Vivem hoje mais de 8 bilhões de pessoas em nosso mundo. A Terra tem recursos suficientes para alimentar todas essas pessoas?
Em primeiro lugar, poderia parecer que se trata aqui de uma questão de vida econômica. Lá se deveria pensar em como resolver o problema. Mas na verdade é também uma questão religiosa.
Os povos antigos viviam com a ideia e o sentimento de que o mundo (ou a natureza ou a mãe Terra ou qualquer outro termo que tenham usado no passado), o mundo ou ambiente em que viviam era capaz de dar às pessoas o que elas precisavam para viver. Os povos antigos entendiam que o alimento que dispunham era uma dádiva dos deuses ou um presente de Deus. O mundo, entendido como reflexo do mundo divino, dava ao ser humano o que ele necessitava para se alimentar.
Era certo também que o ser humano tinha que fazer algo para tanto: sair para caçar ou cultivar sua terra, por exemplo. Mas subsistia a convicção básica de que o que precisávamos provinha da mão de Deus.
Hoje a atitude é em geral a oposta: Os recursos do nosso mundo são limitados e estão se tornando cada vez mais escassos. Como serão distribuídos no futuro? Quem receberá algo e quem não?
Aqui já se manifestam também as questões de poder (sobre os recursos) e as posturas egoístas (sobre a maneira de reparti-los). Tais pensamentos, por si só, começam a gerar incertezas, preocupações e medos.
Como vimos na narrativa do Evangelho de Mateus, esta é a primeira pergunta feita pelo adversário ao Filho de Deus no deserto. Ele se deixou levar pelo medo? Ele se curvou ao príncipe deste mundo, que queria lhe oferecer o poder para resolver os problemas por métodos e meios que levam em conta em primeira instância as circunstâncias terrestres?
A questão que foi proposta no deserto continua a ser atual. Ela nos é colocada cada vez de novo. Viemos a este mundo para ficarmos presos no medo e na insegurança sobre como ganhar a vida? Ou existe a possibilidade de redescobrirmos a confiança básica nas forças divino-espirituais, para que possamos dizer: O homem não vive apenas do pão do medo ou do pão do egoísmo, mas da confiança de que viemos a este mundo para buscar e reconhecer no mundo estas forças divinas.
Renato Gomes
Pastor da Comunidade de Cristãos em Havelhöhe, Berlim (Alemanha)