Reflexão para o domingo, 10 de novembro de 2024

Figura: Miniatura do manuscrito Magius do monge Beatus – Século X

Referente à perícope do Apocalipse de João 7, 9-17

Não é notável o que João presenciou no reino divino: a congregação de vários seres divinos e almas humanas, as de falecidos, para juntos celebrarem o culto? Sim, João Evangelista vivenciava um culto divino em que o centro – o ‘altar’ com o trono e o Cordeiro – estava resguardado em um espaço de calma e silêncio, guardado pelos quatro anjos (como descrito no início do capítulo).

Bem próximo ao trono e ao Cordeiro, estavam os quatro seres viventes, os anciãos e então a multidão incontável de todas as raças, nações e povos vestidos de branco, com folhas de palmeira nas mãos.

As vestes brancas das almas humanas, lavadas no sangue do Cordeiro, representam sua natureza espiritual compartilhada com a do Cordeiro e alcançada pela superação das provas do destino. Essas vestes representam a parte da natureza do Cristo que conseguimos vestir e nos apropriar na vida terrena. É a veste que nos foi preparada por Cristo para formar o nosso corpo da ressurreição.

A multidão cantava com os anjos um hino de louvor, reconhecendo o princípio de vida e de transformação que irradiava do altar para sempre, em todos os ciclos dos tempos. Que consolo para João, que vivia no exílio perseguido em tempos conturbados, poder vivenciar no dia do Senhor, no domingo – quando semana após semana ele havia celebrado a eucaristia como sacerdote em Éfeso com sua comunidade – que no mundo divino também se celebrava o mistério da morte e ressurreição para a salvação da Terra e da humanidade.

Certamente, esse culto celeste ressoava com todos os cultos celebrados aos domingos nas comunidades cristãs de diversas regiões. Nenhum regime político, ameaça de prisão ou condenação, nenhum ataque de forças adversas poderia diminuir a enorme fonte de luz e vida que dali irradiava.

Todos os seres envolvidos estavam intrinsecamente ligados ao projeto da humanidade desde os seus primórdios, com a promessa de um futuro grandioso, no qual as almas humanas poderão entoar um cântico novo junto aos seres divinos, e serão acolhidas para sempre na comunidade dos seres divinos.

Os quatro seres viventes são querubins que, a partir do âmbito do zodíaco, prepararam a humanidade e a alma humana individual, desde tempos remotos, para que um dia possam receber o espírito em si. São seres que inspiraram os quatro evangelistas para a divulgação da palavra viva do Evangelho. Os anciãos são os guardiões dos frutos da evolução humana e aqueles que promovem seu futuro.

Nunca deixemos de elevar nossos olhos para esse âmbito onde o Cordeiro e aquele que está sentado no trono reúnem todos os seres e potências espirituais para o milagre da transformação e superação das forças da morte e do mal. Isso acontece quando nos reunimos em torno do altar. Esse é também o âmbito em que o nosso próprio eu desperta e começa a viver em comunhão com todos os seres vivos.

                               Helena Otterspeer