Reflexão para o domingo, 23 de março de 2025

Referente à perícope do Evangelho de João 6, 1-15

 

A multiplicação dos pães não é apenas uma demonstração do poder divino, mas uma revelação profunda sobre a verdadeira natureza da abundância e sobre como Deus deseja que vivamos nossa relação com os bens deste mundo e com as outras pessoas. A economia tradicional é fundada sobre o princípio da escassez. Desde os primórdios, aprendemos que há recursos limitados e que, para sobreviver, precisamos administrar, competir e acumular. Quem tem o poder de distribuir muitas vezes preserva a abundância para si e deixa apenas as migalhas aos outros. Quem vive na escassez, por sua vez, teme perder o pouco que tem e almeja sempre aquilo que lhe é negado. Essa lógica domina o mundo, mas não o Reino de Deus. No deserto, onde cinco mil homens, além de mulheres e crianças, se reuniram para ouvir Jesus, havia fome e pouca provisão. Mas ali, o Senhor quis nos ensinar um princípio superior. Diante da multidão faminta, Jesus não se deixou dominar pelo medo da escassez. Tomou os poucos pães e peixes que lhe foram oferecidos, deu graças e começou a distribuí-los. E à medida que partia e repartia, a comida se multiplicava. O milagre não aconteceu antes da partilha, mas durante a partilha. Cristo não multiplicou os pães para que cada um acumulasse para si, mas para que todos recebessem o necessário.

Se confiarmos apenas no que vemos e tocamos, viveremos reféns da lógica da falta. Mas se nos abrirmos à realidade espiritual, compreenderemos que Cristo é o verdadeiro administrador da abundância. Ele não apenas reparte o pão material, mas nos dá o Pão da vida. Isso significa que, ligados a Ele, não precisamos temer o futuro, nem cobiçar o que o outro tem. Pois a riqueza que vem de Deus não se mede por bens acumulados, mas pela paz do coração, pela generosidade de espírito e pela confiança de que nunca nos faltará o necessário, quando do coração emana o espírito da verdadeira fraternidade.

 

Carlos Maranhão