Referente ao Evangelho de João 8, 48-59
Admiramos uma rosa por sua beleza e perfeição. Cada rosa, em sua existência, realiza todo o potencial do seu ser e todas as rosas em todos os tempos repetem esse ideal num eterno retorno. Isso é o que acontece com todas as plantas e animais. Já o ser humano se caracteriza não pela sua perfeição, mas pelo seu constante aperfeiçoamento, ou pela sua condição de liberdade, também pela sua degeneração. A condição de cada um de nós, como seres humanos, nos leva inelutavelmente a questionar sobre nossa origem e sobre nosso destino. Se sentimos íntima e profundamente que não somos meros seres casuais numa existência efêmera e repetitiva diante do Universo, mas seres espirituais e eternos em constante aperfeiçoamento, então as afirmações de Jesus nessa disputa com os líderes religiosos judeus, relatada na passagem do Evangelho de João acima indicada, nos traz a essência do que significa ser humano. Jesus afirma existir antes de Abraão e se declara “Eu sou”, o que é uma referência direta ao nome de Deus no Antigo Testamento. Essa reivindicação de divindade de Jesus pode nos encorajar a refletir sobre nossas próprias crenças. Ele não é apenas um sábio, um mestre ou mesmo um profeta, mas é o Filho de Deus. É a entidade divina que veio à Terra para redimir a humanidade de sua condição indigna de separação do mundo divino. Essa afirmação junto com o fato da Ressurreição forma a essência do que chamamos Cristianismo. Como dizia Paulo, se não houvesse acontecido a ressurreição de Cristo, toda nossa fé seria em vão. E se considerássemos todas as afirmações de Cristo e mantivéssemos a ideia de que ele era um mestre, um líder espiritual, enfim um homem especial, mas nada mais que um homem, então poderíamos considerá-lo um louco como os fariseus e escribas o consideraram e assim o Cristianismo perderia toda a razão de existir. A nossa profissão de fé baseia-se no fato de Ele ser o Filho de Deus. Ele é o “Eu sou”, Ele é a promessa do destino de cada ser humano, que não completará sua humanidade se não vier a realizar o “Eu sou” em si. Esse é o nosso próprio destino. É o que nos mantém firmes no propósito de nos aperfeiçoarmos e nos aproximarmos cada vez mais de nossa humanidade, a exemplo daquele que veio e nos mostrou o que é ser plenamente humano e ao mesmo tempo divino.
Carlos Maranhão