Referente ao perícope João 16, 24-33
Antes da ascensão, antes mesmo de reaparecer após a ressurreição, Jesus se despediu de seus discípulos e em seu longo discurso de despedida no Evangelho de João, temos sua promessa que, apesar da dispersão e do sofrimento ao qual estariam sujeitos seus discípulos no mundo, eles deveriam ter na consciência que ele venceu o mundo. Jesus não negou que os discípulos no mundo tenham aflições e medo. No entanto, ele não queria tirá-los do mundo, mas queria enviá-los ao mundo como testemunha. Jesus ainda não havia sido crucificado e tampouco ressuscitado. Ainda assim, ele diz: “Eu venci o mundo.” Jesus viu a crucificação e a ressurreição como um fato, embora ainda não tivesse acontecido. A vitória da cruz e a ressurreição aconteceriam nos próximos dias, mas Jesus já via isso como um fato. Esse foi o ponto em que os discípulos tiveram mais problemas. Eles só podiam acreditar se algo já tivesse acontecido. Eles podiam acreditar quando viram por si mesmos. Agora era a hora de começar a acreditar. De fato, eles continuaram tendo dificuldade em acreditar. Eles mostraram isso quando Jesus os visitou após sua ressurreição. Eles duvidavam da ressurreição de Jesus, mesmo quando ele já havia ressuscitado. Jesus queria ajudar seus discípulos a acreditar no que haveria de acontecer. Enquanto vivemos neste mundo, sofremos do poder do mundo: morte, doenças, ódio, rejeição das pessoas, violência, catástrofes, conflitos, crises. Assim como seus discípulos, há momentos em que é difícil manter a confiança de que o poder da morte tenha realmente sido vencido, sobretudo quando ouvimos a cada dia uma contagem mórbida de mortes ao redor. Somente, quando mantemos na consciência a força da ressurreição de Cristo e a convicção de que ele ascendeu aos céus para, a partir das nuvens, das forças etéricas que encobrem a Terra, ele passar a estar disponível para cada um de nós como uma força espiritual, é que nos vem a força que garante ser a morte apenas física. A morte que ele venceu nos garante a vida eterna, e nos garante mesmo antes uma força espiritual de confiança de que o que há de prevalecer no futuro da humanidade é o elevar-se acima do vínculo sombrio com as forças da morte.
Assim, podemos manter a promessa de Jesus em nossos corações. “Mas tende bom ânimo, eu venci o mundo.” Ainda não podemos vencer o mundo, mas podemos acreditar que Jesus venceu o mundo. Temos medo no mundo, mas podemos vencer o medo, porque Jesus é o Senhor do mundo. Em Jesus, podemos ter paz, não importa o que aconteça. O que devemos superar? O que nos assusta? Superamos o medo pela força do Cristo em nós, não meramente pela fé, mas também pela vivência interior do Cristo, ela passa a ser um conhecimento, um reconhecimento, pois desperta em nós a força imbatível do amor que é justamente o contrário do medo e que o impede de penetrar em corações plenos do Cristo. Ele conquistou o mundo para nos dar essa vitória. Ele ressuscitou para que possamos ter vida eterna. Jesus amou seus discípulos até o fim e os ajudou a confiar nele, para que pudessem ter paz nele. A partir dessa convicção, podemos ser testemunhas de que Jesus é o vencedor do mundo. Também podemos compartilhar sua vitória, percebendo-a em nossa vivência de sua presença. Somos vitoriosos porque compartilhamos sua vitória.
Carlos Maranhão