Reflexão sobre o Evangelho de João, 12 de junho

“Havia alguns gregos entre os que tinham subido a Jerusalém para adorar durante a festa. Eles se aproximaram de Filipe, que era de Betsaida da Galileia, e disseram: ‘Senhor, queremos ver Jesus’. Filipe conversou com André, e os dois foram falar com Jesus. Jesus respondeu-lhes: ‘Chegou a hora em que o Filho do Homem vai ser glorificado. Em verdade, em verdade, vos digo: se o grão de trigo que cai na terra não morre, fica só. Mas, se morre, produz muito fruto. Quem se apega à sua vida, perde-a; mas quem não faz conta de sua vida neste mundo, há de guardá-la para a vida eterna. Se alguém quer me servir, siga-me, e onde eu estiver, estará também aquele que me serve. Se alguém me serve, meu Pai o honrará. Minha alma está perturbada. E que direi? ‘Pai, livra-me desta hora’? Mas foi precisamente para esta hora que eu vim. Pai, glorifica o teu nome!’
Veio, então, uma voz do céu: ‘Eu já o glorifiquei, e o glorificarei de novo’.
A multidão que ali estava e ouviu, dizia que tinha sido um trovão. Outros afirmavam: ‘Foi um anjo que falou com ele’. Jesus respondeu: ‘Esta voz que ouvistes não foi por causa de mim, mas por vossa causa. É agora o julgamento deste mundo. Agora o chefe deste mundo vai ser expulso, e quando eu for levantado da terra, atrairei todos a mim’.
Ele falava assim para indicar de que morte morreria.”

João 12, 20-33

É chegada a hora onde o grão deve cair à terra, morrer e frutificar. Cristo é o grão divino a ser gestado no ventre da mãe Terra. Nele se cumpre a grande obra de reconciliação entre os seres humanos. Para frutificar em nossos corações, ele se entregará por inteiro, ele renunciará à própria vida.
Onde intuímos a obra de reconciliação? Sempre quando estivermos dispostos a renunciar. Quando renunciamos algo que nos traz sofrimento e dor, podemos perceber que nos liberamos, nos tornamos íntegros em nosso ser. Esta seria uma forma de servi-lo e segui-lo em seu caminho. E quem o segue jamais estará só, pois aos poucos desenvolveremos a percepção que caminhamos com Ele. O caminho está preparado e seguir por ele, significa encontrar quem o preparou.

Viviane Trunkle

“A renúncia é a libertação. Não querer é poder.”
Fernando Pessoa

Reflexão sobre o Evangelho de João, 11 de junho

“No dia seguinte, a grande multidão que tinha subido para a festa ouviu dizer que Jesus estava chegando em Jerusalém. Apanharam ramos de palmeiras e saíram ao seu encontro, gritando: ‘Hosana! Bendito aquele que vem em nome do Senhor, o Rei de Israel!’
Jesus encontrou um jumentinho e montou nele, como está escrito: ‘Não temas, filha de Sião! Eis que o teu rei vem montado num jumentinho!’
Naquele momento, os discípulos não entenderam o que estava acontecendo. Mas depois que Jesus foi glorificado, eles se recordaram que isso estava escrito a seu respeito e que assim lhe tinham feito. Os que estiveram presentes quando chamou Lázaro do sepulcro, ressuscitando-o dos mortos, davam testemunho. Foi por este motivo que a multidão foi ao seu encontro, porque ouvira dizer que ele tinha feito este sinal. Os fariseus, então, comentavam entre si: ‘Estais vendo que nada conseguis? Olhai, todo mundo se foi, atrás dele’.”

João 12, 12-19

“Hosana! Bendito aquele que vem em nome do Senhor.”
A entrada de Cristo em Jerusalém é cheia de júbilo e adoração. A multidão reconhece no Cristo o tão esperado Messias. Eles esperam que ele se torne rei de Israel e expulse os romanos.
No curso da Semana Santa, essa flama de entusiasmo apaga e se transforma no oposto. Cheios de ódio são os gritos: “Crucifica-o, crucifica-o!” Mesmo os discípulos se dispersam e poucos ficam com o Cristo até a morte na cruz.
Nós temos a força de testemunhar e carregar o que reconhecemos como verdade? Mesmo em momentos difíceis e quando ficamos sozinhos? A multidão inflamou em júbilo quanto reconheceu o Cristo. Mas o entusiasmo transformou-se rapidamente. Não a multidão, mas individualidades, como “(…) sua mãe e a irmã de sua mãe, Maria de Cléofas, e Maria Madalena (…)” e Lázaro, tiveram força de ficar com o Cristo até a morte na cruz.
O caminho para se fortalecer interiormente, cada um só pode fazer sozinho. É um caminho árduo e solitário. Mas podemos reconhecer as outras individualidades que estão no mesmo caminho. Que querem se fortalecer, testemunhar e carregar a verdade. Assim podemos formar novas comunidades. Cada um no seu caminho individual, mas todos com a meta em comum de servir a verdade divina.

Julian Rögge

Reflexão sobre o Evangelho de João, 9 de junho

“Foi, pois, Jesus seis dias antes da páscoa a Betânia, onde estava Lázaro, o que falecera, e a quem ressuscitara dentre os mortos. Fizeram-lhe, pois, ali uma ceia, e Marta servia, e Lázaro era um dos que estavam à mesa com ele. Então Maria, tomando um arrátel de unguento de nardo puro, de muito preço, ungiu os pés de Jesus, e enxugou-lhe os pés com os seus cabelos; e encheu-se a casa do cheiro do unguento. Então, um dos seus discípulos, Judas Iscariotes, filho de Simão, o que havia de traí-lo, disse: ‘Por que não se vendeu este unguento por trezentos dinheiros e não se deu aos pobres?’ Ora, ele disse isto, não pelo cuidado que tivesse dos pobres, mas porque era ladrão e tinha a bolsa, e tirava o que ali se lançava. Disse, pois, Jesus: ‘Deixai-a; para o dia da minha sepultura guardou isto; porque os pobres sempre os tendes convosco, mas a mim nem sempre me tendes.’
E muita gente dos judeus soube que ele estava ali; e foram, não só por causa de Jesus, mas também para ver a Lázaro, a quem ressuscitara dentre os mortos. E os principais dos sacerdotes tomaram deliberação para matar também a Lázaro; por que muitos dos judeus, por causa dele, iam e criam em Jesus.”

João 12, 1-11

Neste trecho do evangelho estamos diante da opção entre a adoração de Cristo por Maria e o utilitarismo de Judas. Ela lhe oferece a totalidade de sua vida, tudo o que ela é e tudo o que tem. Maria ama enquanto Judas calcula. Qual é a atitude que prepondera em nossos tempos? Em que medida o atendimento aos aspectos práticos e a eficiência diminuem ou traem o amor em nossos corações?
Maria prenuncia com seu ato de ungir os pés de Jesus o próprio ato deste de lavar os pés de seus discípulos antes da Última Ceia. Isso antecede também o seu sacrifício pela humanidade. Ele não poupa nada de si, o seu amor não tem preço. Por que o nosso deveria ter? Maria reconheceu que Jesus é mais precioso do que todos os tesouros. Vemos na atitude de Maria a melhor resposta para a graça de Jesus. Ela reconheceu Deus em Jesus e deu a Ele tudo o que tinha. Judas apresenta a opção aparentemente justa no que diz respeito às necessidades dos pobres. Novamente aqui estamos diante dos princípios da abundância do amor divino e da escassez no âmbito das necessidades da vida terrena, necessidades da alma e do corpo. Mas elas não precisam ser contraditórias, pois dando ao Cristo o que é nossa devoção e nossa entrega, nos preparamos interiormente para o que corresponde a um estado de união. Essa união emana de nossos corações em amor para com nossos irmãos, colocando-nos a seu serviço em todos os âmbitos.
Assim fica claro qual é a prioridade. Sempre!

Carlos Maranhão

Reflexão para o domingo, 07 de junho

Época de Trindade
Referente ao perícope João 3, 1-21

“Em verdade, em verdade te digo que se alguém não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito”.
João 3, 5-6
Todos os dias, de manhã o sol nasce, e à tarde ele se põe. Qualquer um que presta atenção, pode observar como o sol começa o seu caminho no Leste, se eleva pelo céu, até alcançar seu cume ao meio-dia, e desce até desaparecer no Oeste. Podemos ver como o Sol faz o seu percurso no céu, enquanto a Terra está imóvel sob os nossos pés. Esta é a vivência que todos temos: o Sol gira em torno da Terra. E, no entanto, desde crianças aprendemos, e acreditamos, que a realidade é o oposto: a Terra gira em torno do Sol.
Há muitas coisas que se apresentam aparentemente de uma maneira, mas observando melhor se reconhece que a verdade pode ser o oposto. Assim é também com o nascimento e a morte. A nossa biografia, aqui na Terra, tem um início e um fim. Normalmente, dizemos que nascemos no início da nossa biografia e morremos no seu fim. Mas, observando melhor, podemos reconhecer que, essa forma de ver as coisas, é uma verdade somente em relação ao corpo. Aquilo que chamamos de nascimento, é o início da vida do corpo, e o que chamamos de morte, o fim da sua vida. Mas nós não somos o nosso corpo. Temos um corpo, mas em realidade somos a alma, o eu que se encarnou neste corpo.
Como foi, para a nossa alma, a experiência que ela teve ao se encarnar? Ela se separou do mundo espiritual, se separou da sua origem. Para a nossa alma, encarnar-se é muito mais uma vivência de separação, de morte. A verdade é que, quando o corpo nasce e a alma se encarna, ela passa por uma vivência de morte.
E como será quando o corpo morrer? Esta é a pergunta essencial do Cristianismo: é possível nascer de novo, da água e do Espírito? É possível nos ligarmos não só com o corpo, mas também com o Espírito, de tal forma que a nossa alma, no momento da morte do corpo, possa nascer de novo? Este é o impulso que o Cristo nos trouxe: que possamos nascer no Espírito, depois da morte do corpo.
Precisamos da ligação com o corpo para formar a nossa consciência desperta. Mas cada esforço que fazemos para preencher nossa consciência, nossos pensamentos e nossos sentimentos, com uma realidade espiritual, pode fazer parte do processo de gestação da nossa alma, para que possamos nascer no Espírito.
João F. Torunsky

Reflexão sobre o Evangelho de João, 6 de junho

“Muitos judeus que tinham ido à casa de Maria e viram o que Jesus fizera, creram nele. Alguns, porém, foram contar aos fariseus o que Jesus tinha feito. Os sumos sacerdotes e os fariseus, então, reuniram o sinédrio e discutiam: ‘Que vamos fazer? Este homem faz muitos sinais. Se deixarmos que ele continue assim, todos vão acreditar nele; os romanos virão e destruirão o nosso Lugar Santo e a nossa nação.’ Um deles, chamado Caifás, sumo sacerdote naquele ano, disse: ‘Vós não entendeis nada! Não percebeis que é melhor um só morrer pelo povo do que perecer a nação inteira?’ Caifás não falou isso por si mesmo. Sendo sumo sacerdote naquele ano, profetizou que Jesus morreria pela nação; e não só pela nação, mas também para reunir os filhos de Deus dispersos. A partir desse dia, decidiram matar Jesus. Por isso, Jesus não andava mais em público no meio dos judeus. Ele foi para uma região perto do deserto, para uma cidade chamada Efraim. Lá permaneceu com os seus discípulos.
A Páscoa dos judeus estava próxima. Muita gente da região tinha subido a Jerusalém para se purificar antes da Páscoa. Eles procuravam Jesus e, reunidos no templo, comentavam: ‘Que vos parece? Será que ele não vem para a festa?’ Entretanto, os sumos sacerdotes e os fariseus tinham dado a seguinte ordem: se alguém soubesse onde Jesus estava, devia comunicá-lo, para que o prendessem.”
João 11, 45-57
O ato da ressurreição de Lázaro, direcionou os responsáveis pelo povo, a matá-lo. Ele realizara, na esfera pública, o grande ato de iniciação até  então sempre mantido em segredo no interior mais profundo dos mistérios. Portanto ele merece a morte. Os representantes das antigas tradições não podiam decidir por outra coisa. Somente um deles, Nicodemos (Jo 3, 1-15), membro do sinédrio, pôde alcançar a consciência de que, o que acontecia ali, se tratava de uma transformação completa, de um completo novo nascimento. Foi ele quem fez a pergunta: “Como pode um ser humano nascer uma segunda vez?”
Os outros, porém, ao não perceberam a transformação e renovação de todos os princípios, só puderam pronunciar uma sentença, como se quisessem dizer: Ele revelou os mistérios, portanto deve morrer.¹

Cristo nos traz uma nova era. A era da religação com os planos espirituais. Ele auxilia cada alma humana a sair das sombras da morte e caminhar para a luz da vida. Agora não mais com uma consciência grupal, mas sim individual. Não mais com distinções e sim em igualdade. Ele abre as portas para a atuação de cada eu superior humano, nossa essência divina. Ela está livre para permear nosso eu cotidiano, nossa alma, nosso ser vital e físico. Podemos fortalecer essa atuação ao tornarmos consciente em nós o alimento recebido: “Eu sou o pão da vida”. Ao percebermos quem nos tira das sombras: “Eu sou a luz do mundo”. Ao nos acercarmos do portal vida e morte: “Eu sou a porta”. Ao recebermos em nós aquele que nos acolhe e abraça: “Eu sou o bom pastor”. Aquele que liberta nossa alma da morte: “Eu sou a ressurreição e a vida”. Ao nos esmerarmos em direção à evolução humana: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida”. E finalmente ao nos tornarmos ramos frutíferos da videira: “Eu sou a videira verdadeira”.
A transformação e renovação representa, para as forças adversas, um grande risco de perder sua atuação sobre a alma humana. Assim somos constantemente atacados em nossas bases. Elas querem nossa sentença de morte. Cabe a nós, sempre de novo perguntar: “Posso nascer uma segunda vez?”. Cabe a nós alcançarmos a consciência de que, o que acontece aqui, se trata de uma transformação completa, de um completo novo nascimento.

Viviane Trunkle

¹ Tradução livre de texto de Gérard Klockenbring em “O Evangelho de João”, página 320.

Reflexão sobre o Evangelho de João, 5 de junho

“De novo, Jesus ficou interiormente comovido. Chegou ao túmulo. Era uma gruta fechada com uma pedra. Jesus disse: ‘Tirai a pedra!’ Marta, a irmã do morto, disse-lhe: ‘Senhor, já cheira mal, é o quarto dia’. Jesus respondeu: ‘Não te disse que, se creres, verás a glória de Deus?’
Tiraram então a pedra. E Jesus, levantando os olhos para o alto, disse: ‘Pai, eu te dou graças porque me ouviste! Eu sei que sempre me ouves, mas digo isto por causa da multidão em torno de mim, para que creia que tu me enviaste’.
Dito isso, exclamou com voz forte: ‘Lázaro, vem para fora!’ O que estivera morto saiu, com as mãos e os pés amarrados com faixas e um pano em volta do rosto. Jesus, então, disse-lhes: ‘Desamarrai-o e deixai-o ir!’”

João 11, 38-44

No começo deste, trecho Jesus sente uma grande movimentação interna e vai para o lugar aonde colocaram Lázaro. Era uma gruta fechada com uma grande pedra. O que vemos em seguida é uma iniciação no limiar entre os antigos e os novos mistérios. Lázaro foi conduzido até a morte e ficou três dias na escuridão do túmulo. Em relatos de outras iniciações também encontramos esse período de três dias nas sombras. Nelas uma pessoa que conduzia a iniciação e no final do processo, chamava o iniciado de volta à vida. Essa tarefa assume o Cristo quando chama Lázaro. O novo da iniciação de Lázaro é que ela acontece abertamente em frente a multidão. Revelar os segredos da iniciação era punido, na antiguidade, com a morte. Logo em seguida Cristo começa seu caminho pela paixão, morte e ressurreição, na qual ele vai transformar a iniciação ainda mais. Desde então, o caminho para a iniciação está aberto para todos os seres humanos através do próprio eu.
O que nos movimenta internamente de tal forma que requer transformação? Quais vivências precisam passar pela morte para se metamorfosearem? Cada um de nós encontrará em sua biografia momentos que não foram bem resolvidos. Situações onde erramos, ou não fizemos o que era necessário. Onde nossa alma foi ferida, ou ferimos outra pessoa. Esses momentos podem impedir e frear nosso desenvolvimento. Mas também podem nos dar a força da transformação. Eles podem passar por um processo de morte e ressurreição.
Cada ser humano tem uma instância em si, capaz de acompanhar essa metamorfose. Podemos chamá-la de eu superior. Ele está ligado com nosso ser eterno e não é idêntico ao eu cotidiano. O eu superior pode dirigir e acompanhar nosso caminho de transformação em nossa biografia. Nele está presente a força do Cristo que acompanhou Lázaro em seu caminho. O que em nós passa pela morte é chamado para a ressurreição por nosso eu superior: “Vem para fora!”. Assim, toda transformação pode se tornar frutífera para o mundo.

Julian Rögge

Reflexão sobre o Evangelho de João, 4 de junho

Chegando, pois, Jesus, achou que já havia quatro dias que estava na sepultura. (Ora Betânia distava de Jerusalém quase quinze estádios. ) E muitos dos judeus tinham ido consolar a Marta e a Maria, acerca de seu irmão. Ouvindo, pois, Marta que Jesus vinha, saiu-lhe ao encontro; Maria, porém, ficou assentada em casa. Disse, pois, Marta a Jesus: ‘Senhor, se tu estivesses aqui, meu irmão não teria morrido. Mas também agora sei que tudo quanto pedires a Deus, Deus to concederá’. Disse-lhe Jesus: ‘Teu irmão há de ressuscitar’. Disse-lhe Marta: ‘Eu sei que há de ressuscitar na ressurreição do último dia’. Disse-lhe Jesus: ‘Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá; e todo aquele que vive, e crê em mim, nunca morrerá. Crês tu isto?’
Disse-lhe ela: ‘Sim, Senhor, creio que tu és o Cristo, o Filho de Deus, que havia de vir ao mundo’. E, dito isto, partiu, e chamou em segredo a Maria, sua irmã, dizendo: ‘O Mestre está cá, e chama-te’. Ela, ouvindo isto, levantou-se logo, e foi ter com ele. (Pois, Jesus ainda não tinha chegado à aldeia, mas estava no lugar onde Marta o encontrara.) Vendo, pois, os judeus, que estavam com ela em casa e a consolavam, que Maria apressadamente se levantara e saíra, seguiram-na, dizendo: ‘Vai ao sepulcro para chorar ali’. Tendo, pois, Maria chegado aonde Jesus estava, e vendo-o, lançou-se aos seus pés, dizendo-lhe: ‘Senhor, se tu estivesses aqui, meu irmão não teria morrido’. Jesus pois, quando a viu chorar, e também chorando os judeus que com ela vinham, moveu-se muito em espírito, e perturbou-se. E disse: ‘Onde o pusestes?’ Disseram-lhe: ‘Senhor, vem, e vê’. Jesus chorou. Disseram, pois, os judeus: ‘Vede como o amava’. E alguns deles disseram: ‘Não podia ele, que abriu os olhos ao cego, fazer também com que este não morresse?’

João 11, 17-37

De que morte fala o Cristo aqui? Em época em que as estatísticas de morte nos assustam a cada dia, em que muitos mortos são enterrados sem velório, em que mal há condições para que os parentes possam se despedir de seus mortos. Mas se levamos em consideração a palavra de Cristo, o que é a morte se ele é a Ressurreição?
É claro que isso não significa que não haja dor na perda de um ente querido, o luto faz parte da vida e, embora não se trate de uma despedida definitiva, há um forte impacto nessa transição, para os que vão e para os que ficam. Mas o Cristo nos diz: “Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá; e todo aquele que vive, e crê em mim, nunca morrerá”.
Goethe disse o mesmo com outras palavras:
“E enquanto você não tiver isso, este morrer e viver! Você é um triste hóspede da Terra escura”. É por isso que consideramos as palavras do Cristo não apenas como consolo, mas como aviso, alerta e indicação de atitude diante da própria morte. Que trabalhemos para que ela seja apenas a morte física e que possamos transformar a “morte em vida” em ressurreição com a força de Cristo. É dessa disposição de alma que o futuro pós-pandemia nos espera. A ressurreição de Cristo é a nossa vida, mesmo diante da morte. Agora e sempre.

Carlos Maranhão

Reflexão sobre o Evangelho de João, 2 de junho

“Ora, havia um doente, Lázaro, de Betânia, do povoado de Marta e de Maria, sua irmã. Maria é aquela que ungiu o Senhor com perfume e enxugou seus pés com os cabelos. Lázaro, seu irmão, é quem estava doente. As irmãs mandaram avisar Jesus: ‘Senhor, aquele que amas está doente’. Ouvindo isso, disse Jesus: ‘Esta doença não leva à morte, mas é para a glória de Deus, para que o Filho de Deus seja glorificado por ela’. Jesus tinha muito amor a Marta, a sua irmã Maria e a Lázaro. Depois que ele soube que este estava doente, permaneceu ainda dois dias no lugar onde estava. Depois, falou aos discípulos: ‘Vamos, de novo, à Judeia’. Os discípulos disseram-lhe: ‘Rabi, ainda há pouco os judeus queriam apedrejar-te, e agora vais outra vez para lá?’ Jesus respondeu: ‘O dia não tem doze horas? Se alguém caminha de dia, não tropeça, porque vê a luz deste mundo. Mas, se caminha de noite, tropeça, porque lhe falta a luz’. E acrescentou ainda: ’Nosso amigo Lázaro está dormindo. Mas, eu vou acordá-lo’. Os discípulos disseram: ’Senhor, se está dormindo, vai ficar curado’. Jesus falava da morte de Lázaro, mas os discípulos pensaram que ele estivesse falando do sono mesmo. Jesus então falou abertamente: ‘Lázaro morreu! E, por causa de vós, eu me alegro por não ter estado lá, pois assim podereis crer. Mas vamos a ele’. Tomé (cujo nome significa Gêmeo) disse aos companheiros: ‘Vamos nós também, para morrermos com ele!’”

João 11, 1-16

Chegamos ao topo da montanha, onde com olhos despertos, visualizamos a paisagem criada por Jesus em seu caminhar pela Terra. A partir de agora, com grande magnitude, vislumbramos o que é e o que está por vir. Nesta passagem, encontramos em Lázaro, Marta e Maria representantes de toda a humanidade. E o que ressoa aqui? O amor de Jesus por eles. Cada qual em sua etapa de iniciação nos novos mistérios. Os mistérios cristãos. Lázaro passa por um processo de iniciação. Os antigos mistérios de iniciação eram muito bem conhecidos. Porém eram somente realizados em candidatos especialmente escolhidos para tal. Não era um processo aberto à qualquer pessoa. O que temos então em Lázaro? A inauguração de uma nova era dos mistérios. Cristo traz à humanidade, a possibilidade de trilharmos, em liberdade, um caminho iniciático. Todos passamos a escolhidos. A força destes três irmãos em equilíbrio, nos indica um dos caminhos de aproximação dos novos mistérios cristãos. Marta, quem alcançou o desenvolvimento da vontade, quem provém e atua cada vez mais altruisticamente. Maria, quem alcançou o desenvolvimento do sentir, quem unge o Ungido, entregando assim aos céus, o ser que os céus nos enviou. Lázaro, quem alçou o voo da águia e a partir de então foi capaz de ouvir, ver e pronunciar a palavra do Logos, do Verbo.
Cristo envolve os três com o amor divino.
Todo ser humano pode caminhar rumo à iniciação cristã.
“O dia não tem doze horas? Se alguém caminha de dia, não tropeça, porque vê a luz deste mundo. Mas, se caminha de noite, tropeça, porque lhe falta a luz”.
Em meio a todo o imenso acontecimento do capítulo 11, ressoam estas palavras,  talvez incompreensíveis. Carregamos em nós essas duas forças que se entrelaçam: dia/luz e noite/falta de luz. Muitas vezes somos levados pelo que a vida e os obstáculos nos trazem e perdemos nossa meta. Seguimos tateando no escuro, sem encontrar nossa real direção. Ao reconhecermos internamente a luz que habita em nós, aquilo que percebemos como verdadeiro nos dará o impulso de atuação no mundo. Nada do que venha de fora irá nos abalar e nos tirar de nossa meta. Mesmo as dificuldades e os obstáculos que nos jogam novamente para a noite. Seremos cada vez mais capazes de nos reerguer e caminhar novamente na luz.
Eu sou a luz do mundo, quem me segue não caminha nas trevas, mas terá a luz da vida.” (Jo 8,12)
Os três irmãos, em seus estágios diferentes de evolução e iniciação, reconheceram a luz do Eu Sou e passaram a caminhar na luz da vida. Nos acenam enviando-nos coragem para o próximo passo.

Viviane Trunkle

Reflexão sobre o Evangelho de João, 1 de junho

“De novo, os judeus pegaram em pedras para apedrejar Jesus. E ele lhes disse: ‘Eu vos mostrei muitas obras boas da parte do Pai. Por qual delas me quereis apedrejar?’ Os judeus responderam: ‘Não queremos te apedrejar por causa de uma obra boa, mas por causa da blasfêmia. Tu, sendo apenas um homem, pretendes ser Deus!’ Jesus respondeu: ‘Acaso não está escrito na vossa Lei: ‘Eu disse: sois deuses?’ ‘Ora, ninguém pode anular a Escritura. Se a Lei chama deuses as pessoas às quais se dirigiu a palavra de Deus, por que, então, acusais de blasfêmia àquele que o Pai consagrou e enviou ao mundo, só porque disse: ‘Eu sou Filho de Deus?’ Se não faço as obras do meu Pai, não acrediteis em mim. Mas, se eu as faço, mesmo que não queirais crer em mim, crede nas minhas obras, para que saibais e reconheçais que o Pai está em mim e eu no Pai.’
Mais uma vez, procuravam prendê-lo, mas ele escapou das suas mãos. Jesus se retirou de novo para o outro lado do Jordão, para o lugar onde, antes, João esteve batizando. Ele permaneceu lá, e muitos foram a ele. Diziam: ‘João não fez nenhum sinal, mas tudo o que ele falou a respeito deste homem é verdade’.”

João 10, 31-41

Jesus se refere aqui ao Salmo 82:

(…) Não entendem, não querem entender, caminham no escuro; vacilam todos os fundamentos da terra. Eu disse: ‘Vós sois deuses, sois todos filhos do Altíssimo. No entanto, morrereis como qualquer homem, caireis como todos os poderosos’. (…)

Somos deuses? Podemos nos chamar filhos de Deus? Provavelmente a maior parte do tempo não sentimos isso.
Todos nós temos uma chama do divino em nós. Uma flama que vem do verbo eterno, da palavra de Deus. Esse divino em nós muitas vezes não está visível, coberto pelas nossas preocupações, erros e descuidados. Não temos consciência dele. Não o deixamos brilhar.
Na Época de Pentecostes, na festa do Espírito Santo, podemos nos lembrar da chama divina em cada um de nós. É possível encontrá-la em nosso íntimo e no encontro com outro ser humano. Como a chama de uma vela, ela precisa de cuidado. Precisa de um âmbito tranquilo, de um alimento que pode se transformar em luz e calor, e do pavio onde ela pode se acender. Sem as agitações das nossas preocupações e medos. Para encontrá-la necessitamos de olhos que a veem e coração que a sente.
Com o cuidado necessário, a chama divina brilhará cada vez mais. Fortalecendo o divino em nós, nos tornaremos verdadeiros filhos de Deus e realizaremos sua obra.

Julian Rögge

Reflexão para o domingo, 31 de maio

Reflexão para domingo 31 de maio de 2020.
Época de Pentecostes
Referente ao Perícope de João 14, 23 – 31

O Ato dos Apóstolos, em seu segundo capítulo, nos conta que no dia de Pentecostes  os discípulos estavam reunidos na casa onde haviam celebrado a Última Ceia e que, subitamente, um fogo dos céus apareceu sobre eles se fragmentando em línguas de fogo que descenderam e repousaram sobre cada um dos doze discípulos de Cristo. A partir deste momento eles ficaram “plenos do Espírito” e começaram a anunciar a Boa Nova de Jesus Cristos a todos os povos.  Eles tornaram-se apóstolos (palavra grega que traduzida quer dizer “enviado”) e, até o final de suas vidas, se dedicaram a levar esta mensagem a todos os lugares que visitaram. Esta “flama divina” jamais se extinguiu de seus corações e de suas consciências.  Desde então a tradição cristã relembra todos os anos, nos 50 dias após a páscoa, a vinda do Espírito Santo.
Na Comunidade de Cristãos, temos o costume de ler na celebração deste dia o trecho final do capítulo 14 que inicia com as palavras:
“… Quem me ama de verdade, guarda minhas palavras”
Podemos refletir sobre esta frase à luz da narrativa do acontecimento de Pentecostes: O que significa “guardar” sua palavra?
– Guardar na consciência, estudá-la, memorizá-la, aprofundar-se na compreensão de seu significado.
– Guardar no coração e deixar que Sua Palavra seja em nós um depurador de nossa alma, um lapidador de nossos sentimentos. Há inúmeras passagens nos Evangelhos, em especial nas parábolas, que podem nos ajudar em momentos de dificuldades, quando sentimos medo, solidão ou angústia. São palavras que trazem fortalecimento e consolo.
– Guardar Sua Palavra no mais profundo do nosso ser e utilizar os ensinamentos de Cristo como impulso para atuar na vida, impulsos para vencer o próprio egoísmo, para atuar de forma coerente na vida.
Tudo isto pode ser entendido a partir desta exortação: “guardar!”
Pode-se ainda ampliar o processo:
No início do evangelho de João, o evangelista se refere a Cristo como o “Verbo Divino”, o “Logos”, ou seja, a “Palavra”. Se tomamos esta expressão não apenas como uma alegoria, mas como uma realidade, significa que a força do ser de Cristo vive na palavra, Cristo mesmo vive em Sua Palavra. Neste sentido, guardar Sua Palavra, significa incorporá-la e incorporá-lo ao mesmo tempo, significa compenetrar-se com esta palavra que representa seu Ser. O texto do capítulo 14 prossegue:
“… e meu Pai o amará, e viremos para ele, e faremos nele morada.”
Guardar a palavra de Cristo é permitir que Ele adentre em nossa alma e que habite em nós, em nossa consciência, em nosso coração, nos impulsos que nos levam a atuar no mundo.
Vimos como o impulso de Pentecostes permaneceu aceso nos discípulos por toda sua vida terrena. Foi esta “chama divina” que os levou a todos os lugares onde deviam ir e lhes deu coragem quando tiveram que superar dificuldades.
Num sentido moderno, podemos dizer que Pentecostes hoje pode ser vivenciado a partir da exortação expressa pelo próprio Cristo no capítulo 14 aos discípulos, ou seja, a todos aqueles que, também na atualidade, querem se tornar Seus discípulos. Pentecostes acontece hoje, cada vez que nos esforçamos para “guardar” em nós algo de seu impulso espiritual. Cada vez que nos esforçamos para vivificar em nós este impulso transformador e nos sentimos imbuídos da vontade de ir ao encontro do outro para ajudá-lo, para consolá-lo, para nos confraternizarmos com ele. Nosso tempo urge por este impulso, urge por seres humanos que estejam imbuídos genuinamente de impulsos fraternos e solidários com o próximo. Tais impulsos devem também se estender a todos os seres da natureza, no cuidado, no respeito e na proteção aos seres vivos e ao meio ambiente.
Pentecostes, portanto, não é uma festa para recordar algo que já aconteceu. Trata-se do desafio diário de cuidar para que Sua Palavra não se perca ou se enrijeça no coração humano, mas que se torne algo vivo, para que a “vida pura de Cristo” vibre como fogo espiritual em nós.
Imbuídos deste fogo, fica então evidente o que Ele mesmo quis dizer ao final desta exortação: “… ergamo-nos, agora podemos sair deste lugar!”
Pentecoste não é algo para ficar limitado a uma pessoa ou a um pequeno grupo ou a um determinado lugar. É preciso sair pelo mundo e levar a todas as criaturas a força espiritual que flameja em Sua Palavra e que se tornou viva dentro de nós.

Renato Gomes