Reflexão para o domingo, 23 de junho de 2024

Referente à perícope do Evangelho de Lucas 19:1-10
Zaqueu, o Sicofanta – delator de ladrões de figos

 Na antiga Atenas existiu a função de delator de ladrões de figos. Ou seja, alguém que denunciava pessoas que exportavam figos de Atenas sem permissão oficial. Em grego, o termo é: συκοφάτης (sykophántes), em português, sicofanta. Etimologicamente, sicofanta provém de duas outras palavras, sykon: figo e phaino: tornar evidente.

Um sicofanta era um informante pago, alguém cujo trabalho consistia em delatar outras pessoas. Com o tempo, a palavra passou a ser usada também para os caluniadores, para os chantagistas, posto que muitos sicofantas se aproveitavam da situação para chantagear. Depois, ainda no mundo grego antigo, a palavra passou a ser usada também como insulto.

No relato do Evangelho de Lucas, ouvimos falar de um chefe dos coletores de impostos, Zaqueu, que subiu num sicômoro (um tipo de figueira) para ver Jesus. Em conversa com Cristo, em sua casa, Zaqueu se reconheceu como um sicofanta, um chantagista, mas que estava determinado a mudar e restituir quatro vezes mais à pessoa que enganou ou chantageou.

Zaqueu, o sicofanta, que se tornara um chantagista como os delatores de ladrões de figos, havia subido numa figueira. Em cima da figueira ele foi visto, Zaqueu foi reconhecido no fundo de sua alma por Cristo. Cristo o chama pelo próprio nome, pois o reconheceu. Ele reconheceu nele o chantagista. Ele viu em cima da figueira o delator de ladrões de figos.

E Cristo lhe disse: “Desce rápido daí!” Zaqueu, que fez fortuna à custa dos outros, que construiu sua existência em cima da chantagem, em cima da ganância, precisa primeiro descer de cima da figueira, ele precisa abdicar do que fazia. E Zaqueu fez isso. Ele desceu e convidou Jesus para entrar em sua casa. 

Há três momentos importantes nessa história: O ser humano Zaqueu (1) que se mostra, dá-se a conhecer, (2) que está pronto para descer, para fazer uma mudança na vida e (3) que o convidou à sua casa.

O ser humano muitas vezes gostaria de poder ter um encontro, em sua alma, em seu espírito, com o Cristo, com o  Filho de Homem. Gostaríamos de convidá-lo a nos visitar. Entretanto, antes de convidá-lo, como na narrativa de Zaqueu, devemos também estar cientes de que primeiro é preciso mostrar-se, deixar-se reconhecer (ou, em termos modernos, praticar o autoconhecimento) e que também é preciso estar preparado para descer, estar pronto para mudar e transformar o que ainda está turvo na alma. Só então, após o autoconhecimento, após dar início a transformação, podemos convidá-lo. Porque o Filho do Homem veio buscar e salvar o que no ser humano se extraviou e se perdeu.

Renato Gomes