Reflexão para o domingo, 31 de maio

Reflexão para domingo 31 de maio de 2020.
Época de Pentecostes
Referente ao Perícope de João 14, 23 – 31

O Ato dos Apóstolos, em seu segundo capítulo, nos conta que no dia de Pentecostes  os discípulos estavam reunidos na casa onde haviam celebrado a Última Ceia e que, subitamente, um fogo dos céus apareceu sobre eles se fragmentando em línguas de fogo que descenderam e repousaram sobre cada um dos doze discípulos de Cristo. A partir deste momento eles ficaram “plenos do Espírito” e começaram a anunciar a Boa Nova de Jesus Cristos a todos os povos.  Eles tornaram-se apóstolos (palavra grega que traduzida quer dizer “enviado”) e, até o final de suas vidas, se dedicaram a levar esta mensagem a todos os lugares que visitaram. Esta “flama divina” jamais se extinguiu de seus corações e de suas consciências.  Desde então a tradição cristã relembra todos os anos, nos 50 dias após a páscoa, a vinda do Espírito Santo.
Na Comunidade de Cristãos, temos o costume de ler na celebração deste dia o trecho final do capítulo 14 que inicia com as palavras:
“… Quem me ama de verdade, guarda minhas palavras”
Podemos refletir sobre esta frase à luz da narrativa do acontecimento de Pentecostes: O que significa “guardar” sua palavra?
– Guardar na consciência, estudá-la, memorizá-la, aprofundar-se na compreensão de seu significado.
– Guardar no coração e deixar que Sua Palavra seja em nós um depurador de nossa alma, um lapidador de nossos sentimentos. Há inúmeras passagens nos Evangelhos, em especial nas parábolas, que podem nos ajudar em momentos de dificuldades, quando sentimos medo, solidão ou angústia. São palavras que trazem fortalecimento e consolo.
– Guardar Sua Palavra no mais profundo do nosso ser e utilizar os ensinamentos de Cristo como impulso para atuar na vida, impulsos para vencer o próprio egoísmo, para atuar de forma coerente na vida.
Tudo isto pode ser entendido a partir desta exortação: “guardar!”
Pode-se ainda ampliar o processo:
No início do evangelho de João, o evangelista se refere a Cristo como o “Verbo Divino”, o “Logos”, ou seja, a “Palavra”. Se tomamos esta expressão não apenas como uma alegoria, mas como uma realidade, significa que a força do ser de Cristo vive na palavra, Cristo mesmo vive em Sua Palavra. Neste sentido, guardar Sua Palavra, significa incorporá-la e incorporá-lo ao mesmo tempo, significa compenetrar-se com esta palavra que representa seu Ser. O texto do capítulo 14 prossegue:
“… e meu Pai o amará, e viremos para ele, e faremos nele morada.”
Guardar a palavra de Cristo é permitir que Ele adentre em nossa alma e que habite em nós, em nossa consciência, em nosso coração, nos impulsos que nos levam a atuar no mundo.
Vimos como o impulso de Pentecostes permaneceu aceso nos discípulos por toda sua vida terrena. Foi esta “chama divina” que os levou a todos os lugares onde deviam ir e lhes deu coragem quando tiveram que superar dificuldades.
Num sentido moderno, podemos dizer que Pentecostes hoje pode ser vivenciado a partir da exortação expressa pelo próprio Cristo no capítulo 14 aos discípulos, ou seja, a todos aqueles que, também na atualidade, querem se tornar Seus discípulos. Pentecostes acontece hoje, cada vez que nos esforçamos para “guardar” em nós algo de seu impulso espiritual. Cada vez que nos esforçamos para vivificar em nós este impulso transformador e nos sentimos imbuídos da vontade de ir ao encontro do outro para ajudá-lo, para consolá-lo, para nos confraternizarmos com ele. Nosso tempo urge por este impulso, urge por seres humanos que estejam imbuídos genuinamente de impulsos fraternos e solidários com o próximo. Tais impulsos devem também se estender a todos os seres da natureza, no cuidado, no respeito e na proteção aos seres vivos e ao meio ambiente.
Pentecostes, portanto, não é uma festa para recordar algo que já aconteceu. Trata-se do desafio diário de cuidar para que Sua Palavra não se perca ou se enrijeça no coração humano, mas que se torne algo vivo, para que a “vida pura de Cristo” vibre como fogo espiritual em nós.
Imbuídos deste fogo, fica então evidente o que Ele mesmo quis dizer ao final desta exortação: “… ergamo-nos, agora podemos sair deste lugar!”
Pentecoste não é algo para ficar limitado a uma pessoa ou a um pequeno grupo ou a um determinado lugar. É preciso sair pelo mundo e levar a todas as criaturas a força espiritual que flameja em Sua Palavra e que se tornou viva dentro de nós.

Renato Gomes