Reflexão para o domingo, 24 de janeiro

Época de Epifania

Referente ao perícope João 2, 1-11

Jesus e seus discípulos vão a uma boda (um casamento).

No relato de João, a boda em si não tem muito destaque. O foco dos acontecimentos está na atuação de Cristo em outro âmbito. O fio condutor central da narrativa culmina na expressão “bom vinho”; ainda assim ambos elementos – boda e vinho – estão intimamente relacionados.

Uma boda significa união e interação íntima e profunda entre duas pessoas, mas num sentido amplo, também podemos nos referir à boda, quando falamos da união entre coisas diferentes: a boda entre alma e espírito, entre razão e sentimento; na  esperança de que, dessa boda, nasça algo novo pela contribuição e sinergismo das qualidades de cada parte, algo que jamais nasceria, pelo esforço de cada uma delas separadamente. Podemos até mesmo falar da boda entre circunstâncias  opostas:  Céus e Terra, espírito e matéria, luz e escuridão…

Tomando o último exemplo, podemos reconhecer de maneira explícita, que quando a luz e a escuridão se unem de um modo bem específico e adequado, surgem as cores.

Também em nossa existência terrena, somos levados constantemente a realizar, ou pelo menos a tentar, muitas bodas…

É muito importante cuidar da vida interior, da prática meditativa  e religiosa, como exercício para  o fortalecimento de nossas faculdades anímico-espirituais, do mesmo modo é importante desenvolver habilidades práticas e conhecimentos de como lidar com os assuntos da vida cotidiana, em nosso atuar no mundo da matéria. Negligenciar um ou outro aspecto, conduz à unilateralidades. O ideal é propiciar que aconteça a boda interior entre estes dois elementos latentes em cada um de nós.

É justamente neste ponto que aparece a intervenção de Cristo. A narrativa do Evangelho de João cita que “eles não têm vinho”. Aquilo, que deveria se unir para tornar-se fecundo e produtivo na vida, perdeu a força capaz de amalgamar, de unir para produzir uma interação frutífera. O “vinho”, aqui, representa este elemento mediador.  Pelo próprio texto fica evidente, que sem vinho, a boda não pode prosseguir…

Cristo é que então oferece o “bom vinho”.

Muitas vezes percebemos, em nossa própria vida, que certas coisas que antes funcionavam, deixam de funcionar, diminui-se o entusiasmo, a motivação e “falta o vinho”.  Isto pode acontecer também nas nossas relações familiares, de trabalho ou sociais. Surgem desânimos ou desgastes nas relações e a “boda frutífera” que talvez tenha acontecido no passado, já não acontece mais…

Nestes momentos podemos fazer a pergunta:

Como renovar o “vinho”?

Cristo nos aponta uma indicação, quando responde a sua mãe:

“O que há entre ti e mim?”

Ele pode ajudar. Ele quer ajudar, mas primeiro temos que nos fazer seriamente a pergunta:

Que significado tem a força de Cristo em minha própria vida?

Busco uma interação mais íntima com seu ser?

Procuro um diálogo profundo, que possibilita que algo flua entre “mim e ti”, entre meu ser interior e o ser de Cristo?

Hoje vivemos e notamos em muitas partes o crescimento de antagonismos, de ideias retrógradas, de intolerância e de violência.

Em grande parte, isto é efeito da insegurança e do medo que a própria alma sente em relação aos acontecimentos presentes e às perspectivas futuras.

Tais sentimentos em nada contribuem para favorecer a boda fraterna entre ser humano e ser humano, a boda social na convivência e na justiça entre os povos, a boda solidária na ajuda às necessidades e sofrimentos do próximo, a boda com a natureza no respeito e cuidado com o meio-ambiente…

O “vinho antigo” que talvez ainda circule aqui ou ali, está azedando, não traz alegria, apenas intensifica a embriaguez e o entorpecimento geral.

Urge encontramos o “vinho novo”, o “bom vinho”!

Está em cada um de nós, buscar o diálogo “entre mim e ti”, tomar o impulso de convidá-Lo para a boda!

Daí pode surgir o vinho novo e bom que propcia a boda!

Renato Gomes