Reflexão sobre o Evangelho de João, 21 de abril

“Nisto chegaram os discípulos e ficaram admirados ao ver Jesus conversando com uma mulher. Mas ninguém perguntou: ‘Que procuras?’, nem: ‘Por que conversas com ela?’.
A mulher deixou a sua bilha e foi à cidade, dizendo às pessoas: ‘Vinde ver um homem que me disse tudo o que eu fiz. Não será ele o Cristo?’ Saíram da cidade ao encontro de Jesus.
Enquanto isso, os discípulos insistiam com Jesus: ‘Rabi, come!’ Mas ele lhes disse: ‘Eu tenho um alimento para comer, que vós não conheceis’. Os discípulos comentavam entre si: ‘Será que alguém lhe trouxe alguma coisa para comer?’
Jesus lhes disse: ‘O meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e levar a termo a sua obra. Não dizeis vós: ‘Ainda quatro meses, e aí vem a colheita!’? Pois eu vos digo: levantai os olhos e vede os campos, como estão dourados, prontos para a colheita! Aquele que colhe já recebe o salário; ele ajunta fruto para a vida eterna. Assim, o que semeia se alegra junto com o que colhe. Pois nisto está certo o provérbio ‘Um é o que semeia e outro é o que colhe’: eu vos enviei para colher o que não é fruto do vosso cansaço; outros se cansaram e vós entrastes no que lhes custou tanto cansaço’.
Muitos samaritanos daquela cidade acreditaram em Jesus por causa da palavra da mulher que testemunhava: ‘Ele me disse tudo o que eu fiz’.
Os samaritanos foram a ele e pediram que permanecesse com eles; e ele permaneceu lá dois dias. Muitos outros ainda creram por causa da palavra dele, e até disseram à mulher: ‘Já não é por causa daquilo que contaste que cremos, pois nós mesmos ouvimos e sabemos que este é verdadeiramente o Salvador do mundo’”.
João 4, 27 a 42

“O presente capítulo contém uma preciosidade única, que encontramos tão só no Evangelho de João: o extraordinário diálogo de Jesus com a Samaritana.”
Frederico Lourenço

Nos primeiros versículos do capítulo quatro, encontramos várias referências dignas de uma leitura à parte para enriquecer o panorama no qual João insere este encontro/diálogo. Jacó: Gênesis 25, 19 a 50. E em João 4,10, ‘água viva’: Zacarias 14, 8; Jeremias 2, 13 e Ezequiel 47, 9.
Historicamente, temos um Jesus no início de sua atuação como Cristo na Terra. E imediatamente ele nos mostra à que veio e por meio de quem veio.
O diálogo com a Samaritana, ganha em majestosidade por indicar claramente a transição dos tempos. Aqui está o Filho do Homem, revelando através da alma da Samaritana: ‘Deus é espírito!’ Desde então o ser humano pode encontrá-lo em espírito e verdade. Ela reconhece o Messias e ele pronuncia pela primeira vez (exatamente no centro do quarto capítulo), o que poderíamos traduzir como: Eu sou o Eu sou.
A mulher samaritana anunciará ao seu povo a chegada do Messias. E muitos reconhecerão, por esforço próprio, o Ser que se apresenta à sua frente.
Os discípulos retornam. Agora os 12 são conduzidos através do diálogo com o Cristo a perceberem os mistérios do espírito.
Eles ‘elevam’ o olhar. Não significa que olhavam para o chão e agora erguiam a cabeça. E, sim, muito mais um indicativo do erguer o olhar para uma realidade espiritual. Qual realidade?
Com a samaritana o tema inicia na sede, água, água viva e estende um arco até a renovação dos tempos: Deus é espírito.
Com os discípulos o tema parte da fome, alimento, fazer a vontade de Deus e conduzir sua obra à meta. O arco que aqui se estende leva à elevação em espírito para a percepção da realidade espiritual.
‘Elevem seus olhos e observem os campos; eles já estão plenos de luz (tradução próxima ao texto em grego: brancos) para a colheita’.
Um campo foi semeado, as sementes germinaram, cresceram e deram frutos. Agora estão maduros para a colheita. Serão cortados. Passarão pelo processo da morte. Isto é oque veem nossos olhos físicos. Somos estimulados a olhar com nossos olhos da alma o que ocorre no espírito. A fronteira da morte encontra-se próxima à fronteira da vida. No espaço ‘entre’, pulsa o grande mistério divino: O momento da morte é o momento da vida…

“Em realidade trata-se da parte invisível do ser que se revela quando a parte visível atual decompõe-se. Se nos é revelado oque no momento é estado germinativo e invisível.”

Gérard Klockenbring

Tomamos parte no que foi semeado pelo Semeador espiritual para o ser humano. Podemos elevar nosso olhar para o espírito e nos transformarmos em trabalhadores da colheita de luz. Os processos de morte em nossa biografia, são germens de uma nova vida. A luz que colhemos do espírito, podemos semear por toda a humanidade.
O Semeador se alegra em conjunto com o trabalhador da colheita, mesmo sabendo que o campo semeado morrerá. Ambos conhecem o mistério da nova semente!

Viviane Trunkle

Reflexão sobre o Evangelho de João, 20 de abril

“Jesus soube que os fariseus ouviram dizer que ele reunia mais discípulos e batizava mais do que João – se bem que Jesus mesmo não batizasse, mas os seus discípulos. Por isso, saiu da Judeia e voltou para a Galileia. Era preciso que ele passasse pela Samaria.
Chegou, pois, a uma cidade da Samaria, chamada Sicar, perto da propriedade que Jacó tinha dado a seu filho José. Havia ali a fonte de Jacó. Jesus, cansado da viagem, sentou-se junto à fonte. Era por volta do meio-dia.
Veio uma mulher da Samaria buscar água. Jesus lhe disse: ‘Dá-me de beber!’ Os seus discípulos tinham ido à cidade comprar algo para comer.
A samaritana disse a Jesus: ‘Como é que tu, sendo judeu, pedes de beber a mim, que sou uma mulher samaritana?’ De fato, os judeus não se relacionam com os samaritanos. Jesus respondeu: ‘Se conhecesses o dom de Deus e quem é aquele que te diz: ‘Dá-me de beber’, tu lhe pedirias, e ele te daria água viva’.
A mulher disse: ‘Senhor, não tens sequer um balde, e o poço é fundo; de onde tens essa água viva? Serás maior que nosso pai Jacó, que nos deu este poço, do qual bebeu ele mesmo, como também seus filhos e seus animais?’ Jesus respondeu: ‘Todo o que beber desta água, terá sede de novo; mas quem beber da água que eu darei, nunca mais terá sede, porque a água que eu darei se tornará nele uma fonte de água jorrando para a vida eterna’. A mulher disse então a Jesus: ‘Senhor, dá-me dessa água, para que eu não tenha mais sede, nem tenha de vir aqui tirar água’.
Ele lhe disse: ‘Vai chamar teu marido e volta aqui!’ – ‘Eu não tenho marido’, respondeu a mulher. Ao que Jesus retrucou: ‘Disseste bem que não tens marido. De fato, tiveste cinco maridos, e o que tens agora não é teu marido. Nisto falaste a verdade’. A mulher lhe disse: ‘Senhor, vejo que és um profeta! Os nossos pais adoraram sobre esta montanha, mas vós dizeis que em Jerusalém está o lugar em que se deve adorar’. Jesus lhe respondeu:

‘Mulher, acredita-me: vem a hora em que nem nesta montanha, nem em Jerusalém adorareis o Pai. Vós adorais o que não conheceis. Nós adoramos o que conhecemos, pois a salvação vem dos judeus. Mas vem a hora, e é agora, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e verdade. Estes são os adoradores que o Pai procura. Deus é Espírito, e os que o adoram devem adorá-lo em espírito e verdade’.

A mulher disse-lhe: ‘Eu sei que virá o Messias (isto é, o Cristo); quando ele vier, nos fará conhecer todas as coisas’. Jesus lhe disse: ‘Sou eu, que estou falando contigo.’”

João 4, 1-26

Na magnífica e rica conversa entre a mulher samaritana e Jesus, eles chegam ao ponto de falar sobre a forma de adorar o Deus Pai. Cristo menciona os locais antigos, as montanas dos patriarcas e Jerusalém como não sendo mais os únicos lugares para fazer orações. Deus pode ser adorado em toda a Terra.
Cristo Jesus indica como podem ser feitas as orações: ‘em espírito e verdade.’ Qual caminho nos indicam essas palavras?
Nosso espírito pode nos dar clareza, presença e vivacidade. Ele pertence ao mundo divino. Como uma gota d’água que saiu do mar e voltará a ele. Assim, o espírito é como uma pequena gota do Divino em cada ser humano. É essa gota que nos permite reconhecer o Divino no mundo. Para despertar e usar essa dádiva divina, necessitamos um esforço da vontade. Precisamos ser ativos em nosso eu.
Encontramos a verdade através de duas forças da alma humana. No coração, pelo qual sentimos fortemente se algo é verdadeiro ou não. E no pensar, através do qual podemos entender e reconhecer as leis do mundo físico e do mundo espiritual. Somente as duas forças juntas nos dão a certeza de estarmos no caminho certo. Quanto mais reconhecemos a verdade, mais sentimos segurança na vida e no mundo espiritual. Para realizar isso na Terra, precisamos ativar nossa vontade na ação.
Criar um ambiente para uma oração e orar é uma ação da vontade. Também é um esforço da nossa vontade estar presentes com nosso eu na oração. Nas orações podemos procurar uma segurança no mundo espiritual através da verdade. Podemos estar cada vez mais inteiros na oração e usar as forças do nosso ser. Assim criamos um ambiente no qual o mundo espiritual e o Cristo podem revelar-se a nós.

Julian Rögge

Reflexão sobre o Evangelho de João, 18 de abril

“Depois disto foi Jesus com os seus discípulos para a terra da Judéia; e estava ali com eles, e batizava. Ora, João batizava também em Enom, junto a Salim, porque havia ali muitas águas; e vinham ali, e eram batizados. Porque ainda João não tinha sido lançado na prisão. Houve então uma questão entre os discípulos de João e os judeus acerca da purificação. E foram ter com João, e disseram-lhe: ‘Rabi, aquele que estava contigo além do Jordão, do qual tu deste testemunho, ei-lo batizando, e todos vão ter com ele.’ João respondeu, e disse: ‘O homem não pode receber coisa alguma, se não lhe for dada do céu. Vós mesmos me sois testemunhas de que disse: Eu não sou o Cristo, mas sou enviado adiante dele. Aquele que tem a esposa é o esposo; mas o amigo do esposo, que lhe assiste e o ouve, alegra-se muito com a voz do esposo. Assim, pois, já este meu gozo está cumprido. É necessário que ele cresça e que eu diminua. Aquele que vem de cima é sobre todos; aquele que vem da terra é da terra e fala da terra. Aquele que vem do céu é sobre todos. E aquilo que ele viu e ouviu isso testifica; e ninguém aceita o seu testemunho. Aquele que aceitou o seu testemunho, esse confirmou que Deus é verdadeiro. Porque aquele que Deus enviou fala as palavras de Deus; pois não lhe dá Deus o Espírito por medida. O Pai ama o Filho, e todas as coisas entregou nas suas mãos. Aquele que crê no Filho tem a vida eterna; mas aquele que não crê no Filho não verá a vida, mas a ira de Deus sobre ele permanece.’ ”

João 3, 22-36

João é conhecido como o Batista, o precursor de Jesus, o preparador de caminho. Estava ele satisfeito em seu papel? Não desejaria mais do que isso? Mas ele diz: “É necessário que ele cresça e que eu diminua”.
Ele tem consciência do seu papel e do limite de seu papel, mas também da grandeza de seu papel. Não apenas porque não faz sentido querer ser outra pessoa – isso apenas levaria à perda da vida. Não porque ele teria que suportar o fato de que não é outro. Não inveja a popularidade de Jesus. Ele poderia dizer: “Eu sou eu e Jesus é Jesus”. Não se trata de falsa modéstia, mas de reconhecimento de seu próprio valor, de seu verdadeiro papel, de sua missão de precursor. É difícil acreditar nisso? A ideia de diminuir-se perante o outro, mesmo que esse outro seja Jesus é incômoda porque o nosso ‘eu’ nos é muito caro. Mas que ‘eu’ é esse? Seria o nosso verdadeiro ‘Eu’, ou antes seria uma ideia falseada desse ‘Eu’, o que comumente chamamos de ‘ego’: uma autoimagem, uma fachada, uma máscara?
Poderíamos nos perguntar o que em nós deveria diminuir, o que em nós deveria crescer. Afinal, somos precursores do verdadeiro ‘Eu’ que deve crescer em nós. Somos precursores do ‘Cristo em mim’, do qual nos fala Paulo.
‘O homem não pode receber coisa alguma, se não lhe for dada do céu’, nos diz João. O que precisamos fazer com nossas vidas? O que temos que não tenha sido recebido dos céus? Não somos apenas o papel que desempenhamos na sociedade ou perante família, amigos, colegas. Há um ser em cada um de nós que necessita ser descoberto e que pode desempenhar um papel maior na grande história divina, se apenas pudermos aprender a reconhecer esse verdadeiro ‘Eu’. Não podemos tirar do céu nada que não nos tenha sido dado desde o princípio. Esta é a nossa alegria: crescer em Cristo para alcançar quem realmente somos e diminuir no que é apenas aparência, sombra, ilusão.

Carlos Maranhão

Reflexão sobre o Evangelho de João, 17 de abril

“Nicodemos respondeu, e disse-lhe: ‘Como pode ser isso?’ Jesus respondeu, e disse-lhe: ‘Tu és mestre de Israel, e não sabes isto?
Na verdade, na verdade te digo que nós dizemos o que sabemos, e testificamos o que vimos; e não aceitais o nosso testemunho. Se vos falei de coisas terrestres, e não crestes, como crereis, se vos falar das celestiais? Ora, ninguém subiu ao céu, senão o que desceu do céu, o Filho do homem, que está no céu. E, como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do homem seja levantado; para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.
Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele. Quem crê nele não é condenado; mas quem não crê já está condenado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus. E a condenação é esta: Que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más. Porque todo aquele que faz o mal odeia a luz, e não vem para a luz, para que as suas obras não sejam reprovadas. Mas quem pratica a verdade vem para a luz, a fim de que as suas obras sejam manifestas, porque são feitas em Deus.’”

João 3, 9-21

Na Bíblia podemos ler: “E disse Deus: ‘Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança’” (Gênesis 1,26).
Isso aconteceu no sexto dia da criação. Depois temos o relato do paraíso e da tentação de Adão e Eva pela serpente. Normalmente se olha para essa tentação como algo negativo, que nos levou ao pecado original. Mas na realidade ela é a única possibilidade de que a criação do homem, como imagem e semelhança de Deus, possa prosseguir. Pela tentação da serpente, Adão e Eva comeram da árvore do conhecimento e começaram a ter a possibilidade de desenvolver um livre arbítrio, entraram na esfera da liberdade. Deus reconhece isso e diz depois da tentação: “Então disse o Senhor Deus: ‘Eis que o homem é como um de nós, sabendo o bem e o mal’” (Gênesis 3,22). Pela ajuda da serpente, da influência luciférica, ganhamos a possibilidade do conhecimento e estamos nos tornando semelhantes ao Divino: com a possibilidade de reconhecer o bem e o mal e, em liberdade, tomar a decisão, com qual qualidade queremos nos unir. Na realidade deveríamos sentir uma profunda gratidão pela serpente, que nos ajudou nesse caminho, mesmo que a intenção dela seja nos separar do Divino.
Mas tudo isto teve uma consequência para a serpente: “Então o Senhor Deus disse à serpente: ‘Porquanto fizeste isto, maldita serás mais que toda a fera, e mais que todos os animais do campo; sobre o teu ventre andarás, e pó comerás todos os dias da tua vida’” (Gênesis 3,14). A serpente é amaldiçoada a ser presa à terra, a rastejar sobre o seu ventre. Seria uma ingenuidade muito grande pensar que esses relatos tratam de realidades da natureza, que está se falando aqui de uma cobra. Seria não apenas uma ingenuidade, mas na realidade um materialismo religioso. Esses relatos são imaginações, se referem a acontecimentos espirituais. A realidade desses relatos podemos verificar na nossa própria alma. O fato de que ‘comemos da árvore do conhecimento’ vivenciamos todos nós, pois temos, uns mais, outros menos, a possibilidade de reconhecer o que é o bem, e o que é o mal. Que a partir dessa possibilidade entramos na esfera da liberdade, vivenciamos também, pois muitas vezes não sabemos como nos decidir. E muitas vezes todas as preces para que Deus nos diga o que temos que fazer, não nos ajuda: ele nos deixa livres. Mas o que em nossa época podemos vivenciar com muita clareza é que a possibilidade do conhecimento, que ganhamos da serpente, de Lúcifer, foi amaldiçoada, se ligou a um impulso arimânico: o conhecimento do ser humano se aprisionou sempre mais à matéria, se tornou materialista. Somos nós, com o nosso pensar, que rastejamos por sobre a terra. A serpente é amaldiçoada em nossa consciência.
Devemos ter uma imensa gratidão pela serpente que nos deu a possibilidade da liberdade. Mas devemos ter também uma enorme responsabilidade de redimir a serpente, libertando-a da prisão da matéria, de ‘levantar a serpente no deserto’. A qualidade horizontal, que o nosso pensar desenvolveu com o materialismo, temos de transformar em uma qualidade vertical, dar a verticalidade humana à serpente, a possibilidade de unir céu e terra. Na espiritualização do nosso pensar erguemos a serpente, redimimos Lúcifer. Essa é a tarefa do Filho do Homem e essa é a nossa tarefa como aspirantes a nos tornarmos Filhos do Homem.

João F. Torunsky

Reflexão sobre o Evangelho de João, 16 de abril

“Havia alguém dentre os fariseus, chamado Nicodemos, um dos chefes dos judeus. À noite, ele foi se encontrar com Jesus e lhe disse: ‘Rabi, sabemos que vieste como mestre da parte de Deus, pois ninguém é capaz de fazer os sinais que tu fazes, se Deus não está com ele’.
Jesus respondeu: ‘Em verdade, em verdade, te digo: se alguém não nascer do alto, não poderá ver o Reino de Deus!’
Nicodemos perguntou: ‘Como pode alguém nascer, se já é velho? Ele poderá entrar uma segunda vez no ventre de sua mãe para nascer?’
Jesus respondeu: ‘Em verdade, em verdade, te digo: se alguém não nascer da água e do Espírito, não poderá entrar no Reino de Deus.
O que nasceu da carne é carne; o que nasceu do Espírito é espírito.
Não te admires do que eu te disse: É necessário para vós nascer do alto.
O vento sopra onde quer e ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai. Assim é também todo aquele que nasceu do Espírito’”.
João 3, 1-8

Nicodemos nos precede com a pergunta atualíssima: Como alguém pode nascer do alto se já é velho? Como encontrar o caminho que nos leva do calor amoroso do ventre da mãe cósmica à visão do Reino de Deus?
Nicodemos e Cristo, nos entregam pérolas luminosas para o caminhar na noite escura de nossas almas. De um lado as forças ‘velhas’, do outro a força da água, elemento que descreve a vida. Avançamos mais um degrau no caminho descrito por João evangelista, primeiro reconhecer o corpo físico como templo, agora direcionar a percepção para o corpo da vitalidade. Como cuidamos de nossa vitalidade? Muitas vezes é mais fácil reconhecer o que nos tira a vitalidade. Horas à frente do computador, reuniões exaustivas, trabalhos não cessáveis, pensamentos desgastantes, ambientes anímicos tóxicos…
Tentar equilibrar essas situações com momentos de ‘respiro’, pausas, movimento para o corpo, exercícios de pensamentos positivos e purificação de ambiente, podem paulatinamente despertar em nós a consciência para o corpo vital. Os cuidados dedicados ao corpo da vida, nos aproxima cada vez mais do Ser que nos dá a água da vida. Ao nos acercarmos dele, avançaremos mais um degrau de nosso caminho. Estaremos receptivos ao Espírito, ao sopro divino que insufla nossos pulmões de ar dos desígnios cósmicos e nos liberta do terreno. Liberdade na medida correta de equilíbrio entre matéria e espírito, Terra e céus.
Como o vento que vem e vai, viremos e iremos entrar no Reino de Deus.

Viviane Trunkle

Reflexão sobre o Evangelho de João, 15 de abril

“Então os judeus perguntaram a Jesus: ‘Que sinal nos mostras para agires assim?’ Jesus respondeu: ‘Destruí vós este templo e em três dias eu o reerguerei.’ Os judeus, então, disseram: ‘A construção deste templo levou quarenta e seis anos, e tu serias capaz de erguê-lo em três dias?’ Ora, ele falava isso a respeito do templo que é seu corpo.
Depois que Jesus fora reerguido dos mortos, os discípulos se recordaram de que ele tinha dito isso, e creram na Escritura e na palavra que Jesus havia falado.
Estando em Jerusalém, na festa da Páscoa, muitos creram no seu nome, vendo os sinais que realizava. Jesus, no entanto, não lhes dava crédito porque conhecia a todos e não precisava de ser informado a respeito do ser humano. Ele bem sabia o que havia dentro do homem.”
João 2, 18-25

O nosso corpo é o nosso templo, o templo nosso corpo. Como esse templo foi construído? Antes do nascimento, o corpo cresceu no ventre da mãe. Dela recebemos o necessário para o crescimento do corpo físico e do corpo vital. Do mundo espiritual, nosso ser superior, trabalhou também na formação do corpo no qual ele moraria. A influência do nosso ser superior fica mais evidente após o nascimento. Com o passar do tempo o corpo fica cada vez mais individual. A forma como nos movimentamos, o semblante, a postura do corpo – tudo mostra a individualidade de uma pessoa. O ser superior se revela também em nossos ideais e vocação.
O corpo precisa constantemente ser alimentado pelas duas esferas. Da esfera física, recebemos o alimento do dia a dia. Nós o transformamos e dele o corpo se renova constantemente. Da esfera espiritual precisamos uma alimentação através de tudo que é ligado ao mundo do espírito. Esse alimento pode se manifestar na arte, na ciência e na religião. Para viver e trabalhar na Terra precisamos um equilíbrio constante entre as duas esferas.
Nesse trecho do evangelho, o Cristo fala da reconstrução do corpo em três dias, ele fala da ressurreição. Os três dias podem ser vistos também como a ‘gravidez’ no ventre da mãe Terra. Só após três dias o corpo da ressurreição é construído. Assim torna-se visível para os seres humanos. Cristo começou esse processo bem antes da sua morte. Desde a sua chegada à Terra, ele cuidou da ligação com o mundo espiritual. Nas ações, ensinamentos e orações.
Podemos também cuidar da ligação com o mundo do espírito? Podemos espiritualizar nosso pensar, sentir e agir e olhar: Quais das nossas ações tem um valor para os outros seres humanos? Quais sentimentos nos abrem para o mundo? Quais verdades eternas podemos atingir com nosso pensar? Ao trabalharmos com essas questões, criaremos um tesouro valioso para além da nossa vida na Terra.

Julian Rögge

Reflexão sobre o Evangelho de João, 14 de abril

“Depois disto desceu a Cafarnaum, ele, e sua mãe, e seus irmãos, e seus discípulos; e ficaram ali não muitos dias. E estava próxima a páscoa dos judeus, e Jesus subiu a Jerusalém. E achou no templo os que vendiam bois, e ovelhas, e pombos, e os cambistas assentados. E tendo feito um chicote de cordas, lançou todos fora do templo, também os bois e ovelhas; e espalhou o dinheiro dos cambistas, e derrubou as mesas; e disse aos que vendiam pombos: ‘Tirai daqui estes, e não façais da casa de meu Pai casa de venda.’ E os seus discípulos lembraram-se do que está escrito: O zelo da tua casa me consome.”
João 2, 12-17

No casamento em Caná, João nos transmite o Mistério do sangue. Com a purificação do Templo trata-se do Mistério do corpo. Simbolicamente a purificação do templo significa a purificação do corpo humano. Quando o ser divino de Cristo penetra no corpo humano terrestre, todos os animais e impulsos animalescos devem ser expulsos para que ele possa ser um templo do Espírito Santo. O corpo de Cristo primeiro é purificado e depois através da morte levado à ressurreição. Corpo e templo são a mesma coisa. Esse Mistério é uma preparação para o profundo Mistério da Ressurreição, a superação da morte. O corpo é o nosso templo e sabemos o quanto ele tem sido negligenciado. Ele representa os valores que cultivamos. Porque quais são os valores reais da vida?  O que nos sustenta na vida, o que nos dá coragem em tempos difíceis, o que nos consola na doença e, não menos importante, no encontro com a morte?  Esse é o amor de Deus, o conhecimento de que ele me carrega, aconteça o que acontecer.  Os valores meramente materiais não nos ajudam nesse aspecto, o mundo é implacável e não dá consolo. Mas é diferente com Deus: se o mundo lhe diz que você não vale nada, porque você não cumpre a norma, então Deus diz que seu valor é infinitamente grande porque você é criado à sua semelhança. Se você se sente pequeno por ter sofrido uma derrota, novamente, o amor de Deus diz que seu valor não depende de suas realizações, mas do fato de que Cristo morreu por você. Com todo o dinheiro do mundo, seu valor único não pode ser superado. O corpo é o templo de nossa alma e assim como todos os templos ele deve ser limpo, leve, e emanar vibrações positivas e sagradas. Quando dizemos que a cura está em nossas mentes, significa que tudo que pensamos se materializa em nossa vida e em nosso corpo físico. A expressão do corpo, nada mais é que a linguagem simbólica de como esse milagroso instrumento está funcionando, e como ele é uma unidade, se o que pensamos são vibrações negativas e toxinas psíquicas, automaticamente nosso corpo físico dará sinais de desgastes e desequilíbrios ocasionando as doenças.
Quando adquirimos a consciência que a cura depende da nossa vontade de nos amarmos e nos perdoarmos, começamos um processo de retrocesso; onde olhamos para dentro de nossa alma e por meio desse olhar identificamos a verdadeira causa da enfermidade. Assumimos então a responsabilidade sobre o processo de cura e através de meditações profundas sobre o que podemos mudar em nossos pensamentos, o corpo entrará automaticamente no caminho inverso da doença, adequado para abrigar o espírito curador.

Carlos Maranhão

Reflexão sobre o Evangelho de João, 13 de abril

“E, ao terceiro dia, fizeram-se umas bodas em Caná da Galileia; e estava ali a mãe de Jesus. E foi também convidado Jesus e os seus discípulos para as bodas. E, faltando vinho, a mãe de Jesus lhe disse: ‘Não tem vinho.’ Disse-lhe Jesus: ‘Mulher, que tenho eu contigo? Ainda não é chegada a minha hora. ‘ Sua mãe disse aos serventes: ‘Fazei tudo quanto ele vos disser.’
E estavam ali postas seis talhas de pedra, para as purificações dos judeus, e em cada uma cabiam dois ou três almudes. Disse-lhes Jesus: Enchei de água essas talhas. E encheram-nas até em cima. E disse-lhes: ‘Tirai agora, e levai ao mestre-sala.’ E levaram.
E, logo que o mestre-sala provou a água feita vinho (não sabendo de onde viera, se bem que o sabiam os serventes que tinham tirado a água), chamou o mestre-sala ao esposo, e disse-lhe: ‘Todo o homem põe primeiro o vinho bom e, quando já têm bebido bem, então o inferior; mas tu guardaste até agora o bom vinho.’
Jesus principiou assim os seus sinais em Caná da Galileia, e manifestou a sua glória; e os seus discípulos creram nele.”
João 2, 1-11

É possível transformar água em vinho?
Obviamente, a natureza faz isso todo ano. Das profundezas da terra a videira eleva a água que está em um nível mineral e a coloca em um processo vital, preenchendo as uvas com ela. A videira assimila a força do sol e transforma a água em suco de uva, incrementando o açúcar. Em um segundo processo o suco de uva pode fermentar e se transformar em vinho. Transformar água em vinho não é algo excepcional, ainda que na natureza seja um milagre.
O excepcional é que na narração das bodas de Caná isto acontece pela atuação do Jesus Cristo. Podemos olhar isto como milagre, no sentido de algo mágico, que exige a nossa crença. Mas também podemos olhar isso como um acontecimento que, como imagem, descreve algo que tem a ver conosco, com um caminho espiritual que queremos seguir para nos unirmos com o Jesus Cristo.
A transformação da água em vinho é o primeiro passo de um processo que se completará na transformação do vinho em sangue na Santa Ceia. A transformação da água em vinho é um processo natural que acontece no reino vegetal. A transformação do vinho em sangue também é um processo que acontece continuamente, mas não na natureza, no mundo vegetal fora de nós, mas na natureza dentro de nós, no nosso próprio corpo. Continuamente nós estamos a partir da alimentação transformando aquilo que recebemos do reino vegetal em nosso corpo, em nosso sangue. Esses processos são naturais, tanto fora do nosso corpo, quanto dentro do nosso corpo. Fora do nosso corpo acontecem pela força do Sol, dentro do nosso corpo pela força do nosso próprio Eu.
Em nosso caminho espiritual temos a tarefa de, pela nossa consciência, elevar aquilo que é ‘natural’ para uma esfera na qual pode se unir com o Cristo.
Normalmente cultivamos a natureza e pensamos que, obviamente, as plantas crescem, frutificam e amadurecem. Comemos o que a natureza nos oferece e pensamos que, obviamente, somos nutridos. Transformamos o alimento em nosso corpo e em nosso sangue e pensamos que isso, obviamente, acontece. Não é óbvio: é um milagre. Acontece fora de nós pela força do Sol, acontece dentro de nós pela força do nosso próprio Eu.
E qual é essa força de transformação que o Sol tem, que o nosso Eu tem?
Não é necessário acreditar no milagre que parece ter acontecido nas Bodas de Caná. O que precisamos é prestar atenção para essa força de transformação que atua na natureza fora de nós, que atua em nosso corpo dentro de nós, e que atua também em nossa alma. Então iremos, com certeza, vivenciar milagres de transformações que continuamente acontecem em nosso dia a dia, na natureza e em nossa alma, e poderemos, talvez, sentir nesses processos a presença do Cristo.

João Torunsky

Reflexão sobre o Evangelho de João, 4 de abril

“No dia seguinte, ele decidiu partir para a Galileia e encontrou Filipe. Jesus disse a este: ‘Segue-me!’ (Filipe era de Betsaida, a cidade de André e de Pedro.) Filipe encontrou-se com Natanael e disse-lhe: ‘Encontramos Jesus, o filho de José, de Nazaré, aquele sobre quem escreveram Moisés, na Lei, bem como os Profetas.’ Natanael perguntou: ‘De Nazaré pode sair algo de bom?’ Filipe respondeu: ‘Vem e vê!’
Jesus viu Natanael que vinha ao seu encontro e declarou a respeito dele: ‘Este é um verdadeiro israelita, no qual não há falsidade!’ Natanael disse-lhe: ‘De onde me conheces?’ Jesus respondeu: ‘Antes que Filipe te chamasse, quando estavas debaixo da figueira, eu te vi.’ Natanael exclamou: ‘Rabi, tu és o Filho de Deus, tu és o Rei de Israel!’ Jesus lhe respondeu: ‘Estás crendo só porque falei que te vi debaixo da figueira? Verás coisas maiores que estas.’ E disse-lhe ainda: ‘Em verdade, em verdade, vos digo: vereis o céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do Homem!’”
João 1, 43-51

Na Gênesis, o primeiro livro das Escrituras Sagradas, encontramos no capítulo 28, 10-15 uma descrição do sonho de Jacó, iniciado e líder de seu povo.
“Em sonho, viu uma escada apoiada no chão e com a outra ponta tocando o céu. Por ela subiam e desciam os anjos de Deus”.
Este sonho foi carregado ao longo das gerações que prepararam a vinda do Messias. O que nos primórdios do povo israelita ainda era um sonho, torna-se realidade com o advento do Cristo.
Natanael como iniciado de seu povo, reconhece este momento na transição das eras: “Rabi, tu és o Filho de Deus, tu és o Rei de Israel!”
Cristo realiza a religação do ser humano com o divino não somente para seu povo, mas para toda a humanidade.
Rudolf Frieling (1901-1986) sacerdote da Comunidade de Cristãos descreve:
“No reino dos seres, o ser humano tem seu lugar ordenado entre o animal e o anjo. Como o animal, ele dispõe de um corpo material, que para além do “animalesco”, representa a coroação do mundo visível. Como o anjo ele tem uma ligação para cima com o divino”.
A pertencença a esta ordem evolutiva estava corrompida. Cristo traz aos seres humanos a possibilidade, agora, através da consciência, de retomarem seu lugar nesta ordem e realizarem sua missão na Terra. Caso contrário estaríamos deixando um buraco vazio entre o animal e o divino. Nada fica vazio, tudo é preenchido por algo…
2020. Como andamos com nossa missão? Qual responsabilidade temos para com o reino animal? Como os tratamos? De onde surge mesmo o Coronavírus? Com certeza não de um único povo, mas da humanidade como um todo.
E onde fica nossa consciência perante o divino?
Estamos muito necessitados de voltarmos nosso olhar para dentro em profundos processos de reflexão.
São nesses processos onde encontramos a escada que liga a Terra aos Céus. Ao assumirmos nossa missão entre o reino animal e os anjos, construiremos em conjunto com o Cristo a escada por onde subirão e descerão os anjos de Deus.

Viviane Trunkle

Reflexão sobre o Evangelho de João, 3 de abril

“André, irmão de Simão Pedro, era um dos dois que ouviram João e seguiram Jesus. Ele encontrou primeiro o seu irmão Simão, e lhe falou: ‘Encontramos o Messias!’ (o que traduzido quer dizer Cristo). Então, conduziu-o até Jesus, que lhe disse, olhando para ele: ‘Tu és Simão, filho de João. Tu te chamarás Cefas!’ (que quer dizer Pedra).”
João 1, 40-42

Simão foi levando por seu irmão ao Cristo e dele recebeu um nome. Ao longo de sua jornada como discípulo, Simão receberá uma tarefa ligada a este nome: “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as forças do Inferno não poderão vencê-la.” (Mateus 16, 18)
Podemos perceber que o nome está ligado com um nível superior do nosso ser. Está ligado com nosso destino e nossa tarefa na Terra. Cristo cuida do destino do mundo. Dele recebemos nossa missão para a vida na Terra.
Ao nascermos esquecemos deste fato espiritual.
No evangelho André, mostra para Simão o caminho para o encontro com o Cristo, possibilitando assim a seu irmão o receber a tarefa de sua vida enquanto discípulo. Ao longo da vida recebemos sinais sobre nosso nome e nossa missão. Eles vem de nossos familiares, amigos e pessoas que encontramos. Estamos atentos? Ouvimos o que os nossos próximos nos falam? Aceitamos conselhos de outras pessoas? Na correria do dia a dia muitas vezes não estamos abertos o suficiente.
Uma aprendizagem nesses dias de recolhimento poderia ser: estar atento aos nossos próximos, ouvir o que eles nos falam e estar aberto para conselhos. Assim nos tornamos receptivos, como Simão Pedro, para o encontro com o Cristo. Através do encontro com os outros seres humanos, podemos relembrar nossa tarefa aqui na Terra. Podemos transformar o mundo!

Julian Rögge