Reflexão para domingo, 25 de junho de 2023

João Batista
Leonardo da Vinci

Referente à perícope do Evangelho de João 1, 18-28

Quando uma árvore forma seus frutos, ela atinge o seu apogeu de desenvolvimento. Suas raízes, seu tronco, suas flores e suas folhas, todos interagiram para que enfim o fruto amadurecesse. Esse fruto é uma dádiva de vida, da árvore para outros seres vivos, para a Terra! O fruto não se define pelo que alcançou quando maduro, mas pelo que significa para a vida dos reinos da natureza, da humanidade e da Terra. O que se formou desde as amplidões solares e desde a atmosfera e ao longo do ciclo anual de tempo e que convergiu para um centro para um ponto, que então podemos ver no interior do fruto, na semente, encontra o seu sentido novamente na ampla periferia, na vida! Para isso, tem que se doar completamente.

João Batista pode ser visto como o representante daquilo de mais elevado que já tinha sido alcançado pela humanidade até a sua época. Poderíamos dizer que nele brilha a imagem do homem à semelhança de Deus, como nos primórdios da criação divina. Quando então é questionado sobre a sua própria individualidade, ele responde repetidamente: “Eu não sou…”! A princípio esta resposta nos desconcerta, não compreendemos, sobretudo sabendo que, segundo o próprio Evangelho, nele reapareceu o espírito de Elias, como havia sido profetizado para antes da vinda do Messias.

Das amplidões celestes, pela atuação e guia dos seres angelicais se formou o ser humano ao longo dos consecutivos ciclos solares zodiacais, passando pelas diferentes épocas culturais da antiguidade, até o momento em que no interior da alma humana se torna eminente o despertar do Eu Sou Divino. O ser humano foi formado em seu corpo à imagem de Deus e passo a passo foi conquistando a sua consciência espiritual, como testemunha da luz e vida divina em toda a criação. Esta consciência alcançada num ponto quase imperceptível em todo o Universo, dentro da alma humana, não se define por si mesma, mas é como a chave, a porta para um novo atuar em comunhão com os seres divinos, uma atuação cósmica universal. João não nega mais, e afirma, sim, que batiza nas águas do Jordão, preparando para o batismo que no futuro viria a ser feito em Espírito pela força do Cristo na alma, pela força do Eu Sou Divino.

Como na imagem de Leonardo da Vinci acima, pressentimos que a força do Eu Sou, que sutilmente emerge da alma humana, não aponta para si mesma, mas para a força primordial do Verbo divino, para a sua Luz e Vida. Assim vai se fortalecendo o impulso férreo na alma humana de querer atuar para que toda a criação possa ser consagrada ao divino e assim seja revelado o sentido de toda a evolução: que do coração humano venha a irradiar o amor universal, assim com ele foi irradiado no momento da morte na cruz. Amor universal, à disposição incondicional de querer atuar para o bem, segundo a vontade divina!

Helena Otterspeer

Reflexão para Domingo, 18 de junho de 2023

Referente ao Evangelho de João 4:1-26.

Nesses tempos difíceis que estamos vivendo nos ajuda contemplar, por exemplo, um lago sereno cercado por árvores e montanhas verdejantes. Esse cenário estimula a tranquilidade e a paz que buscamos. Mas ainda que a beleza e a pureza dessas águas possam como imagem nos estimular, o que pode aplacar nossa sede de paz é uma outra água: a água viva que Cristo nos oferece.

O encontro de Jesus com a mulher samaritana, nessa passagem do Evangelho de João, nos oferece lições valiosas para nós que enfrentamos os desafios de nossas próprias vidas. Naquela época em que samaritanos e judeus tinham uma história de tensão e preconceito, Jesus quebrou as normas sociais, conversando com a mulher, oferecendo-lhe o dom da água viva. Essa é a água que traz vida eterna, uma água que sacia a sede de nossas almas. Essa água viva representa o sustento espiritual e a realização que somente Deus pode fornecer.

Assim como vemos o lago tranquilo em nossa imagem, Jesus nos convida a experimentar a paz e esperança em meio às dificuldades. Em resposta, a mulher expressa seu desejo por esta água viva, esperando saciar sua sede espiritual para sempre. Jesus então revela seu passado, reconhecendo que ela buscou satisfação em relacionamentos que a deixaram vazia. Ele a convida a encontrar a verdadeira realização em um relacionamento com Deus. À medida que a conversa se aprofunda, a mulher traz à tona o debate de longa data sobre o local adequado para o culto. Jesus explica que a verdadeira adoração não se dá em um local específico, mas acontece em espírito e verdade no silêncio interior.

Nossa anseio é o de estabelecer uma conexão genuína com Deus, enraizada na honestidade e sinceridade. Assim como a mulher enfrentava desafios e buscava realização, nós também enfrentamos tempos difíceis e ansiamos por essa mesma paz, quase duvidando que isso seja possível diante do caos ao redor. Mas a água viva é encontrada nesse local interior de oração, a despeito do que ocorre exteriormente. A mulher samaritana se permitiu ser vulnerável diante de Jesus, e Ele a encontrou onde ela estava.

Em tempos difíceis, sejamos abertos e honestos com Deus, sabendo que Ele está pronto para nos abraçar com amor e compreensão, onde quer que estejamos. Ao contemplarmos a imagem da natureza e o poderoso encontro no poço, somos lembrados de que, mesmo em meio a tempos difíceis, Jesus nos oferece água viva, paz e esperança.

Abracemos a vulnerabilidade, busquemos a verdadeira realização e adoremos a Deus do fundo de nossos corações. Que a água viva flua dentro de nós e nos sustente nas tempestades da vida. 

Carlos Maranhão 

Reflexão para o domingo, 11 de junho de 2023

Referente à perícope do Evangelho de João 17, 6-11

“Revelei teu nome aos seres humanos que do mundo me deste.

Eles eram teus e tu os deste a mim. Eles guardaram tua palavra.”

Existem diferentes acepções do verbo guardar:

Podemos guardar as palavras na memória. Sempre que necessitarmos, poderemos relembrá-las e repeti-las. Aí elas estarão à disposição sempre que as trouxermos à consciência.

Podemos também guardar no sentido de observar a palavra, cumprir ou realizar a intenção que ela contém. Aqui a palavra é guardada, portanto, no âmbito da vontade e motiva a ação. Esta acepção se aplica em geral aos mandamentos ou aos princípios religiosos, que norteiam nossa conduta ética na vida.

Podemos ainda guardar a palavra no coração. Aqui surge um matiz de acolhimento e de cuidado, de modo que aquilo que for ali guardado, permanecerá vivo, não apenas como conteúdo cognitivo na memória ou impulso volitivo em nosso atuar no mundo, mas principalmente preservará sua força original.

Quando guardamos certas palavras e ainda ecoa em nós a sua sonoridade original, ainda reverbera em nós o calor das emoções que tais palavras continham ou ainda somos capazes de ouvir o timbre e a qualidade da voz com que foram pronunciaram – pois tais palavras, via de regra, saíram da boca de uma pessoa importante em nossas vidas -, quando isto acontece, significa que guardamos estas palavras no coração.

Os pastores na noite de Natal visitaram o menino Jesus e contaram com grande alegria a mensagem que ouviram dos anjos. O Evangelista Lucas descreve que Maria guardava estas palavras e as “acariciava” em seu coração.

A Boa-Nova de Jesus Cristo – seu Testamento à humanidade – são suas palavras.

Palavra que recebeu do Pai e a deu ao ser humano.

Não está mal que as aprendamos de memória, só não deveríamos citá-las de maneira mecanicista ou esvaziadas de sentido.

Também é louvável apreender de Suas Palavras, impulsos para pôr em prática na vida, contudo não deveríamos enrijecê-las e transformá-las em dogmas que seguimos como autômatos.

A Palavra da Boa-Nova precisa de uma mente consciente e de mãos generosas plenas de boa vontade, mas precisa fundamentalmente de um coração aberto, capaz de abrigá-la, acolhê-la e de cuidar para que ela se mantenha viva.

Somente assim a Palavra Divina – o Verbo Divino ou o Logos, como os gregos o chamaram – encontra seu devido lugar no ser humano, e pode ecoar, como no princípio, pelos sucessivos ciclos dos tempos.

Renato Gomes

Reflexão para o domingo, 4 de junho de 2023

Referente à perícope do Evangelho de João 3, 1-17

Pelo processo natural não podemos nascer de novo durante uma vida terrena. Nascemos, crescemos e faleceremos. Isso é o curso natural da vida.

Podemos nascer de novo? Podemos nascer do alto? Nessas duas formas a fala de Cristo para Nicodemos poderia ser traduzida.

Para essa questão precisamos olhar para os processos da nossa alma e da nossa individualidade. Na nossa vida encontramos momentos de grandes crises, onde não sabemos mais como continuar e ir em frente, onde aparentemente não há um caminho para o futuro. Neles, nós nos sentimos impotentes e sem força para ir em frente. Chegamos a uma vivência de morte.

Ao chegar nesse fundo do poço, uma ajuda inesperada nos surpreenderá. Ela pode vir de outra pessoa ou do mundo ao nosso redor. De repente, a situação que aparentemente não tinha saída, começa a mudar. Começamos a enxergar um novo caminho. Assim nós nos sentimos renascidos. Podemos descobrir atrás dessa ajuda o atuar do mundo espiritual. Pouco a pouco ganharemos confiança no seu atuar em toda nossa vida. Reconheceremos cada vez mais o atuar dos céus na terra e assim nascemos de novo, do alto, pelo Espírito.

Julian Rögge

Reflexão para domingo, 28 de maio de 2023

Reflexão para domingo, 28 de maio de 2023

Referente à perícope do Evangelho de João 14, 23-31

Retábulo dos 12 apóstolos
Altar lateral da igreja do hospital do Espírito Santo em Nuremberg.
Oficina de Wolfgang- 1448/49

Esse retábulo era propriedade de uma fundação particular e foi adquirido pelo Museu Kolumba da diocese de Colônia, na Alemanha. Nessa ocasião ainda não se conhecia o seu lugar de origem. Pesquisas feitas por profissionais do museu concluíram que se tratava de um retábulo encomendado por um mecenas do Hospital do Espírito Santo para uma capela lateral da igreja anexa a esse hospital. Nessa capela lateral este mecenas foi sepultado com sua família.

A sequência iconográfica é bem especial. No meio, o acontecimento de Pentecostes, com Maria no centro. A descrição desse acontecimento, segundo o Ato dos Apóstolos, não menciona Maria. No entanto, Maria aparece tradicionalmente assim em muitas dessas imagens. Nesse retábulo especialmente aparece Maria também em três das outras quatro imagens laterais. As quatro imagens laterais representam a Anunciação do anjo Gabriel à Maria, o nascimento do menino Jesus no pobre estábulo, a ressurreição de Jesus Cristo e a morte de Maria segundo a lenda. Naturalmente levanta-se a questão de como se relacionam estas imagens umas com as outras e qual a mensagem do retábulo nessa igreja, que era diretamente ligada ao hospital. Vamos fazer uma tentativa nesse sentido e descobrir qual o significado e papel da alma humana para o desenvolvimento do ser humano e do mundo.

Seja a alma humana na sua relação com o feito do Cristo o tema principal desse retábulo. A alma vive alternadamente no mundo suprassensível em comunhão com outras almas e com os seres espirituais e no mundo sensível com os reinos da natureza e toda a humanidade. Ela vive entre espíritos na vida pós-morte e pré-natal, e incarnada num corpo na vida terrena em meio da natureza. Nesse ritmo alternado, nessa evolução rítmica, o mundo, o Cosmo, o ser humano vai se transformando.

De um lado temos os seres divinos que preparam e anunciam a vinda de uma alma individual para a Terra, do outro lado a Terra empobrecida de valores e força espiritual, dependendo sempre de uma renovação vinda de cima.

Nesse caminho alternado vai se formando um novo ser espiritual, o Filho do Homem. Este ser nasce na Terra quando Jesus Cristo se eleva do túmulo no dia da Páscoa. A partir daí o palco da atuação das forças divinas formadoras e renovadoras passa a ser a Terra, pois a força primordial do Logos se ligou a Jesus Cristo e permanece ligada à Terra através da alma humana. Em Pentecostes o espírito de Cristo consagra a alma humana como o germe de um novo mundo.

Em Pentecostes a alma humana conquista a consciência do significado do feito do Cristo para si mesmo e para toda a evolução futura. Esse acontecimento tem o potencial para transformar tanto os destinos individuais do ser humano, como dos reinos da natureza, de todo o planeta e de todo o Cosmo. É uma vivência no âmbito da consciência, como o acender de uma nova luz que concede à alma humana uma nova visão, um novo sentido.

Essa vem a ser uma vivência íntima da própria identidade, do Eu Sou e ao mesmo tempo de uma unidade, uma comunidade com todos os seres humanos e todos os seres vivos. Esse novo sentido preenche a alma humana de um amor profundo pela obra divina, pela obra do Pai e do Cristo. No seu processo de espiritualização a alma humana está intrinsecamente ligada com a evolução de todo o Universo, desde o âmbito atômico até o âmbito cósmico das galáxias.

Com esta única e ao mesmo tempo significativa vivência, a alma humana se torna equipada para deixar esse lugar, a Terra, seja pelo portal da morte, seja no final da evolução planetária da Terra.

De fato, nas costas desse retábulo foi pintado o juízo final com a seleção das almas que vão poder ser acolhidas pelo mundo divino no final dos tempos.

Sim, a alma humana deve estar consciente de que sua vida terrena tem um importante propósito, não só para si mesma, mas para todo o Universo. Na hora da morte ela já deve estar preparada para ser acolhida na esfera da vida de Cristo (na última imagem lateral, a alma de Maria é representada no mundo pós-morte como uma criança no colo de Cristo). Também num âmbito menor, no ritmo diário de sono e vigília, a alma humana antes do adormecer não deve esquecer de levar o “pão de cada dia” para poder participar da comunhão com os anjos e seres divinos que nos convidam a cada noite a tecer o vir a ser do novo dia.

A celebração de Pentecostes, esse ínfimo instante no ritmo anual, pode nos sensibilizar para criar esse instante também no íntimo da alma. Na celebração cúltica do Ato de Consagração do Homem criamos este instante. O instante em que conscientemente podemos perceber aquele que é o alfa e o ômega, o princípio e a meta final, que atua agora e sempre, que confere o sentido da minha própria existência, de mim, do meu Eu, e ao mesmo tempo o sentido da Terra e do Universo! Nos cabe, então, na vida continuar esta celebração como na imagem central do retábulo!

Helena Otterspeer

Reflexão para o domingo, 21 de maio de 2023

Referente à perícope do Evangelho de João 16, 24-33

Toda despedida causa dor. Ainda que saibamos que não é definitiva, se nos despedimos de alguém que não veremos mais por um bom tempo, ficamos tristes, sobretudo se nossa relação é muito próxima. Que dirá se se tratar de uma despedida em que não veremos mais a pessoa amada.

Assim se sentiram os discípulos de Jesus quando se despediram dele e o viram subir numa nuvem. Mesmo com a promessa de que manteriam contato com ele por meio do Espírito Santo, algo que na ocasião não compreenderam.

Mas por que era necessária a sua partida? Havendo ressuscitado, por que não poderia permanecer com eles? Ele havia dito: “É necessário que eu vá, porque se eu não for, o consolador não virá a vós”. Ele necessitava ir porque precisava estar presente não somente para aqueles discípulos, mas para que pudesse, ao unir-se com a atmosfera etérica da Terra – o reino do Pai –, estar presente para toda a humanidade, em todos os tempos. Ele havia dito: “Eu estarei convosco até o fim dos tempos”. Isso precisa ser cumprido. E assim, hoje podemos dizer: “Ele está no meio de nós”, e sempre que necessitarmos poderemos invocá-lo e sentir sua presença.

O espírito que ele enviará em Pentecostes, cumprirá sua promessa de batizar não mais com água, mas com fogo. Porque de início sua presença se faz através da luz de um entendimento íntimo que nos consola ao remeter-nos àquele que pensávamos estar distante e então se torna mais presente do que jamais esteve.

Carlos Maranhão

Reflexão para o domingo, 14 de maio de 2023

Reflexão para o domingo, 14 de maio de 2023

Referente à perícope do Evangelho de João 14, 1-16

Quando, na cruz, Jesus Cristo deu seu último suspiro, Deus morreu, a terra estremeceu, o sol escureceu. Deveriam a humanidade e a Terra necessariamente agora perecer? Com certeza não, os sinais deste momento significativo na evolução foram sinais de um nascimento! Algo completamente inédito e novo nasceu na Terra!

No domingo de Páscoa, por Jesus Cristo, por si mesmo, o Eu da humanidade se ergueu do túmulo. O Espírito de Cristo nasceu na Terra. Ele é um novo princípio da vida e da luz na Terra. Ele atua no interior – na alma e no centro da Terra, e no exterior – na cultura e na atmosfera terrestre, em ritmo alternado. Ele vai e seu espírito vem, também alternadamente. Mas este pulsar vivo que envolve o ser humano, depende de cada um. Cristo deve penetrar cada vez mais na alma humana. A alma humana deve, em liberdade, procurar o Cristo.

A alma deve se preparar para o casamento místico, enfeitar-se com os frutos de um conhecimento superior espiritual. Ela deve vestir a veste nupcial branca. Assim ela prepara um espaço onde o Filho pode vir a morar. Deste lugar, do íntimo da alma virá a salvação, a cura, a espiritualização de tudo que é transitório – pela atividade do Eu, que se torna um servidor, um seguidor de Cristo!

A alma vai se transformando, se espiritualizando.

O mundo vai se transformando, se espiritualizando.

Nas palavras de Cristo: “Eu e o Pai somos um!”

Desde a morte de Jesus Cristo na cruz, as trevas continuaram a se espalhar em vários âmbitos da civilização e da alma humana. Ambas estão hoje ameaçadas pelas trevas e forças da morte, pelo materialismo. No entanto, também muita transformação se deu, sem a qual não poderíamos ter recebido a dádiva espiritual dos sacramentos renovados.

Precisamos de muita coragem! De toda a parte da criação ergue-se o apelo:

“Abra a tua alma para o Espírito de Cristo!”

Só assim da queda, da morte e das trevas se erguerão vida e luz!

Isto é hoje o essencial, o imprescindível para a humanidade, para a Terra e todo mundo!

Helena Otterspeer

Reflexão para o domingo, 7 de maio de 2023

Referente à perícope do Evangelho de João 16

Ao observamos uma gota d’água reconhecemos que ela provém da imensidão de água que corre pela terra, pelos pequenos e grandes rios até o mar. A gota está separada do resto da água.

Todos nós temos uma gota do Divino em nós. Como a gota d’água, somos separados da imensidão do Divino que preenche o mundo. Essa separação faz parte da nossa condição humana e é necessária para nosso desenvolvimento. Ela pode também gerar medo, aflição e tristeza.

Cristo fala do medo e das aflições que fazem parte desse mundo, mas depois ele continua: “Tende coragem. Eu venci o mundo!” Diferentemente da gota d’água, nós podemos trabalhar para superar a separação do Divino. Ao nos ligarmos com as forças da ressurreição, com as forças que superaram as limitações desse mundo, começamos esse caminho. Pouco a pouco podemos nos religar com o Divino que está ao nosso redor. O encontramos na água e nas plantas, nos animais e nos seres humanos. Ele também se manifestou através do Cristo que venceu a morte. Com as suas forças superamos a separação do mundo.

Julian Rögge

Reflexão para domingo, 30 de abril de 2023

Hildegard von Bingen

A verdadeira videira João 15

A verdadeira videira, a suprema obra viva divina, tem suas raízes no céu no mundo espiritual. Estas raízes são invisíveis para nós. Suas folhas, no entanto, são tudo o que se manifesta no mundo visível; as estrelas, os planetas, a Terra com todos os reinos da natureza. Os seus frutos, as suas uvas, que podem vir a gerar o futuro, são novamente de pura natureza espiritual, invisíveis para os nossos olhos, são a chama divina nas almas humanas individuais. Apesar de invisível, o Eu Sou que desperta na alma humana, estando completamente ligado às suas raízes espirituais, pode atuar no mundo sensível transformando a matéria, tornando-a translúcida e viva. Eu e o Pai somos um! O Eu Sou serve à obra do Pai.

A raiz da verdadeira videira ganha a sua vida do Verbo primordial da Palavra divina. O Eu Sou desperta na alma, quando ela consegue acolher a Palavra divina, a mensagem do Verbo, o Evangelho. O ser humano pertence a dois mundos, ao mundo sensorial e ao mundo espiritual, assim como a verdadeira videira também.

O Verbo se fez carne e habitou entre nós! O Verbo vivenciou em Jesus a morte, a morte na cruz, para resgatar a vida de tudo que se manifesta neste mundo. Do túmulo do mundo sensível se ergueu com a ressurreição, o Espírito, o Eu Sou Divino na alma humana. A ressurreição da matéria se iniciou com o primeiro Domingo de Páscoa, dentro da alma humana. Agora cada um de nós pode trabalhar para a redenção da matéria, dos reinos da natureza, da Terra, à medida que se liga com o feito de Cristo. Cada um pode emprestar a sua alma, este espaço divino no ser humano, para que lá seja montado o altar em que Cristo continua sua obra. O redentor apela a cada ser humano como um amigo, amigo no sentido que João Batista mesmo nomeou, amigo do noivo. O amigo se alegra quando o noivo se une pelos laços do matrimônio à noiva, quando o Espírito ressuscitado, o Eu Sou de Cristo, se une pela sua atividade à alma humana individual. Desse matrimônio vai surgindo uma nova Terra, uma nova humanidade pela transformação da antiga Terra e da antiga humanidade! No Eu Sou, a força espiritual do Verbo primordial adquire uma morada na alma humana, permanece nela e assim ela vai se espiritualizando, conquistando a vida eterna. Como Espírito a alma vai compartilhando a comunidade com seres espirituais, tornando cada ser humano um amigo de Cristo.

O despertar do Eu Sou na alma humana é a realização da meta da evolução da Terra e da humanidade, é a realização da obra do Pai, do seu Amor pela criatura. Participando desta obra, também cada um começará a compartilhar do amor divino, começará a ser capaz de amar, no seu sentido mais elevado!

O caminho de transformação de vivificação da Terra é um caminho árduo, que exige a superação do fardo da nossa existência puramente terrena. Com a sua espiritualização, no entanto, a alma se tornará apta para receber a luz e força do Espírito, que a tornará capaz de se tornar uma testemunha inabalável do Verbo Criador!

Helena Otterspeer

Reflexão para domingo, 23 de abril de 2023

Referente ao Evangelho de João 10, 1-18

Nas cidades do mundo, nas megalópoles de nosso mundo superpopuloso, há inúmeras pessoas que andam por aí, cada uma com seus próprios objetivos e desejos, muitos deles contraditórios, pois na maioria das vezes são como que arrastados pelos valores exclusivos deste mundo materialista em que vivemos. Porém, em meio ao caos, há um grupo de ovelhas perdidas vagando sem rumo em busca de um sentido para a vida. Há porém uma porta para esse sentido e ela conduz ao bom Pastor. A parábola de Jesus como sendo a porta e O Bom Pastor é uma imagem arquetípica do ser humano. Ela está dentro de nós, íntima no coração de cada um antes mesmo de termos consciência disso. “Eu sou a porta do curral das ovelhas”, “Eu sou o bom pastor”.  Esta autoafirmação de Jesus está de acordo com as outras sete afirmações com a forma “Eu sou” do Evangelho de João: “Eu sou o pão da vida”, “Eu sou a luz do mundo”, etc. O Bom Pastor é aquele que tudo faz, e, em última instância, dá a própria vida, para que vivam aqueles por quem veio salvar. “Eu sou o bom pastor” – esta é uma mensagem que vai contra tudo o que se opõe à verdadeira vida: contra o egoísmo implacável que nos isola de todos, contra o anonimato dos fracos e oprimidos, contra a indiferença face ao sofrimento dos outros, contra a arrogância com que se gostaria de determinar o que é bom para o outro. Mas essa afirmação de Jesus ser a porta e o  bom Pastor das ovelhas, não traz a conotação antipática para muitos, segundo a qual poderia trazer a ideia de ovelhas passivas e submissas; ao contrário: trata-se aqui daquele que nos conduz ao que mais intimamente e essencialmente somos, portanto à nossa real liberdade, pois, de outro modo, estaríamos sujeitos aos ladrões e salteadores deste mundo, ou seja, a tudo o que nos afasta de nós mesmos, inclusive o que determina uma visão de que aqui na Terra vivemos o único lugar de existência.  Jesus fala que há outras ovelhas, de outro estábulo – elas também podem ouvir a voz do Bom Pastor.  Isso é o que importa: não importa se pertencemos a uma determinada igreja, ou seita ou outra religião não cristã. O que importa é se tenho ouvido para ouvir o chamado de tudo que Cristo significa, e sentir intimamente que o que ele significa nos conduz ao nosso ser mais íntimo. Finalmente, essa afirmação conduz à imagem que abarca todos os seres humanos num único rebanho, no qual há  único pastor, e ele é bom.

Carlos Maranhão