O significado espiritual das virtudes cristãs – Resumo da segunda palestra
Vimos na última palestra que os nossos corpos são portadores das virtudes cristãs. O corpo astral, anímico, é o portador das forças da fé; o corpo etérico, vital, é o portador das forças do amor; e o corpo físico é o portador das forças da esperança. Agora queremos olhar para três passos que fazemos quando nos encarnamos, nascemos aqui na Terra. Abordaremos alguns pontos de vista dados por Rudolf Steiner para a Pedagogia Waldorf. Vale a pena ressaltar que toda a educação é sempre uma autoeducação, do nascimento até a morte. Assim, os pontos de vista da pedagogia nos ajudarão mais tarde a ver o que necessitamos como adultos nesse caminho de autoeducação.
O início da nossa biografia se dá no momento em que nascemos. Nos desenvolvemos então em três etapas, cada uma de sete anos, durante a infância e a juventude. Fala-se assim dos três setênios, até os 7 anos, até os 14 anos e até os 21 anos de idade. O final do primeiro setênio é caracterizado pela troca dos dentes, o do segundo pela maturidade sexual e o terceiro pelo início da idade adulta. Um ponto de vista que pode muito nos ajudar a entender o desenvolvimento é olhar para essas três etapas como três nascimentos. Que nascemos no início da nossa biografia, isso nos é evidente. Mas o que realmente nasce nesse momento é apenas o nosso corpo físico. E, como já falamos anteriormente, podemos falar de outros dois corpos. Assim, também o corpo etérico e o corpo astral passam por um processo de nascimento. Aos 7 anos de idade podemos falar do nascimento do corpo etérico e aos 14 anos do nascimento do corpo astral. Falar de nascimentos tem a sua justificativa pois nos referimos a corpos. Corpo é como chamamos aquilo que se separa do contexto amplo com o qual estava ligado, adquire a possibilidade de receber uma vida própria e então, separado do todo, pode se desenvolver de maneira independente. Assim, nosso corpo físico se forma no íntimo do organismo materno, recebe uma vida, e quando se separa da mãe para ter um desenvolvimento independente, falamos do nascimento do corpo físico. Do mesmo modo, mesmo que não seja tão evidente, acontece uma emancipação do corpo etérico aos 7 anos e do corpo astral aos 14 anos, e por isso podemos falar do nascimento desses corpos nestas idades.
O corpo físico, como portador das forças da esperança, nasce no início da nossa vida; o corpo etérico, como portador das forças do amor, nasce aos 7 anos; o corpo astral, anímico, como portador das forças da fé nasce aos 14 anos. Assim poderíamos logo pensar que o primeiro setênio tem a ver com a esperança, o segundo com o amor e o terceiro com a fé. Este seria o caminho de um raciocínio esquemático. Mas de um ponto de vista pedagógico o que a criança mais necessita desenvolver, como uma atitude anímica, traz um outro aspecto.
No primeiro setênio a mais importante atitude anímica que deveria ser desenvolvida é a gratidão. A criança pequena se orienta no seu desenvolvimento pela imitação. Ela nos imita nos gestos anímicos que reconhece em nós. Assim, para que a criança possa desenvolver a gratidão, nós temos que ter verdadeiramente gratidão. Não se trata apenas de ensinar à criança que ela deve agradecer verbalmente, a expressar gratidão. Se trata de nós mesmos, enquanto adultos, sentirmos verdadeira gratidão e sermos os exemplos que as crianças possam imitar. A gratidão que vai crescendo na alma da criança passa por uma metamorfose, se transforma em admiração, em veneração, se torna uma religiosidade. Não se trata de sentimentos, mas de uma atitude que se expressa no próprio corpo da criança e que atinge o seu auge em um amor para tudo, pelo divino no mundo. A criança desenvolve, a partir da gratidão, um relacionamento de confiança, de fé. Nem sempre isto acontece, mas seria o desenvolvimento saudável da criança. O corpo físico, portador das forças da esperança, nasce e se desenvolve nos primeiros sete anos. Animicamente, a criança desenvolve a gratidão que se transforma em confiança e fé. Aqui notamos que a pedagogia tem uma tarefa ainda não tão reconhecida: ela tem a tarefa de sanar. Pelo senso comum entendemos que a tarefa do médico é sanar, e a do professor, ensinar. De um ponto de vista espiritual, o médico deveria ajudar a criança para que ela possa aprender e o professor a atuar para que ela tenha saúde. Podemos pensar que, no caminho da encarnação, a ligação da alma com o corpo físico é essencial, mas pode se tornar excessiva, como que indo além da sua meta. A pedagogia tem a tarefa de ajudar a encontrar um equilíbrio nessa ligação. A esperança, que está ligada com o corpo físico, recebe da pedagogia um impulso em direção à força da fé. A fé e a confiança, enraizadas na gratidão, ajudam a criança no equilíbrio do processo de se ligar ao corpo físico.
Aos sete anos a criança entra num novo período: falamos do nascimento do corpo etérico, vital. O que a criança necessita desenvolver nesta fase? O corpo etérico é o portador das forças do amor. A pedagogia tem a tarefa de despertar na alma da criança as forças do amor que já estão ligadas inconscientemente ao seu corpo etérico. O corpo etérico está em equilíbrio entre o físico e o anímico e não necessita de uma outra força polar para encontrar o seu equilíbrio. Necessita despertar a força de amor que já tem em si. A criança traz da primeira infância as forças de confiança, de veneração, que se formaram a partir da gratidão. É uma experiência muito tocante ter o encontro com as crianças do primeiro ano escolar, quando elas no Ato Dominical falam: „Eu quero procurar o Espírito de Deus. “ Com esta atitude religiosa a criança inicia o caminho na escola. A tarefa agora é ajudar a criança a despertar sempre mais a força do amor, expressa na simpatia a tudo o que é bom e belo, e antipatia por tudo o que é mal e feio. A criança se orienta por adultos que reconhece, de uma maneira natural, como autoridades. Já não aprende pela força da imitação, como na primeira infância, mas recebe a orientação pelos gestos morais que vivencia em tudo o que fazemos ou falamos. Percebe o significado verdadeiro das coisas. Não o significado intelectual, mas o significado anímico espiritual, o significado moral. O que é bom, e o que é mal? O que é belo, e o que é feio? Temos uma grande responsabilidade de não transmitir a nossa opinião subjetiva das coisas, mas tentar transmitir valores humanos. Não se trata de ensinar normas, regras, mas de direcionar as forças da simpatia e antipatia, de despertar as forças do amor. A criança vai desenvolvendo o amor pela natureza, depois pelas outras pessoas, pelos amigos, até que chega ao âmbito do corpo na maturidade sexual.
Aos 14 anos falamos do nascimento do corpo astral. As forças do amor, que se desenvolveram no segundo setênio, estão agora livres como simpatia e antipatia, e como maturidade sexual. O jovem começa o caminho de procurar um sentido na vida, de procurar os seus ideais, de procurar a si mesmo. O corpo astral, como corpo da fé, procura relacionamentos anímicos, necessita de uma orientação espiritual. O nascimento do corpo astral, do mesmo modo que o nascimento do corpo físico, necessita de ajuda para alcançar um equilíbrio. Surge o risco de se ligar em demasia com o anímico espiritual, no âmbito das simpatias e antipatias. A pedagogia tem a tarefa de proporcionar um equilíbrio, ajudando o jovem a desenvolver uma dedicação ao atuar no âmbito físico, a desenvolver o amor pelo trabalho, pelas obrigações e ao compromisso que ele mesmo se impõe, ou que a vida lhe traz. É importante para o jovem superar o impulso de ter simpatia apenas por aquilo que no âmbito físico lhe é agradável, que traz prazer; assim como superar a antipatia por aquilo que é desagradável, que traz sofrimento. O corpo físico traz a possibilidade de fazer algo aqui na Terra, de trabalhar no mundo. No momento que o corpo astral nasce e a alma desperta para a procura de um sentido para a vida, o jovem necessita de ajuda para desenvolver o amor pelo trabalho e a força de vontade para atuar no mundo. O que se pode encontrar como meta da vida, como os próprios ideais, necessita criar raízes na Terra. É preciso descobrir que vale a pena atuar no mundo, trabalhar no mundo, para criar um futuro. Para isto é necessário ter uma esperança nesse futuro, reconhecer um sentido para esse futuro, para desenvolver o amor pelo trabalho, se tornar ativo e que que cada um realize a sua contribuição nesta vida. O nascimento do corpo da fé necessita do equilíbrio pelas forças da esperança, encontrando um sentido na vida e desenvolvendo o amor pelo atuar no mundo.
A partir dos 21 anos entramos no caminho da vida como adultos. Todos temos, a partir de então, os nossos corpos desenvolvidos. Aquilo que na pedagogia foi uma orientação para ajudar as crianças e os jovens, pode continuar sendo uma orientação para a nossa própria autoeducação. Também como adultos precisamos desenvolver a gratidão, o amor e o impulso de atuar no mundo. Da gratidão pode surgir relacionamentos de confiança e fé. Do amor pode surgir a responsabilidade pela natureza e pelos outros. Do impulso de atuar no mundo pode surgir a esperança num futuro que faça mais sentido.
João F. Torunsky