Reflexão para o domingo, 6 de março

Época de Trindade

Referente ao perícope de Mateus 4, 1-11

A existência do ser humano e da Terra obedece a uma sábia ordem cósmica, que pode ser deturpada na vida terrena, no tempo e espaço.
O corpo do ser humano se integra harmoniosamente nos processos de vida da Terra, em todos os reinos da natureza.
Sua alma e seu espírito, ao contrário, vivem nos ritmos ligados às hierarquias angelicais celestes.
As leis de seu corpo são diferentes das leis de sua alma e espírito. Seu corpo, por exemplo, está submetido às forças da gravidade, assim como as simples pedras. As forças da vida, as forças espirituais são as que elevam a natureza terrena para as alturas, como as plantas que crescem, os animais que se movimentam, os homens que pensam e agem livremente.
Desde que o ser humano deixou o Paraíso para trabalhar a Terra, seres adversos, seres caídos, expulsos do mundo espiritual, querem usurpar a corporalidade do ser humano para poder continuar a ter experiências e se desenvolver. Eles criam obstáculos para o desenvolvimento da alma e do espírito do ser humano.
Sendo esses seres mais poderosos que o ser humano, este estaria fadado a abdicar da sua alma e espírito, até a morte definitiva da sua alma.
Sem o espírito a existência terrena vai minguando e definhando como num deserto. Para um tal deserto foi enviado do mundo espiritual o espírito divino criador para restaurar a ordem de vida divina primordial, para que o ser humano supere as forças da morte e se torne um Ser Espírito vivendo com outros espíritos.
O espírito de Cristo é independente, livre, não sujeito a nenhuma influência externa: obedece a si mesmo, se determina a si próprio. Em Jesus Ele trilha e abre o caminho na Terra para que o Eu espiritual do homem possa também vir a agir como espírito de maneira soberana.
O Cristo chega à Terra em Jesus e se depara com a respectiva condição humana da época. O Eu do ser humano estava a ponto de despertar numa condição muito apegada à matéria e à corporalidade. Em outras palavras, a tendência para o egoísmo, ou seja o apego à existência corpórea já se fazia bem forte. Neste momento Jesus se depara com a primeira tentação, sendo impelido a deixar a ordem da vida na Terra pela possível interferência poderosa de Cristo. No entanto, ele se submete humildemente à sua condição humana, consciente ao mesmo tempo da sua meta divina e da colaboração divina incondicional. Jesus Cristo dirá mais tarde: “Tomai com o pão o meu corpo“ Em vez de falar por si, fala por seus discípulos e seus lábios proferem a palavra de Deus, que restaura a comunhão da alma humana com o espírito, o verdadeiro pão da vida.
Também nas outras tentações Jesus não reivindicará seu espírito em prol de sua existência terrena, mas de sua existência espiritual, assim como a de toda a humanidade e da Terra. O caminho do Cristo é o caminho do Eu Sou, cujo único poder é o poder do amor, do sacrifício da própria vida pela vida eterna, pela humanidade, pela Terra.
Diante de todas as ameaças e tentações atuais, confiemos em Cristo, que se revelará na ordem do cosmos, no curso dos tempos, aqui e agora! Com os combatentes na guerra, com os que procuram consolo.

Helena Otterspeer