Sardes
Recorda!
Já faz muito tempo…
Recorda o que vem antes do teu próprio tempo!
Antes do que me lembro? Não consigo.
Se dizes que não consegues, é porque já estás morto para recordar…
Mas vivo, caminho, faço coisas úteis!
Nada tem utilidade, se não podes recordar. A que vieste?
A que vim? Já não lembro…
Olha minha mão. O que vês?
Marcas, calos do tempo…
Nada mais além disso?
Se fecho um pouco as pálpebras, parece que há um brilho…
Brilho de estrela
Minha estrela?
Pode ser. Depende de ti recordá-la
De repente me sinto pequeno, insignificante, nu…
Toda vida começa nua
E tudo o que fiz, não teve sentido?
Talvez para outros, não para ti.
Então de fato morri?
Não, apenas regressaste de novo ao tempo de nascer,
despido do acessório, focado no miolo.
Me envergonho, pois agora me vejo nu.
Vergonha é esconder algo. Assim mostras o que es.
E o que vês?
Vejo agora o que antes não recordavas,
tua nudez deixa tuas lembranças brilharem.
E agora?
Vem, caminha comigo!
E aonde vamos?
Escrever teu nome no Livro da Vida.
Renato Gomes