Reflexão para o domingo, 25 de julho

Época de Trindade

Referente ao perícope de Marcos 8, 27-33.

Nesta conversa com os discípulos, Jesus lhes faz duas perguntas:
“Quem dizem os outros que eu sou?”
e
“Quem dizeis vós que eu sou?”
Trata-se da mesma pergunta, com a diferença de que se direciona a dois grupos diferentes: “os outros” e “vós”, os discípulos.
Poderíamos trazê-la aos dias de hoje e reformulá-la:
Quem dizem os outros…
e
quem dizes tu …
que eu sou?
E neste “tu” cada um de nós, que nos chamamos cristãos, poderíamos nos incluir e sentir que a pergunta nós é dirigida pessoalmente.  O que responderíamos?
Talvez seja mais fácil discorrer sobre o que outros já disseram sobre Cristo: os eruditos, os estudiosos, os grandes pensadores, as pessoas que admiramos ou respeitamos como conhecedores do assunto, ou mesmo um resumo ou apanhado de informações que lemos ou aprendemos em algum lugar de alguma pessoa… Tudo isto seriam respostas acertadas sobre o que “dizem os outros”.
Mas, o que digo eu mesmo?
Que ideias, pensamentos, convicções, certezas ou dúvidas vivem em mim, que me poderiam ajudar a responder esta pergunta?
Questões como estas nos mostram como é difícil discernir o que de fato é produto de nossas próprias conjecturas e o quanto é pura repetição de ideias ou opiniões alheias, que incorporamos, mas que muitas vezes não foram o suficiente trabalhadas ao ponto de haverem se tornado ideais e pensamentos próprios.
Cristo sabe que este é um processo longo na consciência do ser humano e, como um bom mestre, ajuda seus discípulos a se aproximarem da questão. Primeiro Ele os exorta a expressar o que outros dizem e ao expressá-lo, os discípulos percebem que isto não corresponde à vivência que eles mesmo experimentam daquele que caminha com eles. A primeira pergunta é essencial pois prepara a alma para responder à segunda.
A final, depois de identificares em ti mesmo tudo aquilo que lestes ou ouvistes de outros a respeito do ser de Cristo e foste capaz de peneirar tudo isto, o que de fato sobra? O que concluíste por ti mesmo, a que convicção própria chegaste sobre o significado de Cristo em tua vida?
O bom e sábio mestre é sempre aquele que estimula o discípulo a fazer perguntas, de tal modo que as próprias perguntas comecem a apontar em direção às respostas.
Nesta conversa, Cristo não quer testas a inteligência dos discípulos, mas quer ajudá-los a que olhem com atenção dentro de si mesmos e se façam a pergunta central:
Que dizes, que pensas e que sentes em relação a mim?
No ciclo das festas do ano, acabamos de encerrar o período de João Batista, que deu o testemunho de que aquele que havia batizado no Jordão era o Cristo. Inaugura-se agora um caminho de várias semanas que nos conduzirá a época de Micael. Neste caminho temos a possibilidade de deixar ecoar na alma o clamor de João e refletir sobre o significado de, como ele, querer tornar-se testemunha da real atuação de Cristo no mundo. Isto só é possível se formos capazes de responder a nós mesmos:
O que sou capaz de dizer, a partir de minhas próprias convicções, sobre a força, a atuação e a realidade de Cristo, na minha própria vida e na vida do mundo?

Renato Gomes