Reflexão sobre o Evangelho de João, 2 de abril

“No dia seguinte João estava outra vez ali, na companhia de dois dos seus discípulos; e, vendo passar a Jesus, disse: “Eis aqui o Cordeiro de Deus”. E os dois discípulos ouviram-no dizer isto, e seguiram a Jesus. E Jesus, voltando-se e vendo que eles o seguiam, disse-lhes: “Que buscais?” E eles disseram: “Rabi (que, traduzido, quer dizer Mestre), onde moras?” Ele lhes disse: “Vinde, e vede”. Foram, e viram onde morava, e ficaram com ele aquele dia; e era já quase a hora décima”.
João 1, 35-39

A primeira frase que Jesus fala no evangelho de João é: “O que você está procurando?” Ele nos desperta com essa pergunta do sono da inconsciência. Esse é o chamado para o discipulado – o chamado dos primeiros apóstolos, mas também é o chamado a cada um de nós em todos os tempos. Não precisamos continuar como antes. A vida não se resume apenas a trabalho, casamento, filhos, construção de casas e aposentadoria. O que estamos procurando? Nada causa mais sofrimento do que relacionamentos desfeitos, amizades terminadas, casamentos desfeitos. Pode-se viver em família sob o mesmo teto e ainda assim não saber nada um do outro. A lista de razões para o sofrimento é infinita, mas fica a questão: O que estamos procurando?
Os dois discípulos que correram atrás de Jesus responderam: “Onde moras?” Onde fica o seu lar? Os dois discípulos estavam procurando um lugar onde pudessem pertencer, onde pudessem ficar. Essa não é a situação da maioria de nós? Em sentido figurado, a busca por um lar também pode significar uma busca por significado, uma busca por sentido. Onde devo dedicar minha vida, onde sou de Deus com meus dons e habilidades, onde posso ser irmão, irmã, pai, mãe, filho, filha?
Jesus leva a busca a sério. Ele convida os dois discípulos: “Vinde e vede!”
Ele pede que eles saiam e sejam tirados de suas vidas antigas.
Os dois discípulos foram convidados, vieram, viram e passaram o dia com Jesus. Entraram na esfera de atividade de Jesus, tornaram-se receptivos, abriram os olhos e os ouvidos, esperavam que algo vital acontecesse. E eles ficaram. Jesus não os força a tomar uma decisão, ele apenas se oferece para que se exponham à sua influência. Uma decisão é tomada somente quando alguém chega, vê e depois percebe que encontrou a resposta. Todos nós também somos convidados. A décima hora é quatro horas da tarde, quase o fim do dia. Não precisamos deixar que o dia termine antes de aceitar o convite.

Carlos Maranhão

Reflexão sobre o Evangelho de João, 1 de abril

“No dia seguinte João viu a Jesus, que vinha para ele, e disse: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo. Este é aquele do qual eu disse: Após mim vem um homem que é antes de mim, porque foi primeiro do que eu. E eu não o conhecia; mas, para que ele fosse manifestado a Israel, vim eu, por isso, batizando com água. E João testificou, dizendo: Eu vi o Espírito descer do céu como pomba, e repousar sobre ele. E eu não o conhecia, mas o que me mandou a batizar com água, esse me disse: Sobre aquele que vires descer o Espírito, e sobre ele repousar, esse é o que batiza com o Espírito Santo. E eu vi, e tenho testificado que este é o Filho de Deus.”
João 1, 29-34

„O Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo“ são palavras do Evangelho que ganharam um significado muito grande no cristianismo, tanto que se tornaram parte da missa católica. Mas estas palavras correm risco de serem mal-entendidas. Normalmente se pronuncia essas palavras com o desejo de que o Cristo tire nossos pecados, o pedido de receber a absolvição, para que nós fiquemos livres do pecado. Assim é em geral entendido, apesar das palavras do Evangelho dizerem claramente que o Cristo, o Cordeiro de Deus, tira o pecado do mundo, não de nós.

Para ter uma possibilidade de compreender o profundo significado dessas palavras, podemos ter a ajuda da Antroposofia. Rudolf Steiner reconheceu a atuação dupla dos erros que cometemos, se usamos o termo religioso, do pecado. Tudo o que fazemos tem um lado objetivo e um lado subjetivo.
O lado objetivo é o significado para o mundo: pelas nossas ações mudamos o mundo. Na atualidade temos uma consciência mais aguçada para este fato em relação ao meio ambiente. Mas também em um âmbito moral, o mundo é impregnado pelo que fazemos. Se jogamos uma pedra contra uma janela e o vidro se quebra, fica óbvio que mudamos o mundo. Mas, por exemplo, uma mentira também se impregna no mundo e o transforma. A mudança do mundo pelas nossas ações é o lado objetivo do pecado.
O lado subjetivo é a responsabilidade que temos por tudo o que fazemos. Enquanto crianças, não temos a possibilidade de assumir a responsabilidade por tudo o que fazemos. É a tarefa dos pais assumir a responsabilidade pelos erros dos filhos. Mas isto não pode ser assim uma vida inteira. Passo a passo, a criança deve aprender a assumir a responsabilidade por aquilo que faz. Um jovem tem de ter muito mais responsabilidade do que uma criança, e um adulto que não assume responsabilidade pelos seus atos não atingiu a maturidade.
Para nos conscientizarmos dos nossos erros, dos nossos pecados, é necessário distinguir entre o lado subjetivo e o lado objetivo.

Temos que assumir a responsabilidade por nossos atos, se queremos ser individualidades livres. E aquilo que não é possível assumir em uma vida, esperamos poder assumir numa próxima. Para isto nos acompanha a sabedoria dos guias espirituais, nos ajudando a formar o nosso carma.

Não nos é possível assumir a responsabilidade pelo ferimento que provocamos no mundo por meio dos nossos atos, notadamente em relação às consequências morais das nossas imperfeições. Para este lado objetivo das consequências do pecado, e só para este lado, precisamos da ajuda divina e podemos pedir ajuda ao Cristo, como „Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo“.

João F. Torunsky

Reflexão sobre o Evangelho de João, 31 de março

“E havia enviados dos fariseus. E perguntaram-lhe: “Por que batizas, se tu não és o Cristo, nem Elias, nem o profeta?” João respondeu-lhes, dizendo: “Eu batizo na água, mas no meio de vós está quem vós não conheceis: Aquele que vem depois de mim, a quem eu não sou digno de desatar a correia das sandálias.” Essas coisas aconteceram em Betânia, na margem além do Jordão, onde João batizava.”
João 1, 24 a 28

A atuação de João Batista se nos faz presente nos dias atuais. “Mudem o vosso sentido”, ele pregava. O significado destas palavras: Deem uma volta completa nos sentidos, transicionem.
João realizava o batismo que consistia em mergulhar o adulto na água até próximo do afogamento. Neste momento, a pessoa vislumbrava as misérias da própria alma. Por isso era também chamado: “Batismo da transubstanciação do espírito”
João conduzia os seres humanos à fronteira do reconhecimento da necessidade de mudar os sentidos, a vida da alma. E à vivência da esfera dos planos superiores.
E é de um dos maiores iniciados na evolução da humanidade que ouvimos: “Eu não sou digno de desatar a correia das sandálias”. João reconhece e sente a magnitude do Ser do Cristo.
Como caminhamos enquanto humanidade até agora? Muito temos ouvido nas últimas semanas, verbos recorrentes são: destruímos, negligenciamos, abandonamos, matamos. Ouvimos frases de impacto: “O capitalismo não pode parar, morra quem morrer”. E aos poucos começou a surgir o pensamento de que talvez a situação mundial possa ser transformada em oportunidade para cada um de nós voltar para casa. Para qual casa? Todas elas. As que abandonamos em busca desenfreada pelo mundo afora. Talvez, mais do que nunca seja o momento para darmos uma volta nos sentidos e olharmos as mazelas da alma. Claramente, objetivamente. Despertar o olhar para nós mesmos com olhos renovados. Reconhecer nossa indignidade perante os mundos espirituais. E assumir a parte que nos diz respeito, nossa missão: Receber em nossa pequenez Aquele que vem depois. Permitir que Ele ilumine todos os cômodos de nossa morada interior, até irradiarmos sua luz e criarmos uma humanidade digna em pronunciar: Cristo em nós.

Viviane Trunkle

Reflexão sobre o Evangelho de João, 30 de março

“Este é o testemunho de João, quando os judeus enviaram, de Jerusalém, sacerdotes e levitas para lhe perguntar: “Quem és tu?” Ele confessou e não negou; ele confessou: “Eu não sou o Cristo.”  Perguntaram: “Quem és, então? Tu és Elias?” Respondeu: “Não sou”. – “Tu és o profeta?” – “Não”, respondeu ele. Perguntaram-lhe: “Quem és, afinal? Precisamos dar uma resposta àqueles que nos enviaram. Que dizes de ti mesmo?” Ele declarou:
“Eu sou a voz de quem clama no deserto: ‘Endireitai o caminho para o Senhor!’”, conforme disse o profeta Isaías.
João 1, 19-23

Quem és tu?
Ao olharmos para essa pergunta podemos pensar, num primeiro momento, que é fácil responder. Temos um nome, uma nacionalidade, temos uma orientação de gênero, temos uma profissão e assim por diante. A resposta parece meio óbvia. Mas, se aprofundarmos esse pensamento, chegarão as primeiras dúvidas. É isso o que me define? Sou determinado por aspectos externos? Nesse momento podemos sentir que é mais fácil dizer quem não somos. Na esfera do nosso eu, ligado com o nosso ser espiritual, com o nosso ser eterno, não somos definidos pela nacionalidade, por um gênero, ou pela nossa profissão.

Quem és tu?
A resposta só podemos encontrar em nosso íntimo, na solidão da nossa alma. É desse âmbito que vem a confissão de João: “Eu sou a voz de quem clama no deserto: ‘Endireitai o caminho para o Senhor!’” O ‘eu sou’ do João nos mostra a direção na qual podemos procurar a resposta. Esse ‘eu sou’ do João não vem da consciência do dia a dia, mas da parte do eu que está ligada ao nosso ser espiritual.
Qual é a nossa missão aqui na Terra? Com qual tarefa decidimos vir para cá? A resposta podemos achar na solidão de nosso íntimo. Momentos de silêncio, de recolhimento e de tranquilidade podem nos ajudar nessa busca. Nesses momentos podemos procurar e sentir no nosso íntimo a presença do Cristo que está ligado ao nosso destino, à nossa tarefa na Terra.

Quem és tu?
No caminho da solidão interior podemos cada vez mais chegar a uma resposta e clamar: “Eu sou…!” E assumir a nossa missão aqui na Terra.

Julian Rögge

Reflexão para o domingo, 29 de março de 2020

Referente ao pericópio: João 8, 1-11

Muitas vezes julgamos as pessoas sem perceber. Independentemente do motivo, não temos o direito de julgar ninguém. A maioria das pessoas não percebe seus próprios erros, mas se esforça para descobrir e apontar os erros de outras pessoas.
Quando nós erramos, sempre encontramos uma justificativa para essa falha, isso acontece desde Adão. Porém, nenhum de nós está em condições de atirar pedras no outro. Jesus não nos condena, mas diz “vá e não peques mais”, que pode ser traduzido como: “vá e toma consciência de seus atos e aja conforme tal consciência”.
Podemos pensar no pecado como o destino do ser humano, imposto pela condição de estar na Terra, separado do mundo espiritual, algo tecido em nossa condição existencial. Mas não de forma inexorável e definitiva. O encontro com o Cristo nos permite, como permitiu à mulher adúltera, despertar para algo que não é condenação e nem julgamento, mas oportunidade de despertar e interiorização com aquele que traz o antídoto do pecado. Nós nunca poderíamos nos tornar seres livres se não tivéssemos sido empurrados para baixo; mas esse não é o fim da história. Agora, tomados pela força do Cristo, é possível ascender ao reino dos ideais morais. Existe apenas uma maneira pela qual isso pode ser alcançado: ser capaz de atrair para si aquele que é mais real do que as forças de atração do pecado. Alguém que fala no sentido contrário a São Paulo pode dizer: “Não eu, mas meu corpo de pecado” – mas São Paulo diz: “Não eu, mas o Cristo em mim”.

Carlos Maranhão

Reflexão sobre o Evangelho de João 28/3

“Porque todos nós recebemos também da sua plenitude, e graça por graça. Porque a lei foi dada por Moisés; a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo. Ninguém jamais viu a Deus. O Filho unigênito, que está no seio do Pai, esse o revelou.”
João 1, 16-18

Na civilização atual rege o princípio econômico da escassez e o princípio psicológico da insuficiência. Por um lado os recursos limitados determinam a necessidade de uma luta de buscar, pelo interesse próprio e egoísta, os meios para a sobrevivência ou o sucesso ou o dinheiro como parâmetros para a felicidade. Por outro lado, por nunca alcançarmos satisfação suficiente nessa busca, gera-se o sentimento de incapacidade, fracasso e imperfeição. Porém o princípio da graça divina, ao contrário, é o reconhecimento que, como filhos de Deus, a vida nos é dada em plenitude. O princípio da graça é o de abundância, não de escassez, e é de plena capacidade e não de insuficiência. Na tradição pré-cristã havia um preço para estar sujeito à graça – o preço da lei mosaica. Portanto, a graça seria condicional à obediência aos mandamentos. O Cristo, pelo meio do qual recebemos a graça divina, renova a concepção de que a graça corresponde ao amor incondicional de Deus pelos seres criados. O acesso à graça não é regido pela lei mas pela liberdade. Somos seres livres, na medida em que reconhecemos nosso valor como filhos amados por Deus e tomamos nas mãos o poder assumindo a responsabilidade consciente de nossas vidas. A humanidade antes, por ainda não ter um Eu suficientemente desenvolvido, ainda não tinha acesso direto a Deus em liberdade, necessitando ser guiada por aqueles que incorporavam uma espécie de Eu coletivo. Podemos dizer, não viam a Deus. Por meio do Cristo, Deus é revelado àqueles que, também por meio dele, amadurecem seus Eus a ponto de reconhecer em si mesmos a plenitude da qual, na verdade, sempre foram dotados, mas da qual ainda não tinham consciência.

Carlos Maranhão

Reflexão sobre o Evangelho de João 27/3

“E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade; e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai. João deu testemunho dele, e clamou, dizendo: Este é aquele de quem eu disse:
O que vem depois de mim, passou adiante de mim; porque antes de mim ele já existia.”
João 1, 14-15

O que diferencia o Cristianismo de todas as outras religiões, não é tanto o seu conteúdo religioso; é o fato único de que, em Jesus Cristo, um ser divino se encarnou como homem na Terra. Este fato mudou toda a vida espiritual da humanidade. Haviam antes, nas correntes religiosas, a tendência de almejar um caminho espiritual para se libertar da Terra, esperando encontrar a salvação em um mundo meramente espiritual. O fato da encarnação do Cristo trouxe para a humanidade a possibilidade de olhar para a experiência na biografia terrena, como o caminho de aprender, desenvolver a individualidade, espiritualizar o ser humano e a Terra. Com certeza, a atitude espiritual da humanidade anterior ao Cristianismo, de ver a salvação na libertação do ser humano da prisão terrestre, continuou permeando o Cristianismo até a nossa época. Por isso, também dentro do Cristianismo encontramos tendências de ver a salvação em um reino celeste em oposição à existência terrestre. Mas esse não é o verdadeiro impulso do Cristo.
O Cristo se encarnou no Jesus, “o Verbo se fez carne, e habitou entre nós”, para dar um sentido à existência terrena. E o sentido da existência terrena é que podemos aprender: Nós somos os únicos seres encarnados que, a partir das nossas experiências na Terra, podemos aprender e nos desenvolvermos a nós mesmos. E o maior aprendizado que podemos ter surge a partir de um impulso livre e individual de aprender a amar.
De uma forma simples e muito profunda, a essência do Impulso do Cristo é expressa no Ato Dominical para as Crianças:

“Aprendemos para compreender o mundo.
Aprendemos para trabalhar no mundo.
O amor dos homens uns aos outros dá vida a todo trabalho humano.
Sem o amor, a existência humana torna-se desolada e vazia.
Cristo é o mestre do amor humano”

João F. Torunsky

Reflexão sobre o Evangelho de João 26/3

“Porém, os que a receberam, puderam através dela, revelar-se filhos de Deus. Os que confiaram em seu nome, não são do sangue, nem da vontade da carne e nem da vontade humana, porém tornaram-se por Deus. ”
João 1, 12-13

Desenvolver a confiança no impalpável tornou-se tarefa árdua para a humanidade moderna. Ainda estamos presos à nossa corrente consanguínea, aos nossos instintos e vontades. Muitas vezes são essas amarras que nos definem como ser humano.
Romper o que me define e me permitir estar no espaço entre o certo e o incerto, entre o definido e o indefinido, entre o passado e o futuro não é tarefa fácil, mas imprescindível para a nossa era.
No espaço entre reside a pulsante vida que nos desperta. Despertos recebemos a Luz, o Verbo, a Palavra, Ele.
Abrem-se as cortinas da alma, a verdade primordial é revelada: Somos filhos do Mundo do Espírito, através dele “nos tornamos”.

Viviane Trunkle

Reflexão sobre o Evangelho de João 25/3

„Esta era a luz verdadeira, que vindo ao mundo a todos ilumina. Ela estava no mundo, e o mundo foi feito por meio dela, mas o mundo não a reconheceu. Ela veio para o que era seu, mas os seus não a acolheram.“
João 1, 9-11

Durante o dia a luz do sol ilumina e a tudo penetra. Ela é visível em tudo que encontra em seu caminho: as nuvens, as pedras, as plantas, os animais e os seres humanos. Eles a refletem e a tornam visível. Em dias escuros, chuvosos e com muitas nuvens percebemos que não seria possível viver por muito tempo sem a luz do sol.
Da mesma forma a Luz Divina, a Luz que veio do princípio, do começo de tudo, penetra em todas as coisas e seres. Mas ao contrário da luz do sol ela não é tão visível, tão presente para os nossos olhos físicos. Temos conciência da Luz Divina no mundo e em nós? Percebemos que sem ela também não poderíamos viver?
Para o ser humano moderno, o mundo físico é muito presente. No dia a dia, no trabalho e em nossa vida, atuamos e transformamos este mundo. E este atuar no mundo é muito importante. Porém, o estarmos voltados para o mundo físico com a velocidade da vida moderna, nos leva facilmente a esquecer o outro lado do mundo. O mundo da Luz Divina que vive e brilha em todos nós.
Como a luz do sol, a Luz Divina pode se tornar visível por meio de nós. Ela pode começar a brilhar em cada gesto carinhoso, na ajuda ao próximo e em todos os momentos de silêncio nos quais olhamos para a nossa alma. Passo a passo podemos começar a acolher a Luz Divina e irradiá-la no mundo.

Julian Rögge

Reflexão sobre o Evangelho de João 24/3

“Houve um homem enviado de Deus, cujo nome era João. Este veio como testemunho, para que testificasse a respeito da luz, para que todos cressem por intermédio dele. Ele não era a luz, mas veio para dar testemunho da luz”.
João 1, 6-8

Qual é o propósito da existência? Por que fomos criados por Deus à sua imagem e semelhança? Muitas vezes ficamos perplexos com essas questões, que não são meras especulações filosóficas, mas, principalmente em situações de crise, quando duvidamos de nossos propósitos, e perdemos uma visão de sentido na existência, ou olhamos para o mundo com perplexidade e medo, por não reconhecer tal propósito. Queremos uma resposta que nos ilumine e restitua o sentido, pois aí sentimos, no fundo de nosso ser, que não viemos meramente para subsistir e procriar. Mas se não por isso, então por que? Se Ele houvesse nos criado para sermos meros sobreviventes – a vida para nós perderia todo sentido, mas se foi para manifestar sua bondade e sabedoria em todos seres criados, então o nosso propósito com o tempo seria reconhecer isso. É desse modo que podemos ser testemunhas da divina bondade e sabedoria de Deus, por meio de seu filho, como o foi o precursor João Batista. Como precursores estamos no processo de nos tornarmos o “Eu-sou”, seres auto-conscientes, livres e amorosos. Aquele que já o é plenamente é a luz do mundo que podemos testemunhar. Como dizia Tomás de Aquino: “Ele é a luz essencialmente, nós o somos por participação”. A sua luz ilumina todas as coisas para que, assim, possamos vê-las como elas são. E vendo-as, podemos crer. Por meio do testemunho, podemos crer, não por cega obediência a outro que fala como autoridade. Em grego a palavra para testemunho é Martyria, a mesma raiz da palavra mártir. Os mártires foram testemunhas fiéis, que ofereceram a vida inteira por amor a Cristo e morreram fiéis a sua causa. Portanto somos testemunhas potencialmente, na medida em que podemos reconhecer o Cristo, mas a realização de nosso ser só pode se dar quando nos entregamos totalmente e permitimos que Ele atue em nós para que possamos nos tornar plenos.

Carlos Maranhão