Reflexão para o domingo, 24 de julho

Referente ao perícope de Marcos 8, 21 e 9, 1


Batismo: rio Jordão embaixo a esquerda, derramando águas para baixo.

Simão se prepara com seu irmão André para a jornada, partindo da frutífera região da Galileia ao norte para a árida região da Judeia ao sul, seguindo assim o curso do rio Jordão. Jordão significa em hebraico “aquele que corre para baixo, sempre descendo”. De fato, o rio Jordão nasce ao norte nas altas encostas do Monte Hermon, forma o mar da Galileia aos pés da montanha e deságua no Mar Morto no sul da região. Como seu nome indica desce das alturas da sua nascente até as profundezas do Mar Morto, região em que se encontra o ponto mais baixo da superfície da Terra.
Chegando à Judeia, Simão ouve o chamado de João Batista: “mudai os vossos sentidos” e, com seu irmão, é batizado nas águas do Jordão. Também nessa ocasião Jesus é batizado por João Batista nas águas do Jordão. Pouco depois, André e Simão se encontram com Jesus, que logo anuncia que Simão deverá se chamar Pedro.
Jesus e também Pedro e André retornam para a Galileia. Um dia, Jesus vendo Pedro e André pescarem no mar da Galileia reconhece-os como verdadeiros pescadores, ou seja, pescadores de almas humanas e os convoca para serem seus discípulos. Assim, na atmosfera paradisíaca do mar da Galileia com suas margens verdes, André e Pedro seguem Jesus e se tornam testemunhas da Sua nova atuação. Ele cura, libera possuídos dos espíritos impuros e anuncia o evangelho. As palavras de Jesus têm poder imediato; ao serem pronunciadas, logo revelam sua força divina na cura e na transformação do mal em bem. Na casa dos dois irmãos Jesus cura a sogra de Pedro e logo afluem multidões procurando consolo e cura. Pedro também segue seu mestre quando este se retira em lugar calmo para orar…
Chega então o momento em que Jesus concede seu poder aos doze discípulos, que agora são enviados para atuarem eles mesmos em nome do Cristo. Eles poderão agora curar, livrar os possuídos de seus espíritos impuros e anunciar o evangelho.
Jesus segue enfim com seus discípulos para Cesárea Filipi, próxima à nascente pura do Jordão. O que poderia ser uma vivência da força primordial divina nas nascentes puras do Jordão, havia sido pervertido pela presença romana acentuada pela dedicação do nome do lugar ao César. O César usurpava a natureza divina para si e exigia que fosse adorado e venerado como um Deus. Nesse campo antagônico das qualidades de veneração das forças divinas por um lado, e da exaltação dos poderes terrenos por outro lado, Jesus coloca a pergunta mais significativa aos seus discípulos: “O que as pessoas dizem que Eu sou?” E logo a seguir: “E vós, que dizeis sobre quem eu sou?”
Como num relâmpago na sua consciência, abrangendo todos os momentos em que já tinha vivido com Jesus, desde a Judeia com João, até a Galileia como testemunha de Jesus, e agora em Cesárea Filipi, Pedro logo responde: “Tu és o Cristo!” Esta é a verdadeira fonte das águas, da vida pura, o reconhecimento do Cristo em Jesus! Não existe momento mais significativo para um ser humano do que este. Trata-se de um momento de transformação radical, mas também de grande desafio, pois o Cristo na Terra terá que passar pelos vales das trevas, pela morte, para conquistar a nova vida. Este momento pode ser usurpado pelas forças adversas que, evitando o percurso pelas regiões áridas do destino, reivindicam para si o poder divino. Pedro tenta convencer Jesus a não ter que passar pelas provas das trevas e morte na Terra…
Neste sentido este trecho do evangelho inaugura um caminho para a alma humana na segunda metade do ano cristão: o caminho do Jordão. Primeiro das alturas das águas puras para as regiões férteis, ou seja, do despertar da consciência espiritual individual para uma nova atuação sanadora. Depois seguindo pelos áridos vales da Terra, ou seja, pelos escuros abismos do destino até a morte, não para se subjugar as forças da morte como no Mar Morto, mas para poder conquistar a nova vida. Este caminho é percorrido todo ano em dez etapas até a época de Micael. Este caminho dos evangelhos nesta época pode nos fortalecer interiormente ao saber que neste necessário desafio estamos sempre acompanhados pelo Cristo, continuando a levar o Seu espírito na tarefa de cura e de transformação da Terra.

Helena Otterspeer