Referente à perícope do Evangelho de Marcos 7, 31-36
Uma semente de maçã, ao germinar, torna-se uma macieira. A ordem da vida estaria abalada se essa semente não germinasse e do germe não se desenvolvesse uma macieira.
A ordem do mundo também estaria abalada se o Verbo Divino, tendo se feito carne e habitado em Jesus, não pudesse ser revelado num outro ser humano.
O surdo de nascença, sem as técnicas de aprendizado modernas e sem a linguagem gestual, nunca poderia ser o portador da palavra, nunca poderia se tornar um verdadeiro homem. Quando Jesus Cristo se aproxima da região de Tiro, a própria comunidade de vida do surdo-mudo o leva ao Verbo encarnado. A sua condição de vida abala toda a comunidade, que busca uma solução, uma cura. Não consiste a condição humana no desenvolvimento de qualidades para se tornar o portador do Verbo Divino no seu cerne interior, no seu Eu? Para isso, o ser humano tem que desenvolver o sentido para poder perceber a atuação da palavra divina no mundo, para ouvi-la e então poder anuncia-la.
Já no Paraíso, Adão e Eva ouviam as palavras divinas. Ao comerem do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, algo próprio se misturou às suas percepções puras, ou seja, seus pensamentos e representações mentais pessoais. Com o advento do materialismo o “ruído“ mental causado pelos pensamentos materialistas na alma impossibilitam a percepção da atuação divina no mundo, da atuação do Verbo Divino. O ser humano moderno se tornou “surdo“ para perceber a palavra divina.
Só o encontro com o próprio Verbo Divino poderá reverter essa condição trágica.
Jesus Cristo conduz o surdo-mudo para um lugar à parte. Para as pessoas da época isso significava um processo de vivência da própria individualidade. Seus sentidos interiores começam a se abrir para essa experiência única. Jesus Cristo, ao tocar os ouvidos e a língua do surdo-mudo com a sua saliva, supera as barreiras de isolamento da percepção pelo tato que traz por um lado uma consciência da doença no surdo, por outro, uma experiência do que poderia ser a cura, ou seja, vivência da força primordial da criação no seu Eu Sou, a vivência do Cristo em si. Nesse momento, Jesus Cristo profere a palavra curadora: “abre-te“! E essa palavra cai na alma como uma semente de vida. A força divina dos céus jorra para a Terra e impregna o surdo com forças curativas! Imediatamente ele consegue falar perfeitamente.
Hoje as palavras dos meios de comunicação se espalham por todo mundo como replicadas automaticamente. No entanto, estamos surdos para ouvir a palavra divina, para ouvir a palavra do Evangelho com os sentidos da alma, não encontramos as fontes de cura e de paz.
Nos sacramentos Jesus Cristo nos leva a um lugar à parte, somos tocados de várias maneiras e podemos ter um encontro íntimo com Ele. Ele abre os nossos sentidos para o Espírito, Ele nos torna portadores da sua Palavra, da sua Vida. E hoje não podemos cansar de anunciar isso com muita alegria e dinâmica, em atos e palavras.
Helena Otterspeer