Reflexão para o domingo, 10 de maio

“A mulher, quando está para dar à luz, sente tristeza porque é chegada a sua hora; mas, depois de ter dado à luz a criança, já não se lembra da aflição, pelo gozo de haver um homem nascido ao mundo.”

João 16, 21

O parto de uma criança é um processo arquetípico para todos os fenômenos que têm relação com um caminho de desenvolvimento. Um dos aspectos do desenvolvimento é que ele pode trazer dor e sofrimento. Por incrível que pareça, em relação ao parto, existem realmente mulheres que não se recordam da dor, do sofrimento quando deram à luz. Com certeza outras mães nunca se esquecerão destas aflições. Mas seja como for, o sofrimento durante um parto tem um significado único: ele é necessário para que a criança possa nascer. O nascimento da criança, como fato, dá um sentido ao sofrimento da mãe.
Este é um processo arquetípico que podemos reconhecer no parto de uma criança e que podemos observar que se repete em todos os processos de desenvolvimento que percorremos individualmente durante a nossa biografia. Em geral a dor, o sofrimento, a aflição, que são necessários para o nosso desenvolvimento, se mostram muito claramente. Mas aquilo que de futuro está nascendo nem sempre se mostra tão evidente em nossa vida, como ocorre na gestação e no parto de uma criança. Por isso, quando estamos sofrendo e concentramos toda a nossa atenção apenas no sofrimento, corremos o risco de entrarmos em desespero. Pois um sofrimento que não tem a qualidade das dores do parto, ou seja, que possibilita o nascimento de algo novo, não faz sentido. Sofrer sem reconhecer um sentido no sofrimento é o que pode nos levar ao desespero.
Durante um sofrimento é necessário procurar viver com a pergunta: o que está querendo nascer de futuro em nossa vida? A resposta não receberemos necessariamente de imediato. Do mesmo modo, a mãe nem sempre tem um sentimento nítido de qual individualidade ela está servindo para que possa nascer. Só depois do parto, acolhendo o bebê em seu colo, ela poderá ver quem é aquele que estava formando um corpo em seu ventre e que agora vem ao mundo. Assim também acontece conosco, quando às vezes temos de viver muito tempo com a pergunta e somente depois de termos passado por todo um processo de desenvolvimento podemos reconhecer em qual nível de nosso ser conseguimos agora dar à luz.
A gestação leva a mãe a saber imediatamente que uma criança quer nascer. As gestações pelas quais passamos durante a nossa biografia nem sempre despertam a nossa consciência para o novo que quer nascer. Temos que, conscientemente, prestar a atenção, viver com a pergunta, abrir a nossa alma para ter um presságio daquele que está querendo nascer em nós. Perceber que todos estamos grávidos de um ser, todos estamos sofrendo as dores do parto do nosso próprio Eu.

João F. Torunsky