Reflexão para domingo, 4 de agosto de 2024

Evangelho de Mateus 7:1-14

Numa densa floresta ao entardecer, a luz dourada filtra-se através da copa das árvores altas,
lançando sombras salpicadas em um riacho tranquilo que flui suavemente sobre pedras lisas.
No primeiro plano, uma pessoa senta-se calmamente sobre uma grande rocha, meditando
com os olhos fechados, cercada pelos sons dos pássaros e pelo farfalhar das folhas. A quietude
e a tranquilidade da cena estimulam esse indivíduo a buscar a essência de não julgar e
simplesmente ser. Essa imagem nos remete ao chamado do templo de Apolo na Grécia antiga:
“conhece-te a ti mesmo”, que aponta, no transcorrer da história da humanidade, ao propósito
de o ser humano alcançar, no cume da sua evolução, o fundamento do seu próprio ser. 
Enquanto permaneço no dualismo da condição terrena, sem o vínculo com esse
fundamento, faço julgamentos sobre mim e sobre os outros, mas, desse modo, dificilmente
conhecerei a mim mesmo ou ao outro, pois eu não posso de fato fazer julgamentos. O preceito
de Cristo no Sermão da Montanha, “não julgueis para que não sejais julgados” não é apenas
um preceito moral a ser obedecido. Trata-se da condição natural do ser quando alcança a
plenitude do seu próprio ser. Ele não julga mais, ele só ama, e não é que ele ame por
obediência a um preceito, ele ama porque essa é a condição natural do seu ser. No ser puro
ele resgata a sua unidade com o todo, do qual se separou pelo pecado original, entendendo-se
este como viver num mundo separado do divino – um fato, na verdade, impossível, portanto
ilusório – o mundo de Maia. 
Na nossa vida comum, isso parece algo impossível, pois estamos sempre fazendo
julgamentos com base em sentimentos pessoais, ideias preconcebidas, crenças etc. Será que é
possível imaginar a liberação que poderia ser vivida, caso tivéssemos a experiência do puro
ser, desprendendo-nos de todas as amarras psíquicas, sociais, morais? Essa é a proposta de um
caminho meditativo, de silenciar esse ego julgador. Para isso, não necessitaríamos fugir do
mundo, exilarmo-nos como um eremita numa caverna, mas meramente ter a disposição de
separar momentos no nosso cotidiano para contemplar a natureza em busca de puramente
ser.

 Carlos Maranhão