levanta-te” e “Vinde”, nem sempre nos é fácil.
Nossos sentidos seguem a nos turvar os ouvidos e a visão de nossa verdadeira missão na Terra: Preparar nossa alma para o casamento com o Cristo. A cada passo na Terra, corremos o risco de nos afeiçoarmos demais à condição do materialismo e do egoísmo, nos afastando assim de prepararmos nosso ouvido interior para os chamados do mundo espiritual. Corremos o risco até de nos voltarmos contra o chamado, matando em nós a flama que nos aquece e convida para a união com o divino.
Como prosseguir, se ao nosso redor muito nos leva para a região da escuridão onde imperam as lamentações e o ranger de dentes?
Um primeiro passo poderia ser desenvolver a confiança no mundo espiritual. As hierarquias divinas não nos abandonaram, elas aguardam somente um gesto em sua direção para virem em nosso auxílio. A cada manhã e a cada noite, tentar uma aproximação com o mundo espiritual através de orações e agradecimentos, nos torna pouco a pouco dignos de recebermos a veste nupcial. Aquela que envolverá nossa alma e a tornará plena de percepção para o chamado.
Perseverar neste caminho nos levará ao encontro do tão esperado noivo.

Viviane Trunkle

Reflexão para o domingo, 26 de setembro

Época de Trindade

Referente ao perícope de Lucas 7, 7-17


Jesus Cristo ressuscita o filho da viúva de Naim- século XVI- Lucas 7,11-17

Desde quando o Homem se pôs a caminho por si mesmo e sua alma foi se afastando da sua origem divina e se tornando cada vez mais individualizada, desde então conhecemos o drama da viúva. Primeiro da deusa viúva, depois da mulher viúva e finalmente da própria alma humana viúva. Na mitologia egípcia podemos compartilhar o luto e desespero da deusa Ísis, quando ela fica sabendo que seu cônjuge e irmão, o Deus Osíris fora assassinado pelo seu irmão Seth. O seu corpo foi decepado em 14 pedaços e distribuído por todo o país. Ísis procura e junta todos os pedaços e faz Osiris reviver por pouco tempo para que ele possa fecundá-la. Ela engravida e nasce seu filho Hórus, que assume a regência do pai. Osíris, o pai, representa o sol da noite, o inconsciente cósmico e também a ligação com o mundo dos mortos. Hórus representa o sol nascente da manhã, a consciência diurna desperta, clara e em expansão. Ísis mantém a ligação viva entre pai e filho, entre Espírito e corpo, entre a noite e o dia. Na ilustração abaixo vemos como o mistério da noite e dia, tal como era vivenciado pelos egípcios através da deusa Ísis, que de manhã dá à luz o sol nascente, Hórus e, à noite, engole, se apropria do sol poente, para que seja fecundado por Osíris na noite e possa renascer ao amanhecer.


A deusa Nut, mãe de Ísis, mas também conhecida como mãe de Hórus e esposa de Osíris. As deusas Nut e Ísis se confundem na mitologia. Vemos a trajetória do sol exterior e o sol interior no corpo da deusa que será fecundada por Osíris, o Deus da noite e do oculto.

Também no Antigo Testamento, no primeiro livro dos Reis, capítulo 17 (1, Reis 17) ouvimos falar de uma viúva. A ligação das tribos israelitas do Norte com o seu Deus vivo, Jeová, foi sendo corrompida por antigas e decadentes tradições de adoração do Deus do Baal. Por isso, Elias, o profeta de Jeová anuncia ao rei um longo e extremo período de seca em todo a região, pois também o rei e sua esposa cederam à tentação do Baal. Elias vai ser então perseguido pelo rei e pela rainha e foge guiado por seu Deus Jeová, que se compromete a alimentá-lo na fome vigente. Assim ele é enviado para o portal da cidade de Sarepta, onde se encontra uma pobre viúva, que só dispõe de alimento para uma última refeição com seu filho. No entanto, ela oferece primeiro o alimento a Elias e dele ouve como Jeová prometera nunca mais vai deixar de ter farinha e óleo em sua casa. Lá passa a ser a morada de Elias até que um dia o filho da viúva adoece, exala seu último suspiro e morre. Elias se retira com ele para um aposento e o desperta novamente para a vida.

Elias à porta de Sarepta e a pobre viúva- Jan Massys- Bélgica-1565

Nestes dramas a viúva sofre ainda pela perda do cônjuge, do companheiro de vida que morre, como o espírito morre na percepção que o homem tem do mundo exterior. No entanto, ela ainda fica ligada ao mundo dos mortos, à noite, ao mundo oculto. Ela ainda tem o filho, que lhe confere uma perspectiva para o futuro. Mas o drama se intensifica e o filho morre também. Será que a ligação da alma com o mundo divino vai ser completamente rompida e não poderá ser recuperada? Isto teria terríveis consequências para a Terra, para o meio ambiente e para os povos, como no relato da seca e da escassez de alimentos na época de Elias. Pouco a pouco o drama da alma cósmica vai se tornando o drama da humanidade e de todo o mundo sensorial. Mas como constatamos, o mundo divino, a guia espiritual sempre possibilita uma mudança radical inesperada. Na época pré-cristã isso aconteceu pela intercessão dos deuses, neste caso da Ísis, de quem nasce o filho Hórus. Também no judaísmo acontece uma reviravolta por meio da intercessão do profeta, do mensageiro de Deus, Elias. O que era um drama entre os deuses vai se tornando um drama humano. Em Naim a procissão em luto é interrompida no encontro com o Cristo e seus discípulos. Jesus, como homem, profere as palavras decisivas e a alma do jovem volta ao seu corpo pelo Filho, pelo portador do espírito do sol, do Cristo.
A viúva de Naim representa a alma humana na época atual. O que ela traz do âmbito da noite, do âmbito espiritual não é mais suficiente para a vida na Terra e o que ela leva da civilização, da cidade para o mundo, está morto. Morte e lamentos são levados do âmbito da cidade para o mundo. Agora quem está de luto não é mais uma deusa, mas a alma humana pela perda do espírito, pelas consequências da pobreza espiritual. O esperado reino dos céus na Terra, ou seja, Jesus com seus discípulos interrompe e para a procissão em luto. Jesus toca o caixão e chama a alma do falecido de volta para a sua morada terrena, seu corpo. Jesus entrega o filho para a viúva. Ela o recebe e desperta o Filho em si, seu próprio Eu em Cristo. A alma enviuvada foi fecundada pelo Eu e se torna uma noiva, como viu João no Apocalipse: a imagem da Nova Jerusalém como uma noiva enfeitada para as núpcias. Primeiro acontece o casamento místico, a ligação da alma com o Espírito, com o Cristo, o noivo. Depois esta ligação irradia uma nova luz e uma nova vida na Terra, que vai sendo espiritualizada paralelamente à espiritualização da alma.
Poderíamos começar a contar hoje quanta miséria vivenciamos exteriormente no mundo, no destino humano e também no interior da alma humana, quantas doenças e ameaças. Mas já aconteceu a ressurreição do jovem de Naim e Jesus Cristo vive entre nós. Desde então muitos foram tocados por Ele e acolheram a sua palavra viva. Hoje poderia ser ouvida a pergunta já feita pelos discípulos a Jesus: „quem pode ainda ser salvo? “Mateus 17,25. Felizmente poderão alguns ouvir a resposta de Jesus Cristo: “Para o homem sozinho é impossível, mas pode ser possível pela força divina atuante no Homem.“
Desde a ressurreição o homem pode irradiar de seu coração, de sua alma a luz e a vida de Cristo para salvar as almas ameaçadas da morte e, com isto, toda a Terra também. ELE está sempre caminhando ao nosso encontro. Paremos, ouçamos e vivamos com Ele!

Helena Otterspeer

Reflexão para o domingo, 19 de setembro

Época de Trindade

Referente ao perícope de Mateus 6, 19-24

Na semana passada os Ipês-brancos floresceram. Foi uma beleza de poucos dias. Depois as flores caíram e rápido desapareceram. Nós seres humanos podemos guardar estes momentos tão belos em nosso coração e eles se tornam nosso tesouro.
Assim como a beleza dos Ipês, podemos guardar vários outros momentos no coração: O gesto carinhoso de uma pessoa, a alegria de superar um desafio, a satisfação de poder ajudar. Pouco a pouco esses momentos serão o tesouro de nosso coração. Um tesouro que é formado por situações nas quais sentimos o amor do outro, a nossa própria força ou o nosso destino. São nestas situações onde as forças crísticas estão presentes.
Podemos permitir que este tesouro brilhe cada vez mais através do nosso olhar, dos nossos gestos e ações. Assim levaremos as forças crísticas para o mundo.

Julian Rögge