Referente à perícope do Evangelho de Lucas 1, 26-38
No momento, as cidades estão cheias de luzes decorativas de Natal. Nós as encontramos nas árvores de Natal, nas janelas e varandas das casas. Também acendemos luzes nas coroas do Advento.
Essa busca por luzes nos mostra um desejo interno. Queremos que a luz venha para o mundo e ilumine os nossos dias. Esperamos que a luz divina entre na escuridão terrena.
Na época do Advento, nós nos preparamos para receber essa luz. Ouvimos a anunciação do nascimento do menino Jesus. Escutamos como Maria abriu seu coração para ele.
Podemos nos perguntar: Ouvi a anunciação? Estou aberto para receber a luz divina no meu coração?
Podemos buscar momentos de silêncio nos quais vivemos com essas perguntas. Nelas preparamos nosso coração para receber a luz divina do menino Jesus.
À esquerda: Fra Angélico, século XIV. À direita: Ícone russo do século XVIII.
O Evangelho de Lucas, nos seus dois primeiros capítulos, abre-se com as anunciações do nascimento de duas crianças, João Batista e Jesus. A primeira anunciação é feita a Zacarias, ancião sacerdote no templo em Jerusalém, casado com Elisabeth. A segunda, seis meses mais tarde, a Maria, jovem ainda solteira, prometida a José. As duas anunciações são reveladas por um anjo a descendentes sacerdotais de Aarão, mas o restante dos respectivos contextos são bem diversos. A primeira é dirigida ao pai de João Batista, Zacarias, de idade avançada, respeitado sacerdote casado com Elisabeth, também idosa e estéril. A segunda, dirigida a Maria, singela mãe de Jesus, ainda bem jovem e não casada.
O filho de Zacarias, João Batista, “carrega em torno de seu corpo o espírito do Pai” (epístola do Ato de Consagração do Homem na época de João), carrega nobremente o espírito primordial da criação do ser humano à imagem e semelhança de Deus. Ele prepara a vinda do Cristo, nele está representada toda a corrente espiritual do passado convergindo para esse acontecimento principal e único da história da humanidade: a encarnação do Filho de Deus num ser humano, em Jesus, a revelação do espírito no mundo físico-sensorial.
O filho de Maria, Jesus, oferecerá seu envoltório corpóreo ao Cristo, que como Filho do Homem, pela ressurreição, será o primogênito dos que nascerão do reino dos mortos, o primogênito de uma segunda criação, denominado por Paulo como o segundo Adão. Nele reside o germe do futuro.
Passado e futuro se encontram no que dá o profundo sentido à obra do Cristo, a ser revelada pelas palavras do Evangelho.
Nas imagens acima, as asas dos respectivos anjos apontam para um âmbito maior do que o espaço específico do acontecimento histórico: para a porta aberta no templo e para o jardim da morada de Maria, respectivamente. Sobretudo na obra de Fra Angélico, as asas do anjo Gabriel se estendem para o jardim fora da casa, onde no fundo está representado o Querubim expulsando Adão e Eva do paraíso. No processo de concepção de um ser humano somos levados a um âmbito bem além do espaço e do tempo, aos mais remotos primórdios da humanidade, quando pelo Logos, pela palavra divina o ser humano foi criado. Momentos especiais, arquetípicos na evolução da humanidade nos revelam essa verdade: NASCEMOS DE DEUS, do espírito. Assim também foi anunciado o nascimento de Abraão e de seu filho Isaac, quando seus pais já estavam bem idosos. Podemos mesmo contemplar tempos remotos, em que o ser humano ainda não havia se encarnado num corpo próprio, ainda sendo gerado pelos espíritos da Terra (Elohim), vivendo ainda no colo da nossa mãe Terra.
No entanto, as palavras dos anjos na anunciação apontam sobretudo para o futuro.
João Batista vai se colocar completamente a serviço da vinda do Senhor, vai preparar o seu caminho, vai formar o círculo dos discípulos, em cujo meio atuará o Cristo, enfim, vai batizar Jesus.
Jesus vai colocar a sua morada terrena completamente à disposição do espírito do Cristo. O mistério do Gólgota vai poder acontecer na Terra sobretudo graças a esses dois seres, que se sacrificaram por toda a humanidade. MORREMOS EM CRISTO.
Com a ressurreição e a vitória do Eu Sou do Cristo sobre as forças da morte, o ameaçado futuro da humanidade e da Terra se revela como uma estrela guia. Torna-se possível para todo ser humano alcançar novamente sua consciência espiritual perdida, agora numa nova clarividência sem a perda da sua autoconsciência. O acesso à comunidade dos seres divinos faz do ser humano um colaborador na obra divina para sempre.
Depois de uma longa época descendente, em que a consciência espiritual foi se turvando até o mais radical materialismo, o Eu individual agora está desperto. Agora cabe a esse Eu individual, com a força de Cristo, acompanhar no futuro, conscientemente, com as forças do coração a ascendente revelação divina que se abre novamente aos sentidos humanos. Desde a ressurreição, o Cristo vem se manifestando na Terra e agora pode ser acolhido pela alma humana no processo de reintegração na sua pátria espiritual. O futuro imediato do ser humano é o acender dos seus sentidos espirituais numa ligação existencial com o Cristo. Esta é a a esperada vinda do Cristo, ou seja, a sua aparição no mundo etérico. Isso é o que vislumbramos no começo do ano cristão, na época do Avento. Não podemos nos fechar a esse acontecimento, a ponte para a meta futura da humanidade. PELO ESPÍRITO SANTO REVIVEMOS!
Ao nosso redor todas as conturbações nos céus, na natureza, no íntimo da alma, no âmbito social, são os sinais que anunciam o grande acontecimento da nossa época. Se estamos abatidos, sem esperança, nos ergamos com as asas que podem crescer na nossa alma pelo encontro com o Cristo, pelo despertar de uma nova consciência! Isso é o que podemos alcançar juntos em comunidade, na vivência dos sacramentos no novo ano cristão!
Neste trecho final do Apocalipse, encontramos de forma condensada as últimas palavras de Cristo, ao seu discípulo João, que encerram este livro. Ele usa três expressões para caracterizar a si mesmo: Eu sou o Alfa e Ômega, o primeiro e o último, o início e a finalização Eu sou a raiz e o rebento Eu sou a brilhante estrela da manhã
A primeira destas expressões encontramos já no primeiro capítulo do Apocalipse. Lá acrescenta-se ainda dimensão temporal: O que era, o que é, o que vem Podemos encontrar a força criadora do Cristo – o Logos, o Verbo Divino – no transcurso da evolução: “por meio dele tudo foi feito e sem ele, nada do que foi feito, foi feito” (Evangelho de João, 1,3). Ele, o Logos, acompanha a evolução humana inspirando-a através de todo o transcurso dos tempos. Também naquilo que provém do futuro, que ainda não chegou, mas que a partir das intenções e metas futuras da evolução, emana sua força inspiradora ao momento presente.
Na segunda expressão, Eu sou a raiz e o rebento, encontramos a indicação que nos aponta às forças que criam o mundo vegetal, às forças de vida ou etéricas, que, das raízes até os brotos e rebentos mais tenros nas extremidades dos ramos, vão fazendo surgir a árvore inteira. Cristo vive, nestas forças criadoras. Ele vive em tudo que cria nova vida. O texto menciona a raiz e o rebento de Davi. Indica-se, pois, a corrente hereditária por meio da qual Cristo entrou na vida do mundo, mas ao mesmo tempo o olhar se amplia para a toda as correntes hereditárias humanas. A vida sempre se conecta com outras vidas; como as árvores numa floreta: cada uma está em íntima conexão com todas as outras.
A terceira expressão nos fala da estrela da manhã. É uma antiga referência ao planeta Vênus, que em determinados momentos de sua órbita aparece brilhante no horizonte pouco antes da aurora, anunciando o nascer do sol de um novo dia. A estrela da manhã é, portanto, um arauto luminoso, que anuncia a luz maior que está por nascer. Quem, no espírito, busca pela luz, mesmo antes de vislumbrar a verdadeira fonte da luz maior, pode em alguns momentos reconhecer este arauto luminoso, numa ideia, num pensamento, numa intuição que traz luz ao nosso espírito. Também aqui Cristo nos indica uma maneira de reconhecê-lo, nestes momentos luminosos, que podem ser como a aurora interior, que prepara a alma para o Sol espiritual de Cristo.
Três dimensões para nos aproximarmos daquele que se expressa pela qualidade do “Eu Sou”: – no fluxo da história e dos tempos – no entretecer e criar das forças da vida – no resplandecer da luz interior que vislumbramos
Também poderíamos dizer: – nas forças divinas que tecem o destino humano na Terra – nas forças que nos unem a todos os seres humanos e a todos os demais seres viventes do planeta – nas forças que nos ajudam a dirigir o olhar interior para a luz que brilha em nosso espírito.
Eu, Jesus Cristo, envio meu mensageiro (meu anjo) às comunidades para dar testemunho destas coisas As Comunidades, cujos membros sentem em si a Cristo, estão chamadas a ouvir esta mensagem, que Ele nos envia, a fim de que reconheçamos Seu ser, Sua força de vida e Sua Luz.
João, que recebeu a revelação de Jesus Cristo, encontra-se, certamente, vestido de branco em torno do Cordeiro, pronto para cantar um cântico novo, para que no futuro uma nova Terra e uma nova humanidade desça dos céus.
Ele ainda como Lázaro serviu a Jesus Cristo e a seus discípulos junto com suas irmãs Maria Madalena e Marta. Seguindo fielmente Jesus, aspirou a um caminho espiritual. Foi ressuscitado por Jesus Cristo e se tornou seu discípulo amado Lázaro-João.
Estava como testemunha ao pé da cruz e acolheu, segundo o pedido de Jesus, sua mãe como se fosse o próprio filho.
Com os outros discípulos conviveu com o ressuscitado durante os 40 dias de Páscoa.
Em Pentecostes recebeu em comunidade com os apóstolos o Espírito Santo e pôde entender o significado do feito do Cristo para toda a humanidade. Como descrito no capítulo 5 do Apocalipse, o livro com os sete selos foi aberto pelo Cordeiro, que se sacrificou pela evolução da Terra e da humanidade.
Esse livro também se abriu para João, em seu destino individual. Ele se torna um seguidor de Cristo, sua consciência espiritual vai crescendo, ele atua com presbítero na comunidade de Éfeso. Acolher a verdade em Cristo é um fortalecimento interior, é um impulso vigoroso para servi-lo. Mas mesmo, ainda resta sempre um grande desafio, uma grande prova do destino a ser superada. João é condenado à morte por não querer adorar os deuses romanos. Ele sobrevive à pena de morte e é exilado com 99 anos para a ilha de Patmos.
Nessa prova, nesse caminho de transformação interior, ou seja, nessa iniciação ele vivência como a sua própria natureza interior é Espírito, Espírito que supera as provas. A revelação se abre ao seu olhar espiritual. Sua alma se veste com a veste branca do espírito luz. Outras almas se juntam a ele para uma nova criação.
Na mensagem de hoje do livro do Apocalipse, somos apresentados a uma frase marcante: “Eu conheço suas obras: seu nome é que você está vivo e está morto”. Esta frase tem uma mensagem profunda para nós, uma mensagem sobre nosso modo de vida, de como nos afastamos do mundo espiritual. Ficamos tão focados em nossas vidas ocupadas que esquecemos de refletir sobre nossas ações e seu impacto. A mensagem de Sárdis nos lembra de dar um passo atrás e reavaliar nossas prioridades. Perseguimos coisas superficiais e ficamos presos na agitação da vida. É como viver em um estado de semiconsciência. Mas a mensagem de Sárdis é um chamado para despertar, para se libertar do ciclo de superficialidade e encontrar o verdadeiro significado e propósito.
A mensagem é sobre ir além da mentalidade “olho por olho, dente por dente” e abraçar a paz e a compreensão. Isso se aplica não apenas às nossas vidas pessoais, mas também a questões globais, como as guerras e disputas políticas.
Agora, quem é o anjo a quem esta carta é endereçada? O anjo é o destinatário da mensagem do Cristo. Não necessitamos pensar muito para chegar à conclusão que se trata do “Espírito da Época” em que vivemos: Micael, que nos indica o caminho e nos exorta para que nos preparemos, de modo que no futuro possamos estar entre aqueles que se apresentam ao Cristo de roupas brancas, ou seja, de almas lavadas, unificadas pela dor e pelo despertar da consciência. Mas a ideia mais importante aqui é que o anjo da comunidade nos convide, de braços abertos, a vir a Cristo em Sárdis. O convite é simples: deixe para trás o que dificulta a vida e leva ao desespero e à falta de sentido. Esteja atento, olhe para sua alma e veja o que necessita ser transformado, desperte e olhe para as necessidades dos outros, do mundo. Olhe para o seu tempo, olhe para a sua fonte espiritual, para Deus.
Compartilhe esta mensagem com aqueles que buscam vida, alegria e significado. Deixe-os saber que seus nomes podem ser escritos no livro da vida e falados por Cristo diante de Deus e dos anjos, mas que isso depende de seu autoconhecimento, de sua capacidade de compaixão e de sua livre vontade como força de decisão.
Quando cristãos se reúnem em memória do feito de amor de Jesus Cristo em prol de toda a humanidade ou, em outras palavras, para tornar a sua presença e atuação reais, então as sete velas no altar são acesas e a consciência espiritual na comunidade está desperta. Nesse espaço anímico-espiritual formado pela consciência humana, Cristo, o ressuscitado, pode agir entre nós e conosco na celebração do Ato de Consagração do Homem e dos outros sacramentos. Assim, transforma trevas em luz, forças de morte em forças de vida. A partir desse centro espiritual, no altar, Cristo acompanha cada um nos seus desafios diários curando, consolando e transformando a civilização e a cultura.
João, o evangelista estava só numa pequena caverna na ilha de Patmos em exílio decretado pelo imperador romano, porque se negara a adorar outros deuses romanos. Com 99 anos estava nesta crise em sua vida, quando no domingo, no dia do Senhor, o dia da ressurreição, ele ouviu uma voz como de trombetas atrás de si e se virou para trás. Virou para o âmbito onde normalmente nada vê e a ele se abriu o véu que normalmente cobre o mundo espiritual. Então, ele vislumbrou o Filho do Homem, vindo das nuvens, como prometido pelo ressuscitado na sua ascensão aos céus. Que consolo poder vivenciar, que apesar de todas as perseguições e influências negativas da época no Império Romano e na humanidade, o Filho do Homem atua nas sete comunidades representadas pelos candelabros acesos. Qualquer outra comunidade cristã estaria representada por uma das sete, segundo as sete fases de desenvolvimento possíveis. Na sua mão estão as sete estrelas, que são os sete anjos das sete comunidades. Os anjos que se ligam a uma comunidade, onde um sacerdote e uma comunidade se dispõem a servir o Cristo na celebração dos sacramentos. Cristo, os anjos e os seres humanos passam a atuar juntos para possibilitar o desenvolvimento do futuro. O futuro depende do ser humano e da sua ligação com o feito de Cristo! Cristo sabe lidar com a espada de dois gumes, que representa o desafio do ser humano de se tornar um ser provido de um eu espiritual, a serviço da obra divina e não dominado pelas forças do egoísmo. Os dois gumes da espada são, por um lado, uma individualidade que serve o espírito com o constante perigo de, por outro lado, ser subjugada pelas forças do egoísmo.
Essa é a anunciada segunda vinda de Cristo, que é vivenciada por cada um individualmente no momento certo da sua jornada na Terra e que vem se multiplicando em vários casos individuais desde o começo do século passado. O apocalipse prepara e fortalece cada um para esse significativo momento, pois “todos os olhos o verão, mesmo os olhos dos que o perfuraram” (Ap.1-7).
O apocalipse é um caminho de iniciação do ser humano. Cada um de nós será chamado numa certa hora a percorrer esse caminho. Haverá, nesse caminho, momentos de extrema graça, consolo e esperança, acompanhados ao mesmo tempo de um profundo abalo em todos os níveis da existência humana, pois a vivência da iniciação é um acordar para uma responsabilidade do ser humano diante do futuro da Terra, de toda a humanidade e da obra dos seres divinos. Nesse caminho está previsto o desafiante confronto com as forças do mal e a sua superação. João cai como morto aos pés do Cristo, diante da grandiosidade do mundo divino e diante das demandas que isso implica para si mesmo.
A visão do Filho do Homem acontece no momento em que João atinge uma consciência espiritual da sua própria natureza humana, da sua origem divina e da sua meta espiritual. Essa consciência está intimamente ligada ao ser divino do Cristo, do Verbo divino, que na sua visão abrange, como ser humano, desde o Sol até as incandescentes profundezas da Terra, desde a face até os pés do Filho do Homem. A sua veste podendo ser vivenciada como tudo que podemos perceber no mundo sensorial, todos os reinos da natureza, toda a obra divina, como a veste do criador. Toda essa obra em perfeita harmonia e unidade cingida com o cinto de ouro do espírito, que pode conferir a cada momento o sentido superior da pluralidade e variedade da grande obra divina!
Conhecer quem é o ser divino do Cristo e com isso alcançar também uma consciência da própria natureza humana é um grande desafio hoje, pois na maioria das vezes só conseguimos perceber fragmentos da grandiosidade desse ser. João tenta descrever o que vivência com vários conceitos, vários nomes, com os quais podemos apelar pelo Senhor, que também assim se refere a si mesmo! Estes são:
O Filho do Homem
Eu sou o Alpha e o Ômega, o Princípio e o Fim!
O que é, o que era e que há de vir!
O Todo-poderoso.
O Senhor.
Esses nomes não são somente substantivos, mas verbos e também adjetivos! Abarcam espaço e tempo, onde podem se revelar e atuar diferentemente em várias fases da evolução. Seja numa época anterior à criação e ao surgimento do espaço e tempo, como Logos divino – o Logos, a unidade primordial de tudo que posteriormente foi criado! Seja também no princípio da criação e também na meta da evolução, como Filho do Homem. Em Jesus Cristo já se realizou essa meta e ele nos acompanha na aspiração individual, assegurando potencialmente o alcance dessa finalidade. O homem, a sua criação, a sua evolução e o seu futuro estão intimamente ligados ao Senhor, ao Cristo. Portanto esse ser permanece atuante em cada fase da evolução, é nesse sentido Todo-poderoso, porque assegura em si a possibilidade do futuro e da meta espiritual do homem. Podemos a cada ano deixar ecoar esses nomes na nossa alma e assim ir crescendo em Cristo!
Referente à perícope do Apocalipse de João 19, 11-16
O Evangelho de hoje nos apresenta uma imagem muito forte. O cavaleiro branco com a roupa embebida em sangue.
No nosso corpo o sangue é a essência da vida. O seu fluxo permeia o corpo inteiro. O sangue representa a nossa vida terrena. A ele se vincula nosso ser espiritual.
Cristo passou por essa vida na Terra e se tornou ser humano. Na imagem do Apocalipse: Ele embebeu sua roupa de sangue. Cristo passou pela condição humana e a transformou. Ele transformou as suas roupas e elas ficaram brancas. Cristo nos abriu a possibilidade de segui-lo nesse caminho de transformação e purificação.
Ao nos desenvolvemos, transformamos as nossas roupas. Para isso necessitamos de um trabalho interno e externo. As experiências terrenas, as dores e as alegrias nos dão a possibilidade para isso. Pouco a pouco mudamos assim nossas roupas. Para no futuro nós podemos nos tornar cavaleiros brancos nos exércitos celestiais.
Que atitudes podemos ter diante das adversidades? Ou permanecer perplexos e paralisados, com medo de que nos ocorra o pior, ou mantermo-nos firmes e armados interiormente como quem parte para uma guerra santa. Com a primeira opção não há o que fazer, nos entregamos às circunstâncias passivamente e isso só aumenta o medo e o pavor diante do desconhecido. A única alternativa digna é a segunda, mas não pensemos que ela seja solitária e independente, pois o armar-se aqui só pode receber sua legitimação quando estamos aliados às forcas espirituais do bem que esperam justamente nossa disposição, coragem e ação para se aliar a nós com o propósito de lutar contra as forças do mal. É isso o que significa vestir a armadura de Deus. Não são armas físicas – são disposições anímicas: Ora vejamos, que armas são essas indicadas por Paulo em sua carta aos Efésios: O que é o cinturão da verdade? O que divide nosso corpo entre as partes superior e inferior.
Verdade aqui é o que nos permite discernir nossas ações de modo que estejam ligadas aos propósitos superiores e não às forças instintivas inferiores. A couraça da justiça cobre o nosso peito – o âmbito do coração que regula em profundidade o âmbito de nossas relações se quisermos que elas sejam justas conforme um sentido moral superior. Calçados com o Evangelho da Paz é a motivação fundamental de nosso caminhar. Onde quer que levem nossos pés, os ensinamentos dos evangelhos nos norteiam e indicam o caminho. O escudo da fé protege todo o nosso ser contra os dardos malignos, sem fé estamos totalmente vulneráveis. O elmo da salvação cobre nossa cabeça, âmbito ao qual elevamos os pensamentos elevados iluminados pelo Cristo, que são a espada micaélica ou a palavra de Deus. Tudo isso culminando na atitude fundamental da oração, meio pelo qual nos unimos às hostes superiores de Micael e do Cristo.
Não por acaso, são sete, portanto, os elementos que compõem a armadura de Deus. Com essa preparação, podemos estar seguros e confiantes que não importa o que aconteça, a proteção divina nos guarda, protege e anima. Mas não nos esqueçamos que não se trata de uma atitude passiva, pois todo nosso ser esta aí ativamente engajado com o propósito divino.
Referente à perícope do Evangelho de Lucas 7, 11-17
O trigo começa a brotar na primavera e se desenvolve durante o verão. No começo do outono ele seca no calor do sol e a planta more. A possibilidade de vida se concentra no grão de trigo. Se ele cai em terra boa, um novo processo de vida começa.
Na nossa vida encontramos muitos momentos de vida e morte. O primeiro começa com o nascimento e vai até o limiar entre a infância e a juventude. Nesse limiar termina uma fase de vida e nós passamos por um processo de morte. Uma nova fase pode renascer. Encontramos em cada biografia também momentos de morte e vida individuais. No final da vida passamos por mais uma vivência de morrer e renascer.
Diferente do trigo, na nossa biografia esses processos só acontecem parcialmente pelas forças da natureza. Eles dependem também do nosso atuar e da nossa consciência. Precisamos passar ativamente por eles e trabalhar para o renascer.
Cristo também passou por momentos de vida e morte durante a sua vida terrena. Ele abriu com seu sacrifício uma nova possibilidade de passar pela morte. Desde essa época ele está presente com as forças da ressurreição no limiar da morte. Ao nos aproximarmos desse limiar o encontramos e podemos contar com a sua ajuda.
Referente à perícope do Evangelho de Mateus 6, 19-34
A alma humana tece com o Cristo o vestido de noiva para as bodas. Não é um vestido que pode ser corroído por motas ou pode ser roubado. É um vestido de luz, tão irradiante quanto a luz do sol, irradia vida.
Este vestido já tem sido tecido há muitos séculos, durante toda a caminhada da humanidade na Terra. Não deve ser confundido com a corporalidade, que vestimos no momento do nascimento, tão bela e perfeita ela pode parecer. No nascimento vestimos a natureza do antigo Adão, mortal e transitória, nos concedida pelo Pai. A nossa existência corporal na Terra exige o acúmulo de riquezas, até o momento da morte, quando nos despojamos de todo o acumulado.
O vestido de noiva, por outro lado é tecido pela alma humana com muito empenho e esforço próprio, seguindo o caminho do Cristo, na procura da verdade e da justiça. A união com o Cristo vai levar a uma vibrante onda de renovação do mundo, de cura! Esta união pode se tornar a primordial aspiração da alma humana e quando vivenciada, o maior tesouro guardado em seu coração!
À nossa volta pode o mundo perecer, mas no interior da alma humana poderá ser celebrada a união com o Cristo. O espírito emergirá da alma humana vencedor e irradiante. Tolerância, dedicação, paciência, perseverança, confiança, coragem, sabedoria e enfim as forças do amor são os nobres fios desse traje luminoso.