Reflexão para o domingo, 17 de maio

Referente ao Perícope João 14

Todo o capítulo 14 do Evangelho de João tem, como pano de fundo, a relação entre o Pai, o Filho, o Espírito Santo e os seres humanos. Nele o Cristo se despede dos discípulos. Ele diz que irá para o Pai e o Pai enviará o Espírito Santo, o Espírito da Verdade. Porém os discípulos não compreendem. À pergunta de Tomé, Cristo responde: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida.” Com o ‘Eu sou’, Cristo nos mostra uma possibilidade de nos aproximarmos do mundo espiritual. Ele aponta para um caminho em direção ao Pai e ao Espírito Santo através dele.
Os seres espirituais respeitam totalmente a nossa liberdade. O impulso de nos relacionarmos com eles, deve partir de nós. Precisamos dar o primeiro passo para trilhar o caminho em direção ao Divino. Um primeiro passo pode ser procurarmos sentir e entender a verdade eterna. A verdade que permeia tudo e da qual o Cristo nos fala. A verdade que vem do Espírito Santo. Ao estarmos atentos, descobrimos a verdade em tudo ao nosso redor: Na beleza de uma pedra, na simetria de uma flor, na sabedoria de uma colmeia. Toda a natureza é repleta de verdade e sabedoria. Procurando em nossa vida e em nossa alma a encontramos também: No destino da nossa biografia, nos encontros com outras pessoas, no diálogo com o mundo espiritual e nas palavras do Cristo.
O sopro da verdade que descobrimos muda a nossa vida? Ela vai se tornar essencial para nós? A procura da verdade ganha sentido quando tentamos integrar cada descoberta em nossa vida; quando a verdade muda a nossa vida. Podemos atuar da mesma maneira na natureza, nas relações humanas e no relacionamento com o Divino quando percebemos que tudo é repleto da mesma verdade?
O ‘Eu sou’ pode se tornar uma prática diária: A cada dia começar novamente o caminho, descobrir sempre de novo a verdade e deixá-la penetrar e mudar nossa vida. Assim estaremos com Cristo no caminho para o Pai e o Espírito da Verdade.

Julian Rögge

Reflexão sobre o Evangelho de João, 16 de maio

“Disse-lhes, pois, Jesus outra vez: ‘Eu retiro-me, e buscar-me eis, e morrereis no vosso pecado. Para onde eu vou, não podeis vós vir.’
Diziam, pois, os judeus: ‘Porventura quererá matar-se a si mesmo, pois diz: Para onde eu vou não podeis vir?’
E dizia-lhes: ‘Vós sois de baixo, eu sou de cima; vós sois deste mundo, eu não sou deste mundo. Por isso vos disse que morrereis em vossos pecados, porque se não crerdes que eu sou, morrereis em vossos pecados.’
Disseram-lhe, pois: ‘Quem és tu?’ Jesus lhes disse: ‘Isso mesmo que já desde o princípio vos disse. Muito tenho que dizer e julgar de vós, mas aquele que me enviou é verdadeiro; e o que dele tenho ouvido, isso falo ao mundo. Mas não entenderam que ele lhes falava do Pai.’
Disse-lhes, pois, Jesus: ‘Quando levantardes o Filho do homem, então conhecereis que EU SOU, e que nada faço por mim mesmo; mas isto falo como meu Pai me ensinou. E aquele que me enviou está comigo. O Pai não me tem deixado só, porque eu faço sempre o que lhe agrada.’
Dizendo ele estas coisas, muitos creram nele.”

João 8, 21-30

Jesus nos ensina a avaliar corretamente nossa posição em relação a Deus. Enquanto o Filho Único é “de cima”, nós somos “de baixo”. Enquanto nós somos deste mundo, Ele não é deste mundo. Ele é eterno, nós somos impermanentes.
O fato de nós, como seres criados, estarmos sob o Criador, não explica tudo. No começo, o Todo-Poderoso colocou a eternidade do homem em sua alma, mas o homem esqueceu-se dessa eternidade divina: a morte chegou ao homem como pecado. Desde então, passamos a ser seres transitórios. Mas será possível ter em consciência o fenômeno da “queda” e, ao mesmo tempo, acreditar sinceramente no verdadeiro, no bom e no belo e crer que isso é inerente ao ser humano e que ele pode desenvolver-se sozinho? Mas quem percebe o mundo com coração aberto ainda é capaz de ouvir em sua consciência que a história não termina aí.
Jesus é divino, mas foi enviado por Deus como homem.
Ele diz: “Quando levantardes o Filho do homem, então conhecereis que EU SOU, e que nada faço por mim mesmo; mas isto falo como meu Pai me ensinou”. Eis o maior motivo de sua vinda, resgatar o ser humano da morte. Não da morte meramente física, da morte da própria alma. Na medida em que nos conscientizamos de sua missão e nos ligamos a ele, então aprendemos a reconhecer nossa verdadeira essência, o “Eu Sou”, nossa verdadeira identidade. Só a partir dessa convicção, podemos reconhecer e desenvolver o bom, o belo e o verdadeiro, em nós e no mundo.

Carlos Maranhão

Reflexão sobre o Evangelho de João, 15 de maio

“Jesus falou ainda: ‘Eu sou a luz do mundo. Quem me segue não caminha nas trevas, mas terá a luz da vida.’
Os fariseus então disseram: ‘O teu testemunho não é verdadeiro, porque dás testemunho de ti mesmo.’
Jesus respondeu: ‘Embora eu dê testemunho de mim mesmo, o meu testemunho é verdadeiro, porque eu sei de onde venho e para onde vou. Mas vós não sabeis de onde venho, nem para onde eu vou. Vós julgais segundo a carne; eu não julgo ninguém, e se eu julgo, o meu julgamento é verdadeiro, porque eu não estou só, mas o Pai que me enviou está comigo. Na vossa Lei está escrito que o testemunho de duas pessoas é verdadeiro. Ora, eu dou testemunho de mim mesmo, e também o Pai, que me enviou, dá testemunho de mim.’
Eles, então, perguntaram: ‘Onde está o teu Pai?’ Jesus respondeu: ‘Vós não conheceis nem a mim, nem a meu Pai. Se me conhecêsseis, conheceríeis também o meu Pai.’
Ele falou essas coisas enquanto ensinava no templo, junto à sala do tesouro. Ninguém o prendeu, porque sua hora ainda não tinha chegado.”

João 8, 12-20

“Eu sou a luz do mundo.”

Como vivenciar a Luz do novo mundo, o Sol do novo mundo?
A Luz deste Sol é espiritual. O sol por nós avistado é como uma imagem, um esperançar o ser “mais sol do que o sol.” Nos acercamos ao Sol do novo mundo vivenciando a luz externa cada vez mais como espiritual, até ela se amalgamar ao ser do Cristo. E por outro lado, podemos tentar vivenciar o Cristo cada vez mais vivo, mais iluminado, até Ele realmente brilhar como a luz da nossa vida, como a luz do nosso dia.
Proponho duas experiências de vivência da luz. Interessante será observar no final, as diferenças entre elas.
Preparar um caderno ao lado da cama. Logo ao acordar, antes de qualquer outro ato ou gesto, observar quais são os sentimentos com os quais acordamos. Anotar.
Passado alguns dias desse exercício, acordar pouco antes do sol nascer, observar a luminosidade adentrar o ambiente. Qual sentimento surge nesse momento? Anotar. E antes de pensarmos em todos os afazeres, preocupações, medos e angústias, preencher o coração desta luz e permitir que ela cresça por sobre a adversidade. Permitir sua regência e não a das trevas. Em gestos de gratidão perante a Luz do novo mundo, nosso guia na escuridão, dar o primeiro passo rumo às atividades do dia.

Matinal brilho da eternidade,
Luz de inesgotáveis Luzes,
Alvorecer
Envie teus raios
E afugente com tuas forças
Nossas trevas!

Christian Knorr von Rosenroth

Viviane Trunkle

Reflexão sobre o Evangelho de João, 14 de maio

“Jesus foi para o Monte das Oliveiras. De madrugada, voltou ao templo, e todo o povo se reuniu ao redor dele. Sentando-se, começou a ensiná-los.
Os escribas e os fariseus trouxeram uma mulher apanhada em adultério. Colocando-a no meio, disseram a Jesus: ‘Mestre, esta mulher foi flagrada cometendo adultério. Moisés, na Lei, nos mandou apedrejar tais mulheres. E tu, que dizes?’
Eles perguntavam isso para experimentá-lo e ter motivo para acusá-lo. Mas Jesus, inclinando-se, começou a escrever no chão, com o dedo. Como insistissem em perguntar, Jesus ergueu-se e disse: ‘Que seja o entre vós, que nunca errou, o primeiro a atirar-lhe uma pedra.’ Inclinando-se de novo, continuou a escrever no chão. Ouvindo isso, foram saindo um por um, a começar pelos mais velhos. Jesus ficou sozinho com a mulher que estava no meio, em pé.
Ele levantou-se e disse: ‘Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou?’ Ela respondeu: ‘Ninguém, Senhor!’ Jesus, então, lhe disse: ‘Eu também não te condeno. Vai, e de agora em diante não erre mais.’”

João 8, 1-11

Os fariseus e escribas trazem para Jesus uma mulher (e o homem?) apanhada em adultério. Pela lei de Moisés ela deve ser punida com a morte. Nesse momento os judeus estão fixos no cumprimento da lei. Não olham o caso específico da mulher, tão pouco para a própria consciência. Não se perguntam se tem o direito moral de condená-la.
Jesus desperta-lhes a consciência com a frase: “Que seja o entre vós, que nunca errou, o primeiro a atirar-lhe uma pedra.” No espelho da consciência, reconhecem os próprios erros e percebem que não podem julgá-la. Os mais velhos, com experiência de vida, se retiram primeiro. Eles tem a honestidade de assumir que não estão em uma posição de condená-la, mesmo ela sendo culpada perante a lei. Jesus também não a condena mas pede para ela não errar mais. Podemos entender que ele pede para ela se esforçar em aprender com os erros e mudar sua vida.
O trecho do evangelho nos traz duas grandes questões: a dos nossos julgamentos e a dos nossos erros. A primeira fica evidente com os judeus. Estamos na posição de condenar alguém? Nossa consciência está tão limpa a ponto de nos acharmos no direito de julgar o outro? A resposta encontramos na própria consciência. Nela temos um âmbito onde percebemos nossa própria situação. Nela podemos olhar para nossas ações e julgá-las. O que foi bom e o que devemos melhorar? Assim reconhecemos os próprios erros – um trabalho mais difícil, mas também muito mais frutífero do que apontar os erros do outro. Se conseguirmos aprender com nossos erros, podemos nos desenvolver pouco a pouco.
Jesus chama a atenção para as forças da consciência e para a possibilidade do aprender e se desenvolver. Essas são forças do nosso eu. No meio, no centro da nossa individualidade, está o lugar onde podemos encontrar, como a mulher, o Cristo. Ele é a grande força da mudança e do autodesenvolvimento.

Julian Rögge

Reflexão sobre o Evangelho de João, 12 de maio

“E no último dia, o grande dia da festa, Jesus pôs-se em pé, e clamou, dizendo: ‘Se alguém tem sede, venha a mim, e beba. Quem crê em mim, como diz a Escritura, rios de água viva correrão do seu interior.’
E isto disse ele do Espírito que haviam de receber os que nele cressem; porque o Espírito Santo ainda não fora dado, por ainda Jesus não ter sido glorificado. Então muitos da multidão, ouvindo esta palavra, diziam: ‘Verdadeiramente este é o Profeta.’ Outros diziam: ‘Este é o Cristo’; mas diziam outros: ‘Vem, pois, o Cristo da Galileia? Não diz a Escritura que o Cristo vem da descendência de Davi, e de Belém, da aldeia de onde era Davi?’
Assim entre o povo havia dissensão por causa dele. E alguns deles queriam prendê-lo, mas ninguém lançou mão dele. E os servidores foram ter com os principais dos sacerdotes e fariseus; e eles lhes perguntaram: ‘Por que não o trouxestes?’
Responderam os servidores: ‘Nunca homem algum falou assim como este homem.’
Responderam-lhes, pois, os fariseus: ‘Também vós fostes enganados? Creu nele porventura algum dos principais ou dos fariseus? Mas esta multidão, que não sabe a lei, é maldita.’
Nicodemos, que era um deles (o que de noite fora ter com Jesus), disse-lhes:
‘Porventura condena a nossa lei um homem sem primeiro o ouvir e ter conhecimento do que faz?’
Responderam eles, e disseram-lhe: ‘És tu também da Galileia? Examina, e verás que da Galileia nenhum profeta surgiu.’”

João 7, 37-52

Todos nós experimentamos de uma sede que a água comum não pode saciar. Podemos tentar sublimar essa sede, podemos tentar substituir por paliativos que nos possam distrair por algum tempo, mas permanece o anseio por uma relação verdadeira com o divino. Mas o Cristo não quer apenas satisfazer essa sede, pois ele considera cada um de nós em nossa particularidade, não apenas para que sejamos saciados, mas que rios de água viva fluam de nosso interior, não apenas uma felicidade difusa, mas o verdadeiro entusiasmo pela vida e pelo que podemos fazer a partir disso, para que a partir de nós flua para o mundo, por meio de nós, o que Cristo quer trazer para o mundo. Ele não vê nossa mera satisfação, mas o potencial de nossa obra a partir do sentimento de união com ele. A água viva é o Espírito Santo que fluía dele enquanto ainda não partira, mas que depois enviou para os discípulos em Pentecostes, e nos envia desde então. O vazio que sentimos na vida, só pode ser preenchido por uma relação genuína e significativa com Deus. A controvérsia que se segue de uns o reconhecerem como profeta e outros como impostor, se dá apenas pelo fato de aqueles que se fixam em leis do passado, estarem cegos pelo que não se permitem experimentar. É mais fácil ter respostas prontas do passado, leis, dogmas com fórmulas preestabelecidas. Mas essas nos cegam, pois não nos permitem vivenciar a relação com o próprio Cristo. Como diz Nicodemos: “Vamos condená-lo, sem nem ao menos ouvi-lo e ter conhecimento do que faz?”. Nicodemos sabia do que estava falando, pois já o experimentara em seu encontro noturno com o Cristo (João 3,1-2). Assim, não necessitamos acreditar em relatos externos, mas estar abertos para vivenciar e, a partir daí, saber por nós mesmos a verdade.

Carlos Maranhão

Reflexão sobre o Evangelho de João, 11 de maio

“Da multidão, muitos acreditavam nele, e comentavam: ‘Quando vier o Cristo, acaso fará mais sinais do que este?’
Os fariseus perceberam que a multidão murmurava tais coisas a respeito de Jesus. Os sumos sacerdotes e os fariseus mandaram então guardas para prendê-lo.
Mas, Jesus lhes disse: ‘Por pouco tempo ainda estou convosco; depois vou para aquele que me enviou. Vós me procurareis e não me encontrareis. E lá, onde eu estou, vós não podeis ir.’
Os judeus comentavam: ‘Para onde irá, de modo que não o poderemos encontrar? Acaso irá aonde vivem os judeus dispersos entre os gregos? Irá ensinar aos gregos?
Que significa a palavra que ele falou: ‘Vós me procurareis e não me achareis’ e: ‘Lá onde eu estou, vós não podeis ir?’”

João 7, 31-36

“Vós me procurareis e não me achareis. Lá, onde estou, vós não podeis ir.”

O atuar do Cristo é em nome do Pai. Total entrega à obra das hierarquias superiores. Ele não requer nada para si mesmo. Nem glória, nem autoafirmação.
Ele dispõe seu eu em sacrifício para tornar-se humilde servo de seu Pai, com o propósito de resgatar a humanidade, à qual ligou-se em devoto amor.
Os seres humanos que o rodeavam, não compreendiam sua missão, tão pouco sua forma de se apresentar. Seus irmãos lhe disseram: “Ninguém faz algo em segredo quando procura ser publicamente conhecido”.
Não fazer algo em segredo para se tornar conhecido, cabe melhor a nós que constantemente necessitamos alimentar nosso ego. Necessitamos a autoafirmação. E eis aí a pedra no caminho. Aquela que nos impede de chegarmos onde Ele está: O afã de preenchermos nosso ego.
Em contrapartida, o afinco na busca de nosso verdadeiro ser irá nos colocar na estrada que nos leva a Ele. “Eu sou o caminho, a verdade e a vida.” (Jo14). Quanto mais nos tornarmos servos humildes da verdade, mais preenchidos de Seu ser estaremos. O momento egoico da humanidade pode vir a ser passageiro. Depende de todos nós nos esforçarmos em entrega desinteressada de nosso ego. Depende de nós, conquistarmos o “não eu, mas o Cristo em mim”.

Viviane Trunkle

Reflexão para o domingo, 10 de maio

“A mulher, quando está para dar à luz, sente tristeza porque é chegada a sua hora; mas, depois de ter dado à luz a criança, já não se lembra da aflição, pelo gozo de haver um homem nascido ao mundo.”

João 16, 21

O parto de uma criança é um processo arquetípico para todos os fenômenos que têm relação com um caminho de desenvolvimento. Um dos aspectos do desenvolvimento é que ele pode trazer dor e sofrimento. Por incrível que pareça, em relação ao parto, existem realmente mulheres que não se recordam da dor, do sofrimento quando deram à luz. Com certeza outras mães nunca se esquecerão destas aflições. Mas seja como for, o sofrimento durante um parto tem um significado único: ele é necessário para que a criança possa nascer. O nascimento da criança, como fato, dá um sentido ao sofrimento da mãe.
Este é um processo arquetípico que podemos reconhecer no parto de uma criança e que podemos observar que se repete em todos os processos de desenvolvimento que percorremos individualmente durante a nossa biografia. Em geral a dor, o sofrimento, a aflição, que são necessários para o nosso desenvolvimento, se mostram muito claramente. Mas aquilo que de futuro está nascendo nem sempre se mostra tão evidente em nossa vida, como ocorre na gestação e no parto de uma criança. Por isso, quando estamos sofrendo e concentramos toda a nossa atenção apenas no sofrimento, corremos o risco de entrarmos em desespero. Pois um sofrimento que não tem a qualidade das dores do parto, ou seja, que possibilita o nascimento de algo novo, não faz sentido. Sofrer sem reconhecer um sentido no sofrimento é o que pode nos levar ao desespero.
Durante um sofrimento é necessário procurar viver com a pergunta: o que está querendo nascer de futuro em nossa vida? A resposta não receberemos necessariamente de imediato. Do mesmo modo, a mãe nem sempre tem um sentimento nítido de qual individualidade ela está servindo para que possa nascer. Só depois do parto, acolhendo o bebê em seu colo, ela poderá ver quem é aquele que estava formando um corpo em seu ventre e que agora vem ao mundo. Assim também acontece conosco, quando às vezes temos de viver muito tempo com a pergunta e somente depois de termos passado por todo um processo de desenvolvimento podemos reconhecer em qual nível de nosso ser conseguimos agora dar à luz.
A gestação leva a mãe a saber imediatamente que uma criança quer nascer. As gestações pelas quais passamos durante a nossa biografia nem sempre despertam a nossa consciência para o novo que quer nascer. Temos que, conscientemente, prestar a atenção, viver com a pergunta, abrir a nossa alma para ter um presságio daquele que está querendo nascer em nós. Perceber que todos estamos grávidos de um ser, todos estamos sofrendo as dores do parto do nosso próprio Eu.

João F. Torunsky

Reflexão sobre o Evangelho de João, 9 de maio

“Alguns de Jerusalém diziam: ‘Não é este a quem procuram matar? Olha, ele fala publicamente e ninguém lhe diz nada. Será que os chefes reconheceram que realmente ele é o Cristo? Mas este, nós sabemos de onde é. O Cristo, quando vier, ninguém saberá de onde é.’
Enquanto, pois, ensinava no templo, Jesus exclamou: ‘Sim, vós me conheceis, e sabeis de onde eu sou. Ora, eu não vim por conta própria; aquele que me enviou é verdadeiro, mas vós não o conheceis. Eu o conheço, porque venho dele e foi ele quem me enviou!’
Eles procuravam, então, prendê-lo, mas ninguém lhe pôs as mãos, porque ainda não tinha chegado a sua hora. Da multidão, muitos acreditavam nele, e comentavam: ‘Quando vier o Cristo, acaso fará mais sinais do que este?’”

João 7, 25-31

Sabemos de onde vem as pessoas que encontramos? Normalmente conhecemos seu nome, talvez sua profissão, o nome dos pais e o local de nascimento. Às vezes sabemos mais detalhes da sua vida… Assim entendemos de onde vem uma pessoa?
Todos viemos do mundo espiritual e temos uma essência espiritual. Ela se expressa em nossos ideais e vocação. Ela é o fundamento da nossa individualidade. Mas, essa essência pouco se revela através do nome ou descendência.
Sabemos de onde vem o outro? Normalmente conhecemos bem pouco seu ser espiritual. Dele, talvez tenhamos somente um vislumbre. Mas podemos nos desfazer de tudo oque acreditamos saber do outro e ao encontrá-lo, ter a pergunta interna: Quem és tu? De onde viestes? Assim criamos espaço para o ser espiritual do outro se revelar. Para ele se tornar visível no encontro e no diálogo. Através dele se revelará aquele que nos enviou para a Terra e nos deu a nossa missão: o Cristo.

Julian Rögge

Reflexão sobre o Evangelho de João, 8 de maio

“Mas, no meio da festa subiu Jesus ao templo, e ensinava. E os judeus maravilhavam-se, dizendo: ‘Como é que ele sabe tanto, não tendo estudado?’
Jesus lhes respondeu, e disse: ‘O que ensino não vem de mim, mas daquele que me enviou. Se alguém quiser fazer a vontade dele, pelo mesmo ensinamento conhecerá se ele é de Deus, ou se eu falo de mim mesmo. Quem fala de si mesmo busca a sua própria glória; mas o que busca a glória daquele que o enviou, esse é verdadeiro, e não há nele injustiça. Não vos deu Moisés a lei? E nenhum de vós observa a lei. Por que procurais me matar?’
A multidão respondeu, e disse: ‘Tens demônio; quem procura matar-te?’
Respondeu Jesus, e disse-lhes: ‘Fiz uma só obra, e todos vos maravilhais. Pelo motivo de que Moisés vos deu a circuncisão (não que fosse de Moisés, mas dos pais), no sábado circuncidais um homem. Se o homem recebe a circuncisão no sábado, para que a lei de Moisés não seja quebrantada, indignai-vos contra mim, porque no sábado curei de todo um homem? Não julgueis segundo a aparência, mas julgai segundo a reta justiça.’”

João 7, 14-24

Não sabemos exatamente o que Jesus ensinava. Mas seu sermão deve ter sido cheio de força e vida. Ninguém tinha nada para opor à sua autoridade, exceto os líderes religiosos. Como ele ousava pregar seu sermão no templo sem nunca ter tido lições de nenhum dos mestres de teologia? Primeiro, o fato de os ensinamentos de Jesus serem de Deus. “Jesus lhes respondeu, e disse: O que ensino não vem de mim, mas daquele que me enviou”. Este foi o ensinamento de Jesus acima de toda a sabedoria humana. As palavras de Jesus estavam acima das críticas. Como seu ensino era de origem divina, suas palavras eram absoluta verdade, intocável e eterna. “Se alguém quiser fazer a vontade dele, pelo mesmo ensinamento conhecerá se ele é de Deus, ou se eu falo de mim mesmo”. Ou seja, todos aqueles que desejam sinceramente fazer a vontade de Deus, terão a capacidade de saber se os ensinamentos de Jesus eram realmente de Deus, o reconhecimento de sua verdade depende da sinceridade do coração humano. Reconhecer a verdade em Cristo não tem nada a ver com educação religiosa ou posições políticas. Isso só tem a ver com a natureza do nosso coração. Se temos um desejo sincero de fazer a vontade de Deus, temos as condições ideais para conhecer a verdade em Cristo. A verdade de Jesus pode, portanto, ser testada e experimentada em nossos corações, não digo em nosso cérebro, mas num pensar do coração. “Quem fala de si mesmo busca a sua própria glória; mas o que busca a glória daquele que o enviou, esse é verdadeiro, e não há nele injustiça”. Aqui estava outra indicação da autenticidade de Jesus. Ele nunca buscou sua própria glória, mas sempre a glória de Deus. Ele nunca buscou reconhecimento humano. Vemos seu completo desapego quando ele orou na cruz: “Pai, perdoai-lhes porque eles não sabem o que fazem.” Ele era a única pessoa que, com tudo o que tinha e o que era, estava completamente desinteressadamente comprometido com a glória de Deus. Isso o tornou absolutamente credível e autêntico. Eis o sumo critério para nossa busca da verdade e da justiça, sobretudo em tempos em que somos bombardeados por opiniões diversas, semiverdades e “fake-news”. Qual é o antídoto para uma concertada lavagem cerebral à qual querem submeter-nos os “poderosos de plantão?”: Ouvir a voz de Deus no próprio coração.

Carlos Maranhão

Reflexão sobre o Evangelho de João, 7 de maio

“Depois disso, Jesus percorria a Galileia; não queria andar pela Judeia, porque os judeus procuravam matá-lo. Estava próxima a festa dos judeus: A Festa das Tendas. Os irmãos de Jesus disseram-lhe:‘Sai daqui e vai para a Judeia, para que também os teus discípulos vejam as obras que fazes. Ninguém faz algo em segredo quando procura ser publicamente conhecido. Já que fazes essas coisas, manifesta-te ao mundo’. Pois nem os seus irmãos acreditavam nele.
Jesus, então, disse a eles: ‘Ainda não chegou o tempo certo para mim. Para vós, ao contrário, é sempre o tempo certo. A vós, o mundo não pode odiar, mas a mim odeia, porque eu dou testemunho dele, mostrando que suas obras são más. Vós podeis subir para a festa. Eu não subo para esta festa, porque meu tempo ainda não se cumpriu’. Dito isso, permaneceu na Galileia. Depois que seus irmãos subiram para a festa, Jesus subiu também, não publicamente, mas em segredo. Os judeus, no entanto, o procuravam na festa e perguntavam: ‘Onde está ele?’ Muito se murmurava a seu respeito no meio do povo. Uns diziam: ‘Ele é bom!’, outros: ‘Não, ele engana a multidão!’ Ninguém, entretanto, falava dele publicamente, por medo dos judeus.”

João 7, 1-13

Como um mosaico espiritual se nos apresenta o evangelho de João. Cada peça, colocada com precisão no lugar que só a ela pertence, forma uma magnífica composição de cores e formas. Nada está ali por acaso. Observar e compreender este mosaico espiritual, requer algumas vezes, olhar para o todo da obra, outras para os detalhes. Abrindo o capítulo, temos: “Estava próxima a festa dos judeus: A Festa das Tendas”. O que nos diz essa peça do mosaico?

סוכות. Sukkōt. Festa das Tendas. Tabernáculo
Em seus primórdios era um festejo realizado no início do outono para agradecer a Deus a colheita do ano e pedir o envio das águas para o próximo cultivo. Durante o período da colheita, as cabanas eram erguidas nos campos. Elas protegiam do sol do meio dia, serviam para festejos e também para o pernoite.
Com a fuga do Egito e os quarenta anos de peregrinação no deserto, a Festa das Tendas é acrescida de significado. Recordar e vivenciar a época onde o povo judeu viveu como nômade em tendas simples e recebia alimento e água enviados por Deus. Eram (e são) erguidas tendas ao ar livre constituídas de palha ou folhagem, que possibilitavam ver o céu. Por sete dias o povo vivia nas cabanas construídas. Pela manhã fluía uma imensa multidão para a piscina de Siloé. Sacerdotes enchiam um grande jarro de ouro com as águas da piscina e seguiam em procissão atravessando o vale do Quidrom até o átrio do templo, onde se reuniam na grande esplanada. Lá chegando, todos soltavam gritos de alegria e o sacerdote realizava a oblação. Para finalizar, ele despejava a água da piscina de Siloé em uma vasilha com furos. A água saltava dos diversos furos e molhava o local próximo. Depois, ele vertia vinho em uma vasilha de prata e assim como deixava, de certa forma, a fonte de água borbulhar para o oeste; ele deixava fluir o vinho da vasilha de prata para o leste, aspergindo o povo com esta bebida do sacrifício.
Esta é uma pequena pedrinha do mosaico.
Para esse imenso festejo os irmão de Jesus queriam que ele se dirigisse. Queriam que ele se mostrasse como o Messias em sua majestosidade. Eles ainda aguardavam o dia onde ele se revelaria como o Salvador do povo judeu. Ainda não haviam percebido que a missão do Messias era (é) a salvação da humanidade.
Ele sabiamente responde: “Ainda não chegou o tempo certo para mim”, e pouco depois – “Meu tempo ainda não se cumpriu.”
Assim como os grãos de trigo precisam amadurecer em suas hastes douradas, precisam ser colhidos, malhados, moídos para serem transformados em farinha, em pão; aquele que veio a ser o Pão da vida necessitou seu período de amadurecimento. Encarnou seu Ser Solar no corpo físico de Jesus, para somente depois passar pelo martírio, morte e ressurreição. Aparecer abertamente como Ser Solar no festejo do Sukkot, seria como um Domingo de Ramos prematuro. E sabemos que o caminho de Jesus de Nazaré é o oposto almejado por muitos que não o compreendiam. Em lugar das riquezas físicas, a pobreza, em lugar do culto ao ego, o equilíbrio do eu superior, em lugar de ser um rei na Terra, um servo do Deus Pai.
Este Ser permeia a festa do Sukkot de maneira invisível.
Uma bela imagem para nós, seres humanos modernos: As cabanas construídas não tem compartimentos e são bem pequenas, ela obriga quem ali habita (por sete dias) a se aproximar física e afetivamente. As cabanas são construídas de maneira que se possa ver as estrelas. Entra chuva e vento, mas também a luz do sol. Ela é simples, sem luxo algum e perene, efêmera.
Podemos formar cabanas com nossos familiares, grupos de amigos, nossos próximos. Elas nos unem em fraternidade e calor humano. No teto translúcido, sob nossas cabeças, as estrelas, o mundo divino espiritual será evocado em orações de gratidão, pedidos de proteção e esperançar pela redenção de todos nós. Ao raiar o dia o Ser Solar, agora sim visível e perceptível, virá, e preencherá nossos corações com centelhas de amor.

Viviane Trunkle