Referente ao perícope do Evangelho de João 21, 15-25
A árvore do conhecimento cresce junto com a árvore da vida: a cruz de Gólgota.
De um lado Eva, do outro Maria.
De um lado os descendentes de Adão.
Do outro lado os descendentes do Cristo, portadores do Eu Sou.
Hilde Domin expressou o profundo mistério do Natal nas seguintes palavras:
O que devemos fazer aqui com a Palavra é tomá-la pelas raízes, invocando-a a cobrir todo o globo terrestre, para que conceda sua força unificadora numa conquista, única no mundo, que não gera o chorar, mas o sorrir.
Nem sempre temos consciência de que quando vemos uma árvore com sua frondosa copa, também uma frondosa raiz debaixo da terra está mantendo sua vida. A copa em cima e a raiz em baixo formam uma unidade de vida. Esta unidade de vida é representada na imagem da árvore que cresce da união das árvores do conhecimento do bem e do mal e da árvore da vida. Este é um estado dos primórdios e do futuro da humanidade. Também esta unidade é representada no mito nórdico da árvore universal, a Weltenesche.
Também o ser humano – tendo sido gerado pela palavra divina, pelo Logos – não é só o que podemos perceber com os nossos sentidos, no mundo entre os portais do nascimento e da morte, mas as suas raízes se encontram no mundo divino espiritual. Nem sempre elas se revelam à alma humana. Mas justamente na época de Natal, na noite dos tempos, a alma humana deve acender, despertar a sua consciência espiritual para vislumbrar a sua origem divina, a sua frondosa raiz celeste. O portal para vivenciar este mistério de vida do Natal são as três celebrações na noite do dia 24 (conhecido como o dia de Adão e Eva) e o dia 25 de dezembro. Para tal, a consciência humana em vigília acompanha o levantar do sol desde o momento em que, imperceptível aos sentidos humanos, começa a se levantar do outro lado da Terra (primeira celebração), até quando desvanece as trevas na aurora (segunda celebração) e estabelece o novo dia (terceira celebração). Estas celebrações nessa noite correspondem à vivência do sol à meia-noite, como conhecida nas antigas iniciações. A alma humana em vigília e em devoção na profunda noite dos tempos está apta a receber a força da palavra divina primordial, a força da vida. Está apta a receber a substância divina dos quatro Evangelhos, que formam a unidade de vida do Cristo. Nestas três celebrações, representando todo os quatro Evangelhos, são lidas as passagens do seu começo (1º capítulo de Mateus), do seu meio (2º capítulo de Lucas) e do seu final (21º capítulo de João). Assim neste momento festivo do ano se revela paradoxalmente por um lado o elemento eterno da vida e por outro lado sua manifestação no curso dos tempos. Esse elemento eterno perdura durante as 12 Noites Santas, desde a noite de Natal até a noite que introduz a festa da Epifania.
A alma humana pode a cada ano afinar os seu sentidos interiores para poder perceber na noite dos mundos o que quer se manifestar no futuro da Terra. Afinar o seu coração para tomar a palavra, o Verbo divino pela raiz para poder vir a cobrir todo o globo terrestre com a substância de paz. Embora ainda imperceptível, isso será o aflorar de um novo dia, de um dia de paz, de um dia de louvor, onde não haverá mais lágrimas. O dia do Eu Sou divino, que cobrirá, que conquistará toda a Terra, todas as criaturas, que cantarão juntas um hino de louvor continuando a obra divina da vida junto com as hordas angelicais.
Helena Otterspeer