Aquela semana havia sido muito agitada para todos que estavam na cidade de Jerusalém. Tikeva também teve uma semana agitada. Algumas vezes tentou ir ao templo para ver Jesus, que sempre estava lá com seus discípulos. Em alguns momentos foi possível, em outros não. Em certos momentos havia tanta gente a volta dele, havia tanta conversa e discussão que a jovem mal conseguia chegar perto. Ela, porém, carregava no coração a pergunta: “Será Jesus o messias?” Algumas vezes ela conseguiu vê-lo de perto no templo, olhou com muita atenção, mas não percebeu aquela forte e brilhante luz que havia visto no domingo anterior. Ele permanecia aquele homem simples, com roupas simples, falando às pessoas, ensinando, conversando e respondendo às perguntas que lhe faziam. Assim a semana prosseguiu. Havia chegado então o sábado, era o dia da solene festa; além disso o sábado também representava o dia de descanso: todos deveriam permanecer em suas casas, celebrando a festa, serenos e tranquilos. Tikeva permaneceu em sua casa com seus pais. Ela foi dormir cedo. Naquela noite teve um sonho muito estranho. Sonhou que estava caminhando fora dos muros da cidade de Jerusalém e chegou até uma pequena colina. Nesta colina havia uma caverna e a entrada da caverna estava fechada com uma enorme pedra. Tikeva olhava para aquela pedra e pensava: “O que será que há lá dentro?”. Viu então que dois anjos luminosos vinham descendo do céu, suas asas brilhavam na escuridão. Os dois anjos se aproximaram da grande pedra e começaram a movê-la. Ela era muito pesada, mas, mesmo assim, os anjos conseguiam fazê-la rolar e aos poucos a caverna foi se abrindo. Para a surpresa de Tikeva, ainda que a noite estivesse bem escura, de dentro da caverna começou a sair uma luz. A medida em que a grande pedra se movia, surgia da fresta da entrada da cova uma luz forte e intensa. Quanto mais os anjos rolavam a pedra, maior ficava a abertura e mais intensa ficava aquela luz. Tikeva tinha a impressão de que o sol estava brilhando ali dentro. Do lado de fora ainda era noite escura. Os anjos rolavam e empurravam a pedra e a entrada foi se abrindo. Em Tikeva surgiu uma grande expectativa. “Agora verei o que há lá dentro! Será que o próprio sol está brilhando no interior da caverna?” Os anjos, por fim, conseguiram empurrar a grande pedra, que rolou e caiu ao lado. Quando ela caiu fez um estrondo muito alto e Tikeva sentiu a terra tremer, tremeu tão forte que a jovem acordou, assustada. Neste instante percebeu que aquele tremor não havia sido um sonho. Sua cama havia tremido, sua casa havia tremido, toda a Terra havia tremido.
Ela se levantou, assustada e viu que seus pais também estavam de pé. Eles lhe disseram que haviam se levantado porque perceberam o tremor que abalou os fundamentos da casa, talvez até o muro da cidade tivesse sido abalado por aquele grande e forte tremor. Tikeva lhes contou seu sonho. Os pais ficaram confusos com o que ouviram, mas a jovem explicou: “Foi a pedra que eu vi no meu sonho, ela foi empurrada e caiu no chão. Eu tenho que ir até lá!” Rapidamente trocou de roupa, e sem que os pais pudessem impedi-la, saiu de casa e começou a caminhar pelas ruas escuras da cidade. Era noite ainda, faltava pouco tempo para o sol nascer, em breve as luzes do novo dia começariam a surgir. Naquele momento, porém, Tikeva estava preocupada com outra coisa: “Como farei para sair da cidade?” Pois a cidade era rodeada pela grande muralha. Havia vários portões em diferentes lugares, mas todos eles ficavam fechados durante a noite. Um deles abria primeiro que os outros, mas Tikeva não sabia qual era. Começou a procurar pelas ruas, andando de um lado para o outro… Aos poucos o céu começou a clarear. Eram os primeiros instantes da aurora. De tanto caminhar chegou ao lugar do muro onde havia um portão aberto. A jovem saiu por ele. Do lado de fora da cidade não estava tão escuro, havia mais claridade, pois faltava bem pouco para o nascer do sol. Tikeva viu a sua frente uma colina e viu também uma cova, semelhante ao seu sonho. Havia apenas uma coisa diferente: uma mulher estava sentada em cima da grande pedra, que tinha rolada para o lado, deixando aberta a entrada da cova. A mulher estava triste e chorava. Tikeva se aproximou e perguntou: “Está tudo bem com você? O que aconteceu? Por que está chorando?” A mulher respondeu: “Ah! Nesta cova foi colocado o corpo do meu mestre, Jesus, ele foi preso e, de tanto sofrimento, morreu. Nós o colocamos aqui dentro. Eu vim bem cedo, para limpar e perfumar o seu corpo como mandam os ritos de nossa religião. Cheguei aqui e vi que a pedra havia sido rolada e a cova estava vazia. O que aconteceu com ele? Como é possível que alguém tivesse vindo aqui no meio da noite e retirado o corpo do nosso mestre?” Tikeva não entendeu: “Como era possível, que Jesus havia morrido?” Seu pai não havia contado para ela, que Jesus havia sido preso, maltratado e morrido naqueles dias, como a mulher havia dito. A jovem ficou tão triste com aquela notícia que se afastou um pouco e ficou observando e pensando: “O que eu sonhei era bem diferente: O sol brilhava dentro da cova… e agora ouço esta triste notícia!” Enquanto permanecia ali, Tikeva olhava o nascer do sol que preenchia com sua luz o céu e toda a Terra. Tikeva percebeu que próximo daquela colina havia um pequeno jardim. Caminhando pelo jardim, veio um homem simples que se aproximou da entrada da cova e começou a conversar com a mulher. Tikeva pensou que ele fosse o jardineiro. Ficou observando à distância. Ela não conseguia ouvir a conversa, mas viu que a mulher parou de chorar, ficou alegre e, de repente, saiu correndo de volta à cidade. Tikeva se aproximou do homem, talvez ele soubesse aonde haviam levado o corpo de Jesus. Ao se aproximar viu que o sol brilhava por trás da figura daquele homem e ela lembrou do outro domingo em que viu Jesus caminhando pelo deserto, montado no burrinho, com o sol brilhando por trás dele e com as vestes resplandecentes. Tikeva percebeu que as vestes daquele que parecia ser o jardineiro também brilhavam à luz do sol. Algo, porém, era diferente: a luz do sol refletia nas suas roupas e irradiava em muitas cores. As vestes daquele homem resplandeciam em todas as cores do arco-íris, intensas e brilhantes. Neste instante Tikeva teve certeza: “Você é Jesus! Eu vi você chegar na cidade no outro domingo, brilhando como o sol e agora eu vejo você novamente, brilhando em todas as cores! Disseram-me que você havia morrido, mas vejo está vivo!” Jesus olhou para ela e disse: “Tikeva, o que te disseram é verdade, eu estava morto, mas estou vivo. Eu ressuscitei, voltei à vida.” Tikeva se admirou e lhe perguntou: “Como você sabe o meu nome? Como você me reconheceu?” Jesus lhe disse: “Eu te reconheci porque você me reconheceu primeiro. Agora vai e conta a todas as pessoas que eu ressuscitei, que eu estou vivo e que eu estarei sempre presente para todos aqueles que aprendam a me reconhecer.”
Tikeva então entrou na cidade e foi para casa de seus pais. Contou para eles o que havia acontecido e contou para muitas, muitas pessoas… A vida inteira ela contou essa história. Por este motivo essa história chegou até nós e a continuamos contando para todos que queiram ouvir.
Renato Gomes