Reflexão para o domingo, 2 de março

Referente à perícope do Evangelho de Mateus 17, 1-9

No mundo terreno, a luz do sol, que tudo ilumina, permite-nos ver o que antes estava envolto em escuridão. Essa imagem é uma metáfora perfeita para o nosso processo de cognição: a luz do espírito ilumina nossa alma, permitindo-nos enxergar o que antes não víamos e compreender o que antes não compreendíamos.
No Evangelho de Mateus, no alto de uma montanha, Pedro, Tiago e João veem algo que até então lhes estava oculto: Cristo transfigurado, seu rosto brilhando como o sol, suas vestes resplandecendo como a luz. Eles já caminhavam com Jesus, já haviam ouvido suas palavras e testemunhado seus milagres, mas ainda não haviam enxergado plenamente quem Ele era. Quando veem Moisés e Elias ao seu lado, Pedro sugere erguer tendas para os três, como se fossem iguais em estatura espiritual. É então que a voz de Deus ressoa, assim como no batismo: “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo; a Ele ouvi!” A visão desaparece, e resta apenas Jesus. Essa experiência não foi uma mera visão gloriosa, mas uma correção da percepção dos discípulos. Moisés e Elias foram servos de Deus, precursores de Jesus Cristo, mas este é a própria plenitude da revelação divina. O que os discípulos viram no monte não era um Jesus diferente, mas o mesmo que já conheciam, agora iluminado pela luz da verdade.
E aqui nos perguntamos: será que também precisamos dessa correção? Vivemos em um tempo onde a fé se dilui entre tantas vozes, onde Cristo é muitas vezes colocado ao lado de outros grandes mestres, como se fosse apenas mais um entre tantos. Pode ser que não o comparemos com Moisés ou Elias, mas talvez o tratemos como um sábio moralista, um líder inspirador, um símbolo entre outros. A transfiguração nos chama a perguntar: vemos Cristo como Ele é, ou apenas como gostaríamos que fosse? No alto da montanha, a luz revelou a verdade. No vale da vida cotidiana, essa revelação precisa transformar nossa visão. Não basta admirar Cristo ou reconhecê-lo como um grande mestre; é preciso ouvi-lo, segui-lo e deixar que sua luz nos ilumine. Pois, no fim, quando todas as outras vozes se dissipam, não vemos mais ninguém, senão Jesus.

Carlos Maranhão