Referente o Evangelho de Lucas 18,35-43
Havia um cego à beira do caminho, que clamava por COMPAIXÃO!
Pedir “com-paixão” significa que esperamos que o outro sinta algo da nossa própria paixão”, do nosso próprio padecimento. Podemos pedir isto a alguém? Podemos pedir isto a Cristo?
O cego à beira do caminho pediu, insistiu, clamou mais alto até ser ouvido…
É um consolo para todos nós sabermos que Cristo ouve nossa voz e se interessa
pelo nosso sofrimento, pela nossa dor, e Ele o faz porque tem com-paixão pelo ser humano e quer ajudá-lo. Entretanto, é importante não esperar tudo passivamente. Como o cego,
temos que ter a presença de espírito para perceber o que “passa” pelos
caminhos de nossas vidas; não deixar passar as oportunidades!
E então pode vir a pergunta: “… que queres que eu te faça?”
Não basta esperar que as forças divinas apenas olhem e sintam nosso padecimento ou nossos problemas e então tudo vai se resolver! Nós mesmos temos que ter clareza do que queremos.
Quantas vezes cultivamos nossas dores, gostamos de certos sofrimentos ou até nos sentimos bem sendo vítimas disto ou daquilo.
Por que o cego pedia com-paixão? Com certeza porque queria terminar com sua cegueira, queria experimentar, *ver*, a vida de maneira nova.
Ele não teve dúvida em responder: “… Senhor, que eu veja!”
Em todo processo de cura estes dois lados devem estar presentes: a vontade
de curar e a vontade de ser curado. Cristo, aqu’Ele que traz ao mundo a força sanadora, é capaz de sentir a dor humana, mas só pode agir se desta dor nasce a vontade de transformar algo. Cristo sempre respeita a liberdade do homem.
“… e o cego começou a enxergar e seguia Jesus.”
O que vem depois?
O Evangelho não relata. Apenas se diz que aquele homem começou a seguir Jesus. Se prosseguirmos a leitura dos Evangelhos, veremos que Jesus ao passar por Jericó estava indo em direção a Jerusalém.
Ao chegar lá, podemos ler nos capítulos seguintes, têm início os acontecimentos da Semana Santa, a última semana de vida de Jesus, que culminam com sua morte na cruz.
Aquele homem, aquele ex-cego, desde então, seguia Jesus. Poderíamos imaginar que ele foi um dos muitos que o acompanharam até Jerusalém. O que ele viu lá, agora que podia enxergar? A *paixão* daqu’Ele que o havia curado.
O cego iniciou pedindo compaixão e, de repente, depois de curado, ele mesmo é levado a presenciar o sofrimento do outro. Teria ele sentido COMPAIXÃO por Jesus?
Os evangelhos silenciam sobre isto…
Podemos, porém, refletir sobre nós mesmos. Quanto do que queremos ou desejamos mudar em nossas vidas – porque nos é incômodo ou doloroso – chegou a acontecer? Mas se chegou a acontecer, nos possibilitou ver as coisas de um modo bem distinto. O que fazemos depois de tais mudanças, ou mesmo depois de tais “curas”, depende em grande parte de nosso livre arbítrio.
Aqui, mais uma vez, o relato do cego de Jericó poderia nos levar à reflexão: ao pedir ao mundo espiritual que olhe para a nossa vida sofrida, temos a esperança de receber a força para mudar algo, mas, simultaneamente, teremos também a possibilidade de enxergar a dor e o sofrimento do outro e do mundo de maneira nova.
Quem clama por compaixão, merece recebê-la, mas estará também disposto a retribuir este olhar compassivo para o próximo?
Renato Gomes – Berlim, Havelhöhe