Época de Trindade
Referente ao perícope de Lucas 18, 35-43
Ele está sentado à beira do caminho. Todos os acontecimentos se passam a sua frente, sem seu envolvimento. Ele não acompanha o fluxo dos acontecimentos, não pode participar no desenvolvimento porque é cego. Apesar de todos os seus esforços ninguém o percebe, ele se encontra à parte de tudo, carente em todos os sentidos. Mas ele não desiste e uma vez pergunta: “O que se passa?”
Ele ouve falar que Jesus de Nazaré está passando e a multidão O está seguindo!
Já há algum tempo ele tem aprendido a discernir o essencial do transitório. Apesar de seus olhos não estarem abertos para a luz do mundo, ele se orienta por um compasso interior, o seu coração! Em algumas ocasiões pôde perceber a verdadeira intenção de outras pessoas, as tendências da época! Ele aprendeu também a valorizar e ser grato pela sua simples existência, independente da sua pobreza e das difíceis provações do destino. Jesus de Nazaré… não é ele o Filho de Davi? Com este questionamento a luz e calor de seu coração brilham mais forte. Ele acredita na profecia de que o Messias, o Cristo, o Ungido de Deus vai aparecer e trazer o Reino dos Céus para a Terra. Ele sabe porque sente em seu coração a tênue luz interior, que considera a semente terrena do reino prometido e esperado. Ele sabe que o Messias tem o poder divino de sanar e reger sobre todo o mundo. Logo eleva ele sua voz bem alto: “Filho de Davi, tenha misericórdia de mim!”
Bem-aventurado os pobres de espírito porque deles é o reino dos céus! Isto nos ocorre com o chamado do cego, pois ele é ouvido por Jesus, que apesar da resistência das pessoas em volta vai de encontro ao cego e o leva a um lugar confidencial. Lá a pergunta de Jesus: “Que queres que te faça?” E a resposta direta do cego: “Que eu veja!” E Jesus Cristo apenas confirma o que já havia sido germinado naquele homem, ou seja, a fé, que agora aumentaria ainda mais, e a nova visão espiritual, o conhecimento da realidade da ressurreição, a única força capaz de sanar e renovar. Assim renasce o Novo Homem das alturas espirituais, como Jesus esclarecera na sua conversa com Nicodemos (João,3). Este Novo Homem reconhece e caminha com o Cristo, o segue. No seu Eu revela-se o Reino dos Céus com todas as qualidades divinas do Logos primordial. Este EU SOU pode atuar no mundo com a qualidade da Criação Divina primordial. Agora em tudo que fizer poderá se manifestar o Reino dos Céus na Terra para o evolver do mundo, para a vida no grande organismo da Terra! Agora ele não está mais isolado nem à margem dos acontecimentos, mas no seu EU Sou divino percebe o ponto em que uma alavanca poderá erguer toda a criação, salvá-la, redimindo-a.
Esta é a história de cada um de nós, pois ainda não realizamos nem reconhecemos o papel-chave do mistério do Gólgota para todo o futuro da humanidade e da Terra, para o evolver do mundo.
Este Mistério é a chave de Davi, que abre e ninguém fecha e fecha e ninguém abre! Esta chave está guardada no EU SOU do Novo Homem. Somos como cegos nesse sentido. O Evangelho anuncia que o Filho do Homem, o Redentor está entre nós e virá ao encontro de cada um. Cabe poder perceber o momento em que passará por perto, para reconhecê-lo e mesmo chamá-lo por SEU Nome para sentir a sua proximidade e ser fortalecido por suas palavras e pela sua presença! O clamor alto pelo Cristo com certeza incomodaria, não seria apropriado nesta época em que ouvimos sobretudo a voz da técnica, da evidência científica, dos imediatos interesses sociais, políticos e econômicos! A mensagem do evangelho é considerada mesmo por muitos obsoleta, capaz de instigar conflitos religiosos. No entanto, ela une aqueles que a acolhem e quem O conhece e profere o SEU nome será ouvido, estará com ELE e fortalecerá a sua fé e reconhecerá tudo sob SUA luz. E quando atuar em seu nome sanará e renovará a vida e todas as criaturas, acima, abaixo e em torno de nós irão louvá-lo!
Helena Otterspeer