Reflexão para o domingo, 3 de abril

Época da Paixão

Referente ao perícope de João 8, 1-12

Quando naquele dia o sol se levantou em Jerusalém, o espírito do sol em Jesus Cristo se dirigiu novamente para o templo, o lugar em que o ser humano desde épocas muito remotas podia vivenciar a presença de Deus. Assim, o povo se reuniu ao seu redor disposto a ouvir suas palavras e a se colocar sob a sua luz divina, sob o seu calor. O seu ser se espalhou no âmbito do templo alcançando vários corações, mas também revelando todas as imperfeições humanas. A luz messiânica divina ainda não conseguia ser percebida como um novo elemento espiritual na Terra. Apenas um flamejar momentâneo tocava as almas e logo aparecia nelas a dúvida, a desconfiança, o medo. Ainda hoje as almas humanas ficam muito apegadas às convenções vazias, às tradições antigas e às ideias enrijecidas. O verbo vivo, a luz viva do Eu Sou, que se mostrava por breves momentos, ainda não conseguia despertar a confiança de todos; pelo contrário, em muitos espalhava medo, incerteza, até mesmo ódio. O que então se sucedeu, revelou uma imagem espelhada dessa condição humana. A mulher adúltera foi trazida pelos escribas para o meio do círculo. Assim, tornou-se evidente que a alma humana há muito já tinha rompido a sua ligação existencial com o espírito. Os escribas instigavam a atitude crítica do povo, para que a adúltera pudesse ser castigada com a pena de morte, enquanto Jesus tranquilamente escrevia na terra com o seu dedo. A destrutiva e exaltada atitude dos escribas contrastava com a atividade devota e concentrada de Jesus. Esta última deixava pressentir um futuro em que o ser humano dotado do Eu Sou de Cristo deveria conquistar a faculdade de se transformar, de se superar. Para tal, seria necessário que o ser humano viesse a conhecer-se a si mesmo, trilhasse o caminho do autoconhecimento, que conduz ao encontro com o Cristo. Foi então que os escribas, tendo percebido que eles mesmos poderiam ser tomados em questão, se retiram e a adúltera fica no centro, sozinha com Jesus. Uma imagem tão esperançosa de que um dia a alma humana poderá reatar sua ligação com o espírito, com o Cristo. Esta ligação tornará a alma forte, a protegerá de novos desvios. Dotada da graça e benevolência divina, a alma humana é encorajada a seguir para novas etapas de desenvolvimento, pois grandes coisas estavam acontecendo, assim como acontecem até hoje. Suas palavras ainda podem ser ouvidas hoje, como no passado naquela ocasião: “Eu Sou a luz do mundo, quem me segue não caminhará nas trevas, mas terá a luz da vida.” Podemos hoje, passados dois mil anos, pressentir, imaginar o que isto significa? Somos nós aqueles que se juntam ao Seu redor e que poderão realizar a Sua e a vontade do Pai? Somos aqueles que, a cada novo dia, percebem que agora o espírito do sol entra no templo do próprio coração para transformar e rejuvenescer o mundo?

Helena Otterspeer