Época da Paixão
Referente ao perícope de Lucas 11, 14-36
“A candeia do corpo é o olho. Sendo, pois, o teu olho simples, também todo o teu corpo será luminoso; mas, se for mau, também o teu corpo será tenebroso. Vê, pois, que a luz que em ti há não sejam trevas. Se, pois, todo o teu corpo é luminoso, não tendo em trevas parte alguma, todo será luminoso, como quando a candeia te ilumina com o seu resplendor.”
Lucas 11, 34-36
Já faz muitos meses que estamos usando máscaras. Isto nos trouxe a experiência de, na rua, nos transportes públicos, nos supermercados, não ver os rostos das pessoas, mas apenas os seus olhos. Perdemos bastante a vivência das fisionomias, mas podemos observar com mais atenção o que vivenciamos quando vemos os olhos de uma pessoa. Vemos as sobrancelhas, as pálpebras, as pestanas, a forma dos olhos, a íris colorida. Mas de tudo aquilo que podemos ver nos olhos, o mais enigmático são as pupilas. Na própria pupila, em si, não vemos nada; ela é um ponto de escuridão. E exatamente neste nada, na escuridão da pupila, é que temos a vivência de encontrar o outro no seu próprio íntimo. Talvez seja esta a dificuldade que temos ao nos olharmos por muito tempo, um na pupila do outro: a intimidade se torna demasiada. E quão diferente pode ser um olhar: carinhoso, compreensivo, com compaixão, amoroso, ou irritado, magoado, mentiroso, irado, ameaçante, amedrontado. Às vezes podemos sentir como, de um olhar, flui luz e calor, às vezes escuridão e frio. A pupila talvez seja o ponto em que podemos estar mais próximos de vivenciar o eu do outro. Para o mundo sensorial a escuridão é um nada. Mas é o ponto onde revelamos se o nosso coração está repleto de luz e calor, ou se estamos correndo o risco de nos preenchermos de escuridão e frio. A luz do mundo entra pelos nossos olhos e nos deixa percebê-la. A luz do nosso coração emana de nossos olhos e determina o modo como olhamos para o mundo e nos permite impregnar o mundo com o calor do nosso amor.
João F. Torunsky