Reflexão para o domingo, 18 de outubro

Referente ao perícope do Apocalipse de João 19

“Existe uma definição de indigeneidade, na minha perspectiva, que vai além de ser um indigena nativo de um certo lugar. Trata-se de ser nativo, nascer como um ser humano, algo que é muito mais antigo e inclui todos, inclui cada ser humano.”

Gregory Cajete

Professor universitário, educador indigena do Novo México, EUA

No pensamento deste educador, nascido na comunidade indígena de Tewa, percebemos que ele aponta para a terminologia “ser nativo” vinculada a outro termo, “povos nativos”, muitas vezes usados para denominar os povos indígenas originários deste continente. No pensamento de Gregory Cajete vive a ideia de que todos somos nativos de algum lugar e que em verdade é fato inerente a todo ser humano ser nativo do nosso mundo, nativo da Terra. Esta é a vivência primordial que todos compartilhamos, independente do lugar de nascimento. De nossa origem espiritual viemos à Terra para nos tornarmos nativos humanos. Nosso mundo é um só, apesar de sua imensidão e da diversidade de regiões e paisagens que nele existem. Trata-se, portanto, de um conceito simples e antigo, que os povos que habitavam este continente já o cultivavam em sua cultura.

Ao mesmo tempo, é um conceito moderno e em certa medida, futurista, pois faz-se necessário na atualidade e nos próximos tempos que tomemos seriamente este princípio. Todos compartilhamos o mesmo mundo. Quando o destruímos, quando o contaminamos, quando queimamos (ou deixamos queimar) estamos destruindo, contaminando ou queimando o nosso próprio ambiente nativo. Derrubar a floresta, queimar o pantanal, drenar os manguezais é como derrubar, queimar e soterrar nossa própria casa, fazer tudo isto com um local importante e significativo para todos nós. Não querer perceber este fato faz parte da miopia e da ganância que assola os tempos presentes e se alastra pelo mundo com consequências mais nefastas ainda que a própria pandemia dos tempos modernos. Somos nativos da Terra, filhos da Terra. Viemos aqui para aprender isto: a conviver em harmonia com a Terra e com os demais seres humanos que nela vivem!

Todo o capítulo 19 do Apocalipse nos remete a uma situação que pode encontrar na atualidade seus paralelos. Menciona inicialmente a grande “corrupção” que havia se instalado sobre a Terra e que chegou o momento de levantar a voz e atuar com “cetro de ferro” diante das infidelidades e mentiras que o próprio ser humano acabou criando. Pois, o ser humano se torna infiel em sua relação com própria Terra, quando a explora e a destrói; se torna insincero quando engana a si e aos demais com mentiras sobre os motivos pelos quais promove esta destruição. Na visão do cavaleiro montado no cavalo branco, que é fiel e verdadeiro, aparecem também aqueles que querem elevar sua voz e combater a seu lado. No contexto do apocalipse, estes, que estão vestidos de linho, vêm de todos os povos, línguas e nações da Terra. Trata-se de um empreendimento comum a todos! Todo “nativo da Terra” – parafraseando o prof. Cajete – é chamado a tomar consciência do que se passa a nossa volta e com coragem buscar impulsos para nosso atuar. Eis aqui um dos muitos desafios (micaélicos) de nossos tempos!

Renato Gomes

Esta reflexão está dedicada ao Cacique Raoni Metuktire, líder indígena brasileiro da etnia caiapó, que recentemente teve o seu nome indicado para o Prêmio Nobel da Paz, mas lamentavelmente não foi laureado. De qualquer modo sua longa e fiel luta pela Terra tem um enorme valor para todos os que de fato se sentem “nativos” da Terra.