Reflexão para o domingo

Reflexão para domingo 26 de abril de 2020
Referente ao pericópio: João 10,1-21

É notório que Jesus seja “o” bom pastor, não um bom pastor. Ele é único assim como cada um de nós é único. A imagem de sermos pequenas ovelhas que seguem cegamente um pastor é incômoda pois denota um espírito de rebanho, em que todos são iguais e preservam uma consciência de massa. Mas trata-se de um equívoco interpretar a parábola sob esse ponto de vista. O bom pastor atenta para cada uma das ovelhas e, caso uma delas se perca, ele vai atrás daquela que se perdeu para resgatá-la. A parábola não é literal, pois cada individualidade tem o livre-arbítrio de seguir ou não seguir, mas o não seguir traz consequências que levam a situações em que se desperta o desejo de retorno e de seguir. Há também que se reconhecer a voz do pastor e a voz do ladrão. Distinguir entre o chamado de Deus e o chamado do mundo. O pastor não dirige as ovelhas por trás, mas as precede para mostrar o caminho. O ladrão se espreita para levar o que não lhe pertence, mas usa de subterfúgios para enganar, seduzir, desviar.
Como “pastor”, Jesus não representa um Deus distante e inacessível, mas garante a verdade para a alma que o busca. Em outras palavras: como bom pastor, Jesus não representa uma doutrina, uma tradição, um conceito metafísico, mas a própria substância espiritual da qual partilhamos e almejamos. O ser o bom pastor pertence a uma das afirmações do “Eu Sou” no Evangelho de João, e é, portanto, uma das formas de nos aprofundar e realizar, em liberdade, a nossa identidade como filhos de Deus. Em tempos de crise, em que surge o sentimento de abandono, de medo, de insegurança diante do futuro. O sentimento de que estamos protegidos por aquele que nos conhece melhor do que nós mesmos nos conhecemos não é apenas alentador, mas fundamental para adquirirmos força interior para enfrentar todas as dificuldades. O bom pastor é aquele que nos dá essa força, nos protege, nos guia e aponta para um futuro melhor.

Carlos Maranhão